sábado, 17 de julho de 2010

Bolivianos recordam golpe de Estado com marchas e reivindicações

DA ANSA, EM LA PAZ

Familiares de políticos desaparecidos durante o último golpe militar da Bolívia marcharam neste sábado em La Paz para solicitar que os repressores revelem onde os restos mortais de seus parentes, que teriam sido assassinados em 17 de julho de 1980, estão enterrados.

Entre os manifestantes estiveram os dirigentes do Partido Socialista que denunciaram que "todos os poderes do Estado se confabulam para continuar ocultando" o paradeiro do fundador dessa agremiação, Marcelo Quiroga Santa Cruz, assassinado na ação liderada pelo general Luís García Meza.

Segundo Eduardo Pardo, líder do PS, revelar onde estaria o corpo de Quiroga Santa Cruz "é uma dívida dos que hoje têm o poder político".

Juan Karita/AP

Soldados tentam limpar frases pichadas em La Paz

Já Olga Flores, que lidera uma associação de familiares de desaparecidos políticos, pediu ao governo que ordene a abertura dos arquivos que podem mostrar onde foram sepultados 22 dirigentes de esquerda, entre eles o de seu irmão Carlos, morto com o fundador do PS.

Trinta anos após o quarto e último golpe militar boliviano ainda não se sabe onde estariam os corpos dos dois políticos.

Luiz García Meza, por sua parte, atualmente recluso, foi condenado a 30 anos de prisão, mas para os familiares e militantes de esquerda esta condenação ainda "é pouco", eles pedem também que outros 82 membros do governo de facto sejam julgados.

Os manifestantes esperam ainda que o dia 17 de julho, declarado ontem pela Assembleia Legislativa Plurinacional como o Dia Nacional do Desaparecido, "não seja apenas um discurso e que tenha efeito prático para o início de uma luta contra a impunidade".

O governo, por sua vez, realizou hoje um ato no qual o presidente Evo Morales atribuiu a "alguns comandantes" do passado a ingerência norte-americana na política interna da Bolívia.

Segundo Morales, as Forças Armadas "cumpriram de maneira fiel as ordens que recebiam" de outras instâncias que "politicamente decidiam que os militares realizaram o golpe".

"Por isso, quando chegamos ao governo as pessoas insultavam as Forças Armadas. Agora, as aplaudem" porque, por decisão política do Executivo, hoje os militares "ajudam em temas sociais", explicou o mandatário.

Assim como em outros países da América Latina, a Bolívia passou por ditaduras militares em sua história recente. O primeiro golpe, em 1964, levou o então vice-presidente e general René Barrientos Ortuño ao poder. Sob o seu comando, o revolucionário Ernesto Che Guevara foi capturado e morto.

Em 1969, com a morte de Barrientos, Alfredo Ovando Candía assumiu o poder à força, mas foi derrubado em 1971 pelo general Hugo Banzer Suárez. Em meio à instabilidade política, em 1980, Hernán Siles Zuazo, eleito presidente, foi impedido de governar devido a um novo golpe liderado pelo general García Meza. A redemocratização da Bolívia ocorreu em 1982.

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