quarta-feira, 30 de março de 2011

Carta dos Cães Acorrentados

 
 
” Querido dono,

Consegui que escrevessem esta carta por mim.
 
 Nem sabes a alegria que sinto por poder
comunicar contigo.
 
Todos os dias, desde aquele dia longínquo em que me colocaste
a corrente no pescoço e me prendeste neste espaço, eu sonho que me vens visitar e fazer festinhas como me fazias quando eu era um bebê.
 
 Eu sonho que vens conversar comigo,
 não entendo muito bem o que me dizes, mas nem imaginas como adoro ouvir o som da tua voz!

Eu sei que fiz algo de errado, senão
certamente não me terias colocado aqui.
 
Desculpa!
Não quero ser exigente mas
começa a doer ter esta corrente atada ao meu pescoço.
 
 Ás vezes tenho o pescoço
dormente, e outras vezes tenho muita comichão e nem consigo coçar!
 
Sinto o seu
peso todos os dias, o peso da solidão que me prende.

Tenho vontade de esticar
as pernas e correr e como eu gostava de poder fazer isso contigo.
 
Adorava que me
atirasses umas bolas, aí eu podia mostrar-te como sou rápido a correr e como tas
trazia rapidamente.
 
Gostava de poder ver o que tu vês, o mundo lá fora é muito
grande?
E existem outros como eu?
Ás vezes tenho sede e alguma fome mas eu
aguento em silêncio porque sei que assim que podes vens cá dar-me comida e água,
sei que fazes o que podes,
 
 eu não quero incomodar, mas sabes, por vezes gostava
de ter um pouco da tua companhia.

Sei que talvez alguém te tenha dito que eu
não tenho sentimentos, mas olha que é mentira!
 
 Nem imaginas quanta alegria sinto
quando alguém me toca ou se dirige a mim.
 
Nem sabes quanta tristeza e solidão
pesa em mim nas longas horas que não vejo ninguém.
 
 Nem sabes o medo que por
vezes sinto no Inverno aqui sozinho, e tenho tanta vontade de estar perto de
ti.
No outro dia passaram aqui umas pessoas estranhas e puseram-se a olhar cá
para dentro e a apontar pa ra mim, riam e atiravam umas pedras na minha direção.

Queriam vir fazer-te mal. Acertaram-me com uma na pata e ontem não consegui
levantar-me , mas eu afuguentei-as logo com o meu ladrar.
Eu não quero que
ninguém te venha fazer mal…e não quero que te zangues comigo, eu prometo fazer
melhor por ti.

Eu sou o teu amigo mais fiel, nunca te irei trair, não guardo rancor, e não tiro nunca o lugar de ninguém,
 
Será que tens mais amigos assim no
teu mundo?
 
Só queria um pouco mais da tua atenção e amor, uma cama quente no
inverno, um local fresco no verão e o teu cheiro a entrar-me nas narinas todos
os dias, seguido de um sorriso e uma festa no meu velho lombo.

Eu sei que um
dia tu irás chegar aqui e tirar a corrente, e dar-me tudo isto, até lá eu fico
quieto á espera.
 
 Só não demores muito meu dono, porque estou a ficar velho e começo a ver e ouvir mal.
 
 Faltam-me forças e não quero ir, sem viver um pouco contigo.

do teu cão”

Se virem um cão aprisionado, imprimam esta carta
e coloquem na caixa do correio dos donos.
 
Em nome de todos os “cães”,
obrigada.

LUCIANA S. S
GUARDIÃ DOS ANIMAIS
   
 
 

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