O meu maor faísca na medula,
Pois que na superfície ele anoitece.
Abre na escuridão sua quermesse.
É todo fome, e eis que repete a guia.
Sua escama de fel nunca se anula
E seu rangido nada tem de prece.
Uma aranha invisível é que o tece.
O meu amor, paralisado, pula.
Pulula, ulula. Salve lobo triste!
Quando eu secar, ele estará vivendo,
Já não vive sem mim, nele é que existe
O que sou, o que sobro, esmigalhado,
O meu amor é tudo que, morrendo,
Não morre todo, e fica no ar, parado.
(Carlos Drummond de Andrade)
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