terça-feira, 26 de agosto de 2008

Cracatoa Simplesmente Sumiu

Discursos diversos de um fragmento amoroso
Posted: 25 Aug 2008 10:27 AM CDT
Às vezes ela me olha como se eu fosse um estrangeiro. Nessas horas, sou alguém de muito longe, o primeiro de uma outra espécie a pisar em terra inexplorada. Não apenas o chão recebe meus passos, mas também meus pés nus, nas solas, se entregam ao relevo das pequenas pedras.
Pergunto-me, então, como minha ilha - que parecia tão fixa sobre o oceano - foi parar junto aos barcos. Em momentos tais, eu a olho como se ela fosse uma estrangeira. Alguém que veio da distância, que bate à porta. Não sei onde seu primeiro passo foi dado, mas sei o que dizer: entra, entra com os dois pés por minha porta, descansa em minha cama, bebe de minha água, come de minha comida, habita meu coração que ele é boa morada e tem a janela aberta para as montanhas. Abra as vidraças a fim de arejar os ambientes ou voe a picos mais altos, se for o caso.
Às vezes nos olhamos como dois estrangeiros, que não sabem direito quem são, vindos de diferentes lugares e em país desconhecido. Esses encontros não se sabe como explicar, se coincidência, destino ou tramas inconscientes. Apenas que eles acontecem.
Ou será que nos conhecemos de algum lugar?
DecálogoQue me seja dado, vez em quando, partir doidamente - mas de vontade própria - sem maiores explicações para que, assim, sinta mais que nunca a sua falta, descobrindo que, partir, talvez seja bobagem.
Possa eu recusar um prato de comida que me oferece para, então, sentir fome minutos depois.
E que eu tenha algumas noites solitárias para saber a quem pertence o lado esquerdo, ou direito, da cama.
Alguns telefonemas não serão atendidos porque você já dorme, assim terei a chance de confessar meus sentimentos para as lagartixas das paredes.
Embora seja claro para mim o meu desejo, que seja ele claro também para você.
Que eu possa recostar, à noite, e sentir sua presença, mesmo não estando você aqui.
Nenhuma delicadeza seja excessivamente delicada entre nós a ponto de não conseguirmos segurá-la entre o indicador e o polegar, como a um mamilo, sem quebrá-la.
Nenhuma vulgaridade seja suficientemente vulgar a ponto de, na nossa intimidade, nunca deixarmos de ser uns desavergonhados.
Que eu entenda suas renúncias e que você entenda as minhas. Mas que eu saiba inclusive renunciar ao entendimento quando ele não for possível, pois na maior parte das vezes não é.
Que eu dê apenas aquilo que eu tenha e receba apenas aquilo que você pode dar.
Pausa gastronômicaEis que surge em nossa vida o bolo facinho de milho, pois a vida de duas pessoas pode ser marcada por outras coisas que não emoções fortes, agressões, perdões, amores e outras peculiaridades tão humanas. O ser humano é o único animal que sofre por amor e cozinha:
Uma lata de leite condensado.Uma lata de milho.Três ovos.50g de coco ralado.
Bata tudo no liquidificador, de maneira a moer o milho. Ponha o fermento depois e misture com cuidado com uma colher. Asse. Tende a grudar na forma, por isso ela deve estar muito, muito, muito bem untada.
Lembra muito um bolo de fubá, mas é mais cremoso e molhadinho.
Declarações de pessoas que fizeram e experimentaram a eficiência do Bolo Facinho de Milho:“Quando eu li a receita eu não acreditei. Mas resolvi experimentar, guiada por um impulso. Na primeira garfada já senti os efeitos. Perdi dois centímetros de abdômen e minha musculatura ficou mais definida.” Karen Lovecraft, contadora.
“As mulheres não davam bola para mim. Agora que eu conheço os segredos do Bolo Facinho de Milho, tudo mudou. De uma hora para outra tornei-me garanhão.” Denis Leon, arquiteto.
“Não acredito que gastei tanto dinheiro com iscas artificiais, varas de pescar japonesas e plutônio radioativo. Se soubesse que o Bolo Facinho de Milho me ajudaria tanto eu o teria experimentado antes.” Terence Spacey, cardiologista.
Essas e outros milhares de pessoas experimentaram os benefícios do Bolo Facinho de Milho. Experimente você também.
Sobre tempo Em seis meses passam-se duas estações, milhões de pessoas nascem, milhões morrem, flores desabrocham, árvores dão fruto, o vento sopra para todos os lados empurrando navios e bolhas de sabão em diferentes direções, conflitantes ou harmônicas, pessoas se encontram e se separam, crianças aprendem a andar, a falar, a escrever, a vida de tantos dá uma virada, conhece-se novas bandas, compra-se novas roupas e novos livros, vive-se experiências que jamais se imaginaria, adoece-se e melhora-se, anda-se a pé pela cidade como há muito não se fazia, cogita-se colocar plantas em casa, o céu atinge as mais diferentes configurações e as nuvens fazem todos os desenhos… os seus preferidos… seis meses é o tempo suficiente para pular e voltar ao chão bilhões de vezes… mas creio que ainda não voltei.
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