“Evidência empírica sugere que as medidas relacionadas ao IOF não tiveram um efeito claro e duradouro sobre a taxa de câmbio”, diz o texto, intitulado Experiências Recentes na Administração de Controles de Capitais. No ano passado, o governo brasileiro elevou duas vezes, para 6,38%, o IOF sobre aplicações de estrangeiros no mercado renda fixa, em uma tentativa de conter a entrada excessiva de capital estrangeiro no país.
O FMI afirma que há indicações de que o IOF teve algum impacto na contenção de fluxos de capital especulativos de curto prazo, “possivelmente devido à elevada incerteza sobre outras medidas potenciais que gerou”, e que pode ter tido impacto na composição dos fluxos, ao incentivar fluxos para os mercados futuros. No entanto, o Fundo não vê impacto no longo prazo. Isso pode ser devido ao fato de que a introdução do IOF não provocou uma redução significativa da atuação de não-residentes nos mercados futuros, diz o texto.
O documento cita ainda as medidas adotadas recentemente pelo Banco Central para forçar os bancos a reduzir a posição vendida (aposta na queda do dólar), ao exigir depósito compulsório não remunerado de 60% sobre o valor da posição de câmbio vendida que exceder US$ 3 bilhões. Apesar desse ritmo rápido de intervenção, a moeda teve apreciação significativa no período pós-crise, diz o texto. Estimativas sugerem que o real está significativamente sobrevalorizado em termos reais.
O texto analisa os efeitos das políticas adotadas pelo Brasil e por outros seis países emergentes (Indonésia, Coreia do Sul, Peru, África do Sul, Tailândia e Turquia) em episódios recentes de aumento no fluxo de capital estrangeiro. Segundo o FMI, o forte crescimento econômico após a crise mundial, aliado às altas taxas de juros, fizeram do Brasil um dos destinos preferidos para os fluxos de capital entre os mercados emergentes.
O Brasil dominou os fluxos de capital para a América Latina, diz o documento, ao citar o dado de que, até novembro do ano passado, o país recebeu cerca de US$ 141 bilhões (aproximadamente R$ 227 bilhões), valor bem acima dos US$ 92 bilhões (cerca de R$ 148 bilhões) registrados em todo o ano de 2009.
O governo brasileiro vem desde o ano passado adotando medidas para conter o fluxo excessivo de capitais, que força a alta do real frente ao dólar e acaba reduzindo a competitividade das exportações brasileiras no mercado internacional.
O Banco Central manteve aumentos na taxa básica de juros em 11,75% ao ano e fez intervenções nos mercados, entre elas medidas relacionadas ao IOF. Segundo o FMI, em anos recentes o IOF tem sido uma ferramenta-chave no controle de capitais. O documento diz que, com o aumento da inflação, a política fiscal deixou o fardo para a política monetária no Brasil. De acordo com o FMI, na maioria dos países analisados a política fiscal adotada para responder aos fluxos de capital foi limitada.
No Brasil, a política fiscal permaneceu expansionista até o fim de 2010, inclusive por meio de crédito subsidiado do banco público de desenvolvimento (BNDES), colocando pressão sobre a inflação. O FMI afirma ainda que países como o Brasil (ao lado de Peru, Indonésia e Turquia) – começam a mostrar sinais de superaquecimento, com aceleração do crescimento no crédito e, em alguns casos, inflação, subindo acima das metas.
Especialmente no ano passado, analistas apontaram o risco de superaquecimento econômico no Brasil. Entretanto, em relatório divulgado na semana passada, o Banco Central diz que as medidas já adotadas, como o aumento do IOF, o compulsório bancário mais alto e restrições de crédito, devem levar a uma desaceleração gradual da economia.
As medidas tomadas para conter a expansão de crédito e a inflação no Brasil levaram o BC a reduzir de 4,5% para 4% sua previsão para o crescimento do PIB neste ano. A previsão é de que a inflação fique em 5,6% – acima do centro da meta, de 4,5%, mas ainda dentro da margem de dois pontos percentuais. A expectativa do Banco Central é de que a inflação volte para o centro da meta em 2012.
O texto lançado pelo FMI tem o objetivo de ser um conjunto de regras para orientar os países a lidar com os fluxos de capitais. O controle de capitais será um dos principais temas da reunião de primavera do FMI e do Banco Mundial, que ocorre na próxima semana, em Washington.
Entre as sugestões do documento estão permitir a apreciação da taxa de câmbio quando estiver subvalorizada, comprar reservas estrangeiras, esterilizando o impacto quando a inflação é uma preocupação, e apertar a política fiscal para permitir um relaxamento monetário, consistente com as metas de inflação e caso não haja temor de superaquecimento.
As medidas de controle de fluxos de capital são sugeridas em situações específicas, como por exemplo quando o câmbio não estiver subvalorizado e quando a economia estiver superaquecendo e não houver espaço para apertar a política fiscal.
Durante sua elaboração, o documento foi alvo de divergências entre países avançados e emergentes. Estes últimos queriam evitar a imposição de regras de conduta para controle de capitais. Em coletiva de imprensa para apresentar o documento, os autores ressaltaram várias vezes que não se trata de obrigações, e sim de sugestões aos países sobre como proceder, e que é apenas parte de uma agenda mais ampla.
Os autores afirmaram que o FMI está ciente da necessidade de analisar também o outro lado, ou seja, a fonte dos fluxos de capitais, vindos de economias avançadas cujas políticas monetárias têm efeito sobre o resto dos países.
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