segunda-feira, 21 de julho de 2008

Suspiros

Essa lua enlutada, esse desassossego,
A convulsão de dentro, ilharga
Dentro da solidão, corpo morrendo.
Tudo isso te devo. E eram tão vastas
As coisas planejadas, navios,
Muralhas de marfim, palavras largas
Consentimentos sempre, e seria dezembro,
Um cavalo de jade sobre as águas,
Dupla transparência, fio suspenso,
Todas essas coisas na ponta dos teus dedos.
E tudo se desfez no pórtico tempo
Em lívido silêncio. Umas manhãs de vidro,
Vento, a alma esvaziada, um sol que não vejo.
Também isso te vejo.

(Hilda Hilst)

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