22 03 2011
O artigo abaixo está na edição 402 do Correio do Metrô.
Obama e a sabujice da mídia
Alfredo Bessow
A recente visita do Barack Obama e sua “entourage”, parafernália que foi da água de beber ao prosaico papel higiênico – em 10 aviões que trouxeram, entre outras coisas, armas, três limusines, helicópteros e toda sorte de parentes, serviu para mostrar uma vez mais, o baixo nível da mídia nacional.
Não houve cobertura jornalística do evento, mas sim uma babação enojante, uma bajulação subserviente e uma devoção típica de dementes e fãs histéricos. Em lugar de buscar informação, os nossos bravos ‘repórteres’ se esmeraram em prestar atenção no vestido da Dilma para saber se estava de acordo com a ocasião, falaram dos cabelos brancos do Obama.
Ele deve ainda agora estar sonhando em ter lá nos EUA uma mídia assim capacha e bajuladora – porque lá, o mínimo que os meios de comunicação disseram foi que Obama e sua família fizeram um exótico tour turístico por um país aliado. Isto ficou patente quando a própria 1ª dama de lá disse que tinha trazido as filhas porque ela costuma levá-las junto para países que, em outras circunstâncias, jamais visitariam.
A nossa mídia revelou todo seu fascínio, portando-se como tietes que esperam no quintal a visita do coronel. Tem horas que sinto vergonha, noutras a minha sensação é de absoluto nojo pela forma como os meios de comunicação brasileiros são subservientes. Eles moram no Brasil, mas vivem 24 horas por dia sonhando e se portando como sub-ianques. Usam toda parafernália descartável, são beócios que se comprazem em babar diante de qualquer coisa vindo de lá.
Hoje, o Brasil é o retrato acabado do colonialismo. E isto é uma nefasta conquista da mídia, que bestializou o brasileiro, que entupiu o nosso povo com o lixo cultural onde gagás da vida é que viraram símbolo e parâmetros de referência em termos de comportamento. Vale a promiscuidade, a banalização da sexualidade, o desrespeito ao perfil cultural do brasileiro.
Eu fico pensando o quanto nós estamos longe do que é uma efetiva referência de poder. A mídia, porque Obama foi um evento apenas midiático, se portou como esperava o império: de cócoras, disposta a bajular e a rir de tudo. Nenhum questionamento pela armação do golpe de 1º de abril de 64; nenhuma palavra sobre o treinamento de militares brasileiros em técnicas de tortura; nenhum pio sobre o dinheiro de ladrões brasileiros investidos em bancos e fundos nos EUA…
A nossa valorosa mídia, de tão enojantemente puxa-saco e babona, não teve nem mesmo coragem de dizer que houve manifestações contrárias e que redundaram em prisões de militantes de alguns partidos.
Nestas horas, sinto inveja da altivez de outros povos. O Obama que saiu bajulado daqui, foi vaiado e duramente cobrado no Chile pelo apoio que os EUA deram ao golpe que matou Pinochet e instalou em nosso vizinho andino a mais sangrenta ditadura do hemisfério no séc. XX.
Confesso: fiquei com inveja dos chilenos e uma imensa vergonha do papel de ‘geni’ que a mídia assumiu e que os colegas jornalistas acabaram, também para manter o emprego, aceitando.
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