Lula e Dilma apressam volta para prestar último tributo
"Tristeza. Em Coimbra, Lula se emociona e chora ao comentar sobre a perda do amigo e vice"
ENVIADA ESPECIAL / COIMBRA
Muito emocionados, a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva lamentaram ontem a morte do ex-vice-presidente José Alencar e anunciaram a antecipação do retorno a Brasília, juntos, no Aerolula, no fim da manhã de hoje, para participar do velório no salão nobre do Palácio do Planalto.
Dilma e Lula estavam no Hotel Quinta das Lágrimas, em Coimbra, onde estão hospedados, quando foram avisados pelo médico Raul Cutait da morte de José Alencar. Eles conversaram com a família e anunciaram que estarão presentes no sepultamento, em Belo Horizonte.
Dilma estava um pouco mais contida, mas não menos abalada que o ex-presidente. Os dois mantiveram o compromisso de participar, hoje de manhã, na Universidade de Coimbra, da cerimônia de concessão do título de doutor honoris causa a Lula. 'Vou dedicar o prêmio a ele', disse Lula, chorando. 'O Brasil perde um homem de dimensão excepcional. É muito fácil a gente falar das pessoas depois que morrem, porque todo mundo fica bom depois que morre, mas o José Alencar era bom em vida', prosseguiu Lula, acrescentando que ambos tinham 'mais do que uma relação de um vice e um presidente', 'Era uma relação de irmãos e companheiros.'
Missão. Dilma chorou ao ouvir Lula narrar o episódio em que Alencar, mesmo estando muito debilitado, durante a campanha do ano passado, fez questão de subir em um carro para acompanhá-la, em Belo Horizonte. 'Eu tenho que fazer isso, porque eu quero elegê-la', afirmou Alencar. 'Eu cheguei a dizer que eu não acreditava que existisse no mundo um presidente que tivesse um vice como eu tive o prazer de ter o José Alencar', contou Lula, lembrando que 'nunca teve uma vírgula de divergência' com ele.
Para Lula, a morte 'foi um descanso', pois Alencar estava sofrendo havia seis meses e não gostava de ficar no hospital. 'Um tempo atrás, eu fui chamado para conversar com ele porque ele queria pedir a minha opinião se ele deveria parar de tomar remédio, que não resolvia mais. Eu era favorável que ele parasse de tomar, que ele vivesse a vida da forma mais prazerosa que ele quisesse viver, e ele também desejava assim', contou Lula, com a voz embargada.
Eleição. O ex-presidente recordou todas as eleições presidenciais que perdeu e que só conseguiu chegar ao Palácio do Planalto quando encontrou José Alencar para ser seu vice.
'Sou muito agradecido a ele, porque perdi muitas eleições no Brasil. Eu tinha 30%, 34%, 32%, 33% e eu precisava encontrar o restante, e o restante eu encontrei no José Alencar.' A decisão de tê-lo como vice foi tomada quando Lula ouviu Alencar discursar, em Minas, comemorando os 50 anos de vida empresarial. 'Eu saí de lá e falei: Encontrei o meu vice.'
Repercussão. O anúncio da morte de Alencar chegou ao Palácio do Planalto no momento em que o ministro Gilberto Carvalho, da Secretaria Geral da Presidência, falava sobre futuras inspeções trabalhistas nas obras do PAC. 'O Zé Alencar deu tanto baile em nós e nos médicos que a gente achava que ele poderia aguentar mais. Vocês não podem ter noção do que o Zé representou para o presidente Lula e para nós, nesses oito anos (de governo). A nossa gratidão é eterna', afirmou o ministro.
Em nota, o ministro da Casa Civil, Antonio Palocci, que trabalhou ao lado de Alencar no primeiro mandato de Lula, quando comandava o Ministério da Fazenda, disse que a trajetória de vida do ex-vice-presidente 'eleva a autoestima do povo brasileiro'. 'José Alencar incentivou o empreendedorismo e o trabalho como fonte de realização das pessoas. Para mim, conviver com Alencar foi contínuo e vigoroso aprendizado', disse Palocci.
'Desde a articulação de sua candidatura para compor a chapa do PT, ele contribuiu para que o País conquistasse espaço político e econômico no cenário internacional. Sua bravura e persistência na política estão refletidas na sua luta pela vida', afirmou o ministro Aloizio Mercadante (Ciência e Tecnologia).
O ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, lembrou os tempos que trabalhou ao lado de Alencar no governo Lula: 'Nos oito anos de trabalho juntos na equipe de governo, aprendi a admirá-lo e a estimá-lo pela justeza de caráter e firmeza no trato da coisa pública'. / COLABOROU LEONENCIO NOSSA