sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

DA AÇÃO DOS ESPÍRITOS SOBRE A MATÉRIA



– CLASSIFICAÇÃO –



DA TEORIA DAS MANIFESTAÇÕES FÍSICAS ESPONTÂNEAS



RESUMO E ROTEIRO



Autor: Carlos Augusto Petersen Parchen (www.parchen. hpg.com.br)

Sociedade Espírita Fraternidade – SEF (www.sef.hpg. com.br)

Centro Espírita Luz Eterna – CELE (www.cele.org. br)

Curitiba - Pr

Dezembro de 2000







NOTAS EXTRAÍDAS DO LIVRO DOS MÉDIUNS



DA AÇÃO DOS ESPÍRITOS SOBRE A MATÉRIA



Caberia, antes de tudo, perguntar por que não poderiam seres inteligentes, que de certo modo vivem no nosso meio, se bem que invisíveis por natureza, atestar-nos de qualquer forma sua presença. A simples razão diz que nisto nada absolutamente há de impossível, o que já é alguma coisa. Demais, esta crença tem a seu favor o assentimento de todos os povos, porquanto com ela deparamos em toda parte e em todas as épocas. Ora, nenhuma intuição pode mostrar-se tão generalizada, nem sobreviver ao tempo, se não tiver algum fundamento.



Essa causa é a ignorância da natureza dos Espíritos e dos meios pelos quais se podem manifestar. Adquirindo o conhecimento daquela natureza e destes meios, as manifestações nada mais apresentam de espantosas e entram no cômputo dos fatos naturais.



A idéia que geralmente se faz dos Espíritos torna à primeira vista incompreensível o fenômeno das manifestações. Como estas não podem dar-se, senão exercendo o Espírito ação sobre a matéria, os que julgam que a idéia de Espírito implica a de ausência completa de tudo o que seja matéria perguntam, com certa aparência de razão, como pode ele obrar materialmente.



Ora, aí o erro, pois que o Espírito não é uma abstração, é um ser definido, limitado e circunscrito. O Espírito encarnado no corpo constitui a alma. Quando o deixa, por ocasião da morte, não sai dele despido de todo o envoltório. Todos nos dizem que conservam a forma humana e, com efeito, quando nos aparecem, trazem as que lhes conhecíamos.



Numerosas observações e fatos irrecusáveis, de que mais tarde falaremos, levaram à conseqüência de que há no homem três componentes: 1º, a alma, ou Espírito, princípio inteligente, onde tem sua sede o senso moral; 2º, o corpo, invólucro grosseiro, material, de que ele se revestiu temporariamente, em cumprimento de certos desígnios providenciais; 3º, o perispírito, envoltório fluídico, semimaterial, que serve de ligação entre a alma e o corpo.



A morte é a destruição, ou, antes, a desagregação do envoltório grosseiro, do invólucro que a alma abandona. O outro se desliga deste e acompanha a alma que, assim, fica sempre com um envoltório. Este último, ainda que fluídico, etéreo, vaporoso, invisível, para nós, em seu estado normal, não deixa de ser matéria, embora até ao presente não tenhamos podido assenhorear- nos dela e submetê-la à análise.



Esse segundo invólucro da alma, ou perispírito, existe, pois, durante a vida corpórea; é o intermediário de todas as sensações que o Espírito percebe e pelo qual transmite sua vontade ao exterior e atua sobre os órgãos do corpo. Para nos servirmos de uma comparação material, diremos que é o fio elétrico condutor, que serve para a recepção e a transmissão do pensamento; é, em suma, esse agente misterioso, imperceptível, conhecido pelo nome de fluido nervoso, que desempenha tão grande papel na economia orgânica e que ainda não se leva muito em conta nos fenômenos fisiológicos e patológicos.



Somente faremos notar que no conhecimento do perispírito está a chave de inúmeros problemas até hoje insolúveis. O perispírito não constitui uma dessas hipóteses de que a ciência costuma valer-se, para a explicação de um fato. Sua existência não foi apenas revelada pelos Espíritos, resulta de observações, como teremos ocasião de demonstrar. Por ora e por nos não anteciparmos, no tocante aos fatos que havemos de relatar, limitar-nos- emos a dizer que, quer durante a sua união com o corpo, quer depois de separar-se deste, a alma nunca está desligada do seu perispírito.



Hão dito que o Espírito é uma chama, uma centelha. Isto se deve entender com relação ao Espírito propriamente dito, como princípio intelectual e moral, a que se não poderia atribuir forma determinada. Mas, qualquer que seja o grau em que se encontre, o Espírito está sempre revestido de um envoltório, ou perispírito, cuja natureza se eteriza, à medida que ele se depura e eleva na hierarquia espiritual. De sorte que, para nós, a idéia de forma é inseparável da de Espírito e não concebemos uma sem a outra. O perispírito faz, portanto, parte integrante do Espírito, como o corpo o faz do homem. Porém, o perispírito, só por só, não é o Espírito, do mesmo modo que só o corpo não constitui o homem, porquanto o perispírito não pensa. Ele é para o Espírito o que o corpo é para o homem: o agente ou instrumento de sua ação.



Ele tem a forma humana e, quando nos aparece, é geralmente com a que revestia o Espírito na condição de encarnado. Daí se poderia supor que o perispírito, separado de todas as partes do corpo, se modela, de certa maneira, por este e lhe conserva o tipo; entretanto, não parece que seja assim.



Mas a matéria sutil do perispírito não possui a tenacidade, nem a rigidez da matéria compacta do corpo; é, se assim nos podemos exprimir, flexível e expansível, donde resulta que a forma que toma, conquanto decalcada na do corpo, não é absoluta, amolga-se à vontade do Espírito, que lhe pode dar a aparência que entenda, ao passo que o invólucro sólido lhe oferece invencível resistência. Livre desse obstáculo que o comprimia, o perispírito se dilata ou contrai, se transforma: presta-se, numa palavra, a todas as metamorfoses, de acordo com a vontade que sobre ele atua. Por efeito dessa propriedade do seu envoltório fluídico, é que o Espírito que quer dar-se a conhecer pode, em sendo necessário, tomar a aparência exata que tinha quando vivo, até mesmo com os acidentes corporais que possam constituir sinais para o reconhecerem



Os Espíritos, portanto, são, como se vê, seres semelhantes a nós, constituindo, ao nosso derredor, toda urna população, invisível no estado normal. Dizemos – no estado normal, porque, conforme veremos, essa invisibilidade nada tem de absoluta.



Voltemos à natureza do perispírito, pois que isto é essencial para a explicação que temos de dar. Dissemos que, embora fluídico, o perispírito não deixa de ser uma espécie de matéria, o que decorre do fato das aparições tangíveis, a que volveremos. Sob a influência de certos médiuns, tem-se visto aparecerem mãos com todas as propriedades de mãos vivas, que, como estas, denotam calor, podem ser palpadas, oferecem a resistência de um corpo sólido, agarram os circunstantes e, de súbito, se dissipam, quais sombras. A ação inteligente dessas mãos, que evidentemente obedecem a uma vontade, executando certos movimentos, tocando até melodias num instrumento, prova que elas são parte visível de um ser inteligente invisível. A tangibilidade que revelam, a temperatura, a impressão, em suma, que causam aos sentidos, porquanto se há verificado que deixam marcas na pele, que dão pancadas dolorosas, que acariciam delicadamente, provam que são de uma matéria qualquer. Seus desaparecimentos repentinos provam, além disso, que essa matéria é eminentemente sutil e se comporta como certas substâncias que podem alternativamente passar do estado sólido ao estado fluídico e vice-versa.



O Espírito precisa, pois, de matéria, para atuar sobre a matéria. Tem por instrumento direto de sua ação o perispírito, como o homem tem o corpo. Ora, o perispírito é matéria, conforme acabamos de ver. Depois, serve-lhe também de agente intermediário o fluido universal, espécie de veículo sobre que ele atua, como nós atuamos sobre o ar, para obter determinados efeitos, por meio da dilatação, da compressão, da propulsão, ou das vibrações.



Considerada deste modo, facilmente se concebe a ação do Espírito sobre a matéria. Compreende-se, desde então, que todos os efeitos que daí resultam cabem na ordem dos fatos naturais e nada têm de maravilhosos. Só pareceram sobrenaturais, porque se lhes não conhecia a causa. Conhecida esta, desaparece o maravilhoso e essa causa se inclui toda nas propriedades semimateriais do perispírito.



Perguntar-se-á , talvez, como pode o Espírito, com o auxilio de matéria tão sutil, atuar sobre corpos pesados e compactos, suspender mesas, etc. Semelhante objeção certo que não será formulada por um homem de ciência, visto que, sem falar das propriedades desconhecidas que esse novo agente pode possuir, não temos exemplos análogos sob as vistas? Não é nos gases mais rarefeitos, nos fluidos imponderáveis que a indústria encontra os seus mais possantes motores? Quando vemos o ar abater edifícios, o vapor deslocar enormes massas, a pólvora gaseificada levantar rochedos, a eletricidade lascar árvores e fender paredes, que dificuldades acharemos em admitir que o Espírito, com o auxilio do seu perispírito, possa levantar uma mesa, sobretudo sabendo que esse perispírito pode tornar-se visível, tangível e comportar-se como um corpo sólido?




DAS MANIFESTAÇÕES FÍSICAS


Dá-se o nome de manifestações físicas às que se traduzem por efeitos sensíveis, tais como ruídos, movimentos e deslocação de corpos sólidos. Umas são espontâneas, isto é, independentes da vontade de quem quer que seja; outras podem ser provocadas.



Um exemplo marcante é o das mesas girantes, que praticamente deu início aos estudos que levaram a própria codificação do espiritismo




DAS MANIFESTAÇÕES INTELIGENTES


Nas manifestações de efeitos físicos nada, certamente, revela a intervenção de uma potência oculta e os efeitos que passamos em revista poderiam explicar-se perfeitamente pela ação de uma corrente magnética, ou elétrica, ou, ainda, pela de um fluido qualquer.



Tal foi, precisamente, a primeira solução dada a tais fenômenos e que, com razão, podia passar por muito lógica. Teria, não há dúvida, prevalecido, se outros fatos não tivessem vindo demonstrá-la insuficiente. Estes fatos são as provas de inteligência que eles deram. Ora, como todo efeito inteligente há de por força derivar de uma causa inteligente, ficou evidenciado que, mesmo admitindo-se, em tais casos, a intervenção da eletricidade, ou de qualquer outro fluido, outra causa a essa se achava associada. Qual era ela? Qual a inteligência? Foi o que o seguimento das observações mostrou.



Para uma manifestação ser inteligente, indispensável não é que seja eloqüente, espirituosa, ou sábia; basta que prove ser um ato livre e voluntário, exprimindo uma intenção, ou respondendo a um pensamento. Decerto, quando uma ventoinha se move, toda gente sabe que apenas obedece a uma impulsão mecânica: à do vento; mas, se fossem reconhecidos nos seus movimentos sinais de serem eles intencionais, se ela girasse para a direita ou para a esquerda, depressa ou devagar, conforme se lhe ordenas-se, forçoso seria admitir-se, não que a ventoinha era inteligente, porém, que obedecia a uma inteligência. Isso o que se deu com a mesa.



Viu-se as mesas girantes mover-se, levantar-se, dar pancadas, sob a influência de um ou de muitos médiuns. O primeiro efeito inteligente observado foi o obedecerem esses movimentos a uma determinação. Assim é que, sem mudar de lugar, a mesa se erguia alternativamente sobre o pé que se lhe indicava; depois, caindo, batia um número determinado de pancadas, respondendo a uma pergunta. Doutras vezes, sem o contato de pessoa alguma, passeava sozinha pelo aposento, indo para a direita, ou para a esquerda, para diante, ou para trás, executando movimentos diversos, conforme o ordenavam os assistentes.



Por meio de pancadas e, sobretudo, por meio dos estalidos, produzidos no interior da mesa, obtêm-se efeitos ainda mais inteligentes, como sejam: a imitação dos rufos do tambor, da fuzilaria de descarga por fila ou por pelotão, de um canhoneio; depois, a do ranger da serra, dos golpes de martelo, do ritmo de diferentes árias, etc. Era, como bem se compreende, um vasto campo a ser explorado. Raciocinou-se que, se naquilo havia uma inteligência oculta, forçosamente lhe seria possível responder a perguntas e ela de fato respondeu, por um sim, por um não, dando o número de pancadas que se convencionara para um caso e outro. Por serem muito insignificantes essas respostas, surgiu a idéia de fazer-se que a mesa indicasse as letras do alfabeto e compusesse assim palavras e frases.



Estes fatos, repetidos à vontade por milhares de pessoas e em todos os países, não podiam deixar dúvida sobre a natureza inteligente das manifestações. Foi então que apareceu um novo sistema, segundo o qual essa inteligência seria a do médium, do interrogante, ou mesmo dos assistentes. A dificuldade estava em explicar como semelhante inteligência podia refletir-se na mesa e se expressar por pancadas.



Averiguado que estas não eram dadas pelo médium, deduziu-se que, então, o eram pelo pensamento. Mas, o pensamento a dar pancadas constituía fenômeno ainda mais prodigioso do que todos os que haviam sido observados. Não tardou que a experiência demonstrasse a inadmissibilidade de tal opinião. Efetivamente, as respostas muito amiúde se achavam em oposição formal às idéias dos assistentes, fora do alcance intelectual do médium e eram até dadas em línguas que este ignorava, ou referia fatos que todos desconheciam. São tão numerosos os exemplos, que quase impossível é não ter sido disso testemunha muitas vezes quem quer que já um pouco se ocupou com as manifestações Espíritas.



Aperfeiçoou-se a arte de obter comunicações pelo processo das pancadas alfabéticas, mas o meio continuava a ser muito moroso. Algumas, entretanto, se obtiveram de certa extensão, assim como interessantes revelações sobre o mundo dos Espíritos. Estes indicaram outros meios e a eles se deve o das comunicações escritas.



Receberam-se as primeiras deste gênero, adaptando-se um lápis ao pé de uma mesa leve, colocada sobre uma folha de papel. Posta em movimento pela influência de um médium, a mesa começou a traçar caracteres, depois palavras e frases. Simplificou- se gradualmente o processo, pelo emprego de mesinhas do tamanho de uma mão, construídas expressamente para isso; em seguida, pelo de cestas, de caixas de papelão e, afinal, pelo de simples pranchetas.



A escrita saía tão corrente, tão rápida e tão fácil como com a mão. Porém, reconheceu-se mais tarde que todos aqueles objetos não passavam, em definitiva, de apêndices, de verdadeiras lapiseiras, de que se podia prescindir, segurando o médium, com sua própria mão, o lápis.



Forçada a um movimento involuntário, a mão escrevia sob o impulso que lhe imprimia o Espírito e sem o concurso da vontade, nem do pensamento do médium. A partir de então, as comunicações de além-túmulo se tornaram sem limites, como o é a correspondência habitual entre os vivos.




DA TEORIA DAS MANIFESTAÇÕES FÍSICAS


Demonstrada, pelo raciocínio e pelos fatos, a existência dos Espíritos, assim como a possibilidade que têm de atuar sobre a matéria, trata-se agora de saber como se efetua essa ação e como procedem eles para fazer que se movam as mesas e outros corpos inertes.



Desde que se tornaram conhecidas a natureza dos Espíritos, sua forma humana, as propriedades semimateriais do perispírito, a ação mecânica que este pode exercer sobre a matéria; desde que, em casos de aparição, se viram mãos fluídicas e mesmo tangíveis tomar dos objetos e transportá-los, julgou-se, como era natural, que o Espírito se servia muito simplesmente de suas próprias mãos para fazer que a mesa girasse e que à força de braço é que ela se erguia no espaço.



Mas, então, sendo assim, que necessidade havia de médium? Não pode o Espírito atuar só por si? Porque, é evidente que o médium, que as mais das vezes põe as mãos sobre a mesa em sentido contrário ao do seu movimento, ou que mesmo não coloca ali as mãos, não pode secundar o Espírito por meio de uma ação muscular qualquer.



São Luiz oferece algumas respostas que ajudam a compreender essa questão



III. O fluido universal será ao mesmo tempo o elemento universal ?

"Sim, é o princípio elementar de todas as coisas."



V. Em que estado o fluido universal se nos apresenta, na sua maior simplicidade?

"Para o encontrarmos na sua simplicidade absoluta, precisamos ascender aos Espíritos puros. No vosso mundo, ele sempre se acha mais ou menos modificado, para formar a matéria compacta que vos cerca. Entretanto, podeis dizer que o estado em que se encontra mais próximo daquela simplicidade é o do fluido a que chamais fluido magnético animal."



VI. Já disseram que o fluido universal é a fonte da vida. Será ao mesmo tempo a fonte da inteligência?

"Não, esse fluido apenas anima a matéria."



VII. Pois que é desse fluido que se compõe o perispírito, parece que, neste, ele se acha num como estado de condensação, que o aproxima, até certo ponto, da matéria propriamente dita?

"Até certo ponto, como dizes, porquanto não tem todas as propriedades da matéria. E mais ou menos condensado, conforme os mundos."



VIII. Como pode um Espírito produzir o movimento de um corpo sólido?

"Combinando uma parte do fluido universal com o fluido, próprio àquele efeito, que o médium emite."



IX. Será com os seus próprios membros, de certo modo solidificados, que os Espíritos levantam a mesa?

"Esta resposta ainda não te levará até onde desejas. Quando, sob as vossas mãos, uma mesa se move, o Espírito haure no fluido universal o que é necessário para lhe dar uma vida factícia. Assim preparada a mesa, o Espírito a atrai e move sob a influência do fluido que de si mesmo desprende, por efeito da sua vontade. Quando quer pôr em movimento uma massa por demais pesada para suas forças, chama em seu auxílio outros Espíritos, cujas condições sejam idênticas às suas. Em virtude da sua natureza etérea, o Espírito, propriamente dito, não pode atuar sobre a matéria grosseira, sem intermediário, isto é, sem o elemento que o liga à matéria. Esse elemento, que constitui o que chamais perispírito, vos faculta a chave de todos os fenômenos espíritas de ordem material. Julgo ter-me explicado muito claramente, para ser compreendido. "



X. Os Espíritos, que aquele que deseja mover um objeto chama em seu auxílio, são-lhe inferiores? Estão-lhe sob as ordens?

"São-lhe iguais, quase sempre. Muitas vezes acodem espontaneamente. "



XI. São aptos, todos os Espíritos, a produzir fenômenos deste gênero?

"Os que produzem efeitos desta espécie são sempre Espíritos inferiores, que ainda se não desprenderam inteiramente de toda a influência material."



XII. Compreendemos que os Espíritos superiores não se ocupam com coisas que estão muito abaixo deles. Mas, perguntamos se, uma vez que estão mais desmaterializados, teriam o poder de fazê-lo, dado que o quisessem?

"Os Espíritos superiores têm a força moral, como os outros têm a força física. Quando precisam desta força, servem-se dos que a possuem. Já não se vos disse que eles se servem dos Espíritos inferiores, como vós vos servis dos carregadores? "



XIII. Se compreendemos bem o que disseste, o princípio vital reside no fluido universal; o Espírito tira deste fluido o envoltório semimaterial que constitui o seu perispírito e é ainda por, meio deste fluido que ele atua sobre a matéria inerte. É assim?

"É. Quer dizer: ele empresta à matéria uma espécie de vida factícia; a matéria se anima da vida animal. A mesa, que se move debaixo das vossas mãos, vive como animal; obedece por si mesma ao ser inteligente. Não é este quem a impele, como faz o homem com um fardo. Quando ela se eleva, não é o Espírito quem a levanta, com o esforço do seu braço: é a própria mesa que, animada, obedece à impulsão que lhe dá o Espírito."



XIV. Que papel desempenha o médium nesse fenômeno?

"Já eu disse que o fluido próprio do médium se combina com o fluido universal que o Espírito acumula. E necessária a união desses dois fluidos, isto é, do fluido animalizado e do fluido universal para dar vida à mesa. Mas, nota bem que essa vida é apenas momentânea, que se extingue com a ação e, às vezes, antes que esta termine, logo que a quantidade de fluido deixa de ser bastante para a animar."



XV. Pode o Espírito atuar sem o concurso de um médium?

"Pode atuar à revelia do médium. Quer isto dizer que muitas pessoas, sem que o suspeitem, servem de auxiliares aos Espíritos. Delas haurem os Espíritos, como de uma fonte, o fluido animalizado de que necessitem. Assim é que o concurso de um médium, tal como o entendeis, nem sempre é preciso, o que se verifica Principalmente nos fenômenos espontâneos."



XVI. Animada, atua a mesa com inteligência? Pensa?

"Pensa tanto quanto a bengala com que fazes um sinal inteligente. Mas, a vitalidade de que se acha animada lhe permite obedecer â impulsão de uma inteligência. Fica, pois, sabendo que a mesa que se move não se torna Espírito e que não tem, em si mesma, capacidade de pensar, nem de querer."



XVII. Qual a causa preponderante, na produção desse fenômeno: o Espírito, ou o fluido?

"O Espírito é a causa, o fluido o instrumento, ambos são necessários."



XVIII. Que papel, nesse caso, desempenha a vontade do médium?

"O de atrair os Espíritos e secundá-los no impulso que dão ao fluido."



XIX. Por que é que nem toda gente pode produzir o mesmo efeito e não têm todos os médiuns o mesmo poder?

"Isto depende da organização e da maior ou menor facilidade com que se pode operar a combinação dos fluidos. Influi também a maior ou menor simpatia do médium para com os Espíritos que encontram nele a força fluídica necessária. Dá-se com esta força o que se verifica com a dos magnetizadores, que não é igual em todos. A esse respeito, há mesmo pessoas que são de todo refratárias; outras com as quais a combinação só se opera por um esforço de vontade da parte delas; outras, finalmente, com quem a combinação dos fluidos se efetua tão natural e facilmente, que elas nem dão por isso e servem de instrumento a seu mau grado, como atrás dissemos."



XXI. O Espírito que atua sobre os corpos sólidos, para move-los, se coloca na substância mesma dos corpos, ou fora dela?

"Dá-se uma e outra coisa. Já dissemos que a matéria não constitui obstáculos para os Espíritos. Em tudo eles penetram. Uma porção do perispírito se identifica, por assim dizer, com o objeto em que penetra."



XXII. Como faz o Espírito para bater? Serve-se de algum objeto material?

"Tanto quanto dos braços para levantar a mesa. Sabes perfeitamente que nenhum martelo tem o Espírito à sua disposição. Seu martelo é o fluido que, combinado, ele põe em ação, pela sua vontade, para mover ou bater. Quando move um objeto, a luz vos dá a percepção do movimento; quando bate, o ar vos traz o som."



XXIII. Concebemos que seja assim, quando o Espírito bate num corpo duro; mas como pode fazer que se ouçam ruídos, ou sons articulados na massa instável do ar?

"Pois que é possível atuar sobre a matéria, tanto pode ele atuar sobre uma mesa, como sobre o ar. Quanto aos sons articulados, pode imitá-los, como o pode fazer com quaisquer outros ruídos."



XXIV. Dizes que o Espírito não se serve de suas mãos para deslocar a mesa. Entretanto, já se tem visto, em certas manifestações visuais, aparecerem mãos a dedilhar um teclado, a percutir as teclas e a tirar dali sons. Neste caso, o movimento das teclas não será devido, como parece, à pressão dos dedos? E não é também direta e real essa pressão, quando se faz sentir sobre nós, quando as mãos que a exercem deixam marcas na pele?

"Não podeis compreender a natureza dos Espíritos nem a maneira por que atuam, senão mediante comparações, que de uma e outra coisa apenas vos dão idéia incompleta, e errareis sempre que quiserdes assimilar aos vossos os processos de que eles usam. Estes, necessariamente, hão de corresponder à organização que lhes é própria. Já te não disse eu que o fluido do perispírito penetra a matéria e com ela se identifica, que a anima de uma vida factícia? Pois bem! Quando o Espírito põe os dedos sobre as teclas, realmente os põe e de fato as movimenta. Porém, não é por meio da força muscular que exerce a pressão. Ele as anima, como o faz com a mesa, e as teclas, obedecendo-lhe à vontade, se abaixam e tangem as cordas do piano.



XXV. Entre os fenômenos que se apontam como probantes da ação de uma potência oculta, alguns há evidentemente contrários a todas as conhecidas leis da Natureza. Nesses casos, não será legítima a dúvida?

"É que o homem está longe de conhecer todas as leis da Natureza. Se as conhecesse todas, seria Espírito superior. Cada dia que se passa desmente os que, supondo tudo saberem, pretendem impor limites à Natureza, sem que por isso, entretanto, se tornem menos orgulhosos. Desvendando- lhe, incessantemente, novos mistérios, Deus adverte o homem de que deve desconfiar de suas próprias luzes, porquanto dia virá em que a ciência do mais sábio será confundida. Não tendes todos os dias, sob os olhos, exemplos de corpos animados de um movimento que domina a força da gravitação? Uma pedra, atirada para o ar, não sobrepuja momentaneamente aquela força? Pobres homens, que vos considerais muito sábios e cuja tola vaidade a todos os momentos está sendo desbancada, ficai sabendo que ainda sois muito pequeninos."



Estas explicações são claras, categóricas e isentas de ambigüidade. Delas ressalta, como ponto capital, que o fluido universal, onde se contém o principio da vida, é o agente principal das manifestações, agente que recebe impulsão do Espírito, seja encarnado, seja errante. Condensado, esse fluido constitui o perispírito, ou invólucro semimaterial do Espírito. Encarnado este, o perispírito se acha unido à matéria do corpo; estando o Espírito na erraticidade, ele se encontra livre. Quando o Espírito está encarnado, a substância do perispírito se acha mais ou menos ligada, mais ou menos aderente, se assim nos podemos exprimir. Em algumas pessoas se verifica, por efeito de suas organizações, uma espécie de emanação desse fluido e é isso, propriamente falando, o que constitui o médium de influências físicas. A emissão do fluido animalizado pode ser mais ou menos abundante, como mais ou menos fácil a sua combinação, donde os médiuns mais ou menos poderosos. Essa emissão, porém, não é permanente, o que explica a intermitência do poder mediúnico.





DAS MANIFESTAÇÕES FÍSICAS ESPONTÂNEAS


Muitas vezes os fenômenos de que acabamos de falar são provocados e intencionais. Sucede, porém, às vezes, produzirem-se espontaneamente, sem intervenção da vontade, até mesmo contra a vontade, pois que freqüentemente se tornam muito importunos. Além disso, para excluir a suposição de que possam ser efeito de imaginação sobreexcitada pelas idéias espíritas, há a circunstância de que se produzem entre pessoas que nunca ouviram falar disso e exatamente quando menos por semelhante coisa esperavam.



Admitamos agora que, por uma comprovação minuciosa, se adquira a certeza de que os qualquer tipo de fenômeno, ruídos, ou outros efeitos quaisquer, são manifestações reais: será racional que se lhes tenha medo? Não, decerto; porquanto, em caso algum, nenhum perigo haverá nelas. Só os que se persuadem de que é o diabo que as produz podem ser por elas abalados de modo deplorável, como o são as crianças a quem se mete medo com o lobisomem, ou o papão. Essas manifestações tomam às vezes, forçoso é convir, proporções e persistências desagradáveis, causando aos que as experimentam o desejo muito natural de se verem livres delas. A este propósito, uma explicação se faz necessária.



As manifestações físicas têm por fim chamar-nos a atenção para alguma coisa e convencer-nos da presença de uma força superior ao homem. Também dissemos que os Espíritos elevados não se ocupam com esta ordem de manifestações; que se servem dos Espíritos inferiores para produzi-las, como nos utilizamos dos nossos serviçais para os trabalhos pesados, e isso com o fim que vamos indicar. Alcançado esse fim, cessa a manifestação material, por desnecessária.



As manifestações espontâneas nem sempre se limitam a ruídos e pancadas. Degeneram, por vezes, em verdadeiro estardalhaço e em perturbações. Móveis e objetos diversos são derribados, projetis de toda sorte são atirados de fora para dentro, portas e janelas são abertas e fechadas por mãos invisíveis, ladrilhos são quebrados, o que não se pode levar à conta da ilusão. Muitas vezes o derribamento se dá, de fato; doutras, porém, só se dá na aparência. Ouvem-se vozerios em aposentos contíguos, barulho de louça que cai e se quebra com estrondo, cepos que rolam pelo assoalho. Acorrem as pessoas da casa e encontram tudo calmo e em ordem. Mal saem, recomeça o tumulto.



Os Espíritos superiores, do mesmo modo que, entre nós, os homens retos e sérios, não se divertem a fazer charivaris. Temos por diversas vezes chamado aqueles Espíritos, para lhes perguntar por que motivo perturbam assim a tranqüilidade dos outros. Na sua maioria, fazem-no apenas para se divertirem. São mais levianos do que maus, que se riem dos terrores que causam e das pesquisas inúteis que se empreendem para a descoberta da causa do tumulto. Agarram-se com freqüência a um indivíduo, comprazendo- se em o atormentarem e perseguirem de casa em casa. Doutras vezes, apegam-se a um lugar, por mero capricho. Também, não raro, exercem por essa forma uma vingança, como teremos ocasião de ver.



Em alguns casos, mais louvável é a intenção a que cedem. Procuram chamar a atenção e pôr-se em comunicação com certas pessoas, quer para lhes darem um aviso proveitoso, quer com o fim de lhes pedirem qualquer coisa para si mesmos. Muitos temos visto que pedem preces; outros que solicitam o cumprimento, em nome deles, de votos que não puderam cumprir; outros, ainda, que desejam, no interesse do próprio repouso, reparar uma ação má que praticaram quando vivos.





Estes fenômenos, conquanto operados por Espíritos inferiores, são com freqüência provocados por Espíritos de ordem mais elevada, com o fim de demonstrarem a existência de seres incorpóreos e de uma potência superior ao homem. A repercussão que eles têm, o próprio temor que causam, chamam a atenção e acabarão por fazer que se rendam os mais incrédulos. Acham estes mais simples lançar os fenômenos a que nos referimos à conta da imaginação, explicação muito cômoda e que dispensa outras. Todavia, quando objetos vários são sacudidos ou atirados à cabeça de uma pessoa, bem complacente imaginação precisaria ela ter, para fantasiar que tais coisas sejam reais, quando não o são.



A explicação dada do movimento dos corpos inertes se aplica naturalmente a todos os efeitos espontâneos a que acabamos de passar revista. Os ruídos, embora mais fortes do que as pancadas na mesa, procedem da mesma causa. Os objetos derribados, ou deslocados, o são pela mesma força que levanta qualquer objeto. Há mesmo aqui uma circunstância que apoia esta teoria. Poder-se-ia perguntar onde, nessa circunstância, o médium. Os Espíritos nos disseram que, em tal caso, há sempre alguém cujo poder se exerce â sua revelia. As manifestações espontâneas muito raramente se dão em lugares ermos; quase sempre se produzem nas casas habitadas e por motivo da presença de certas pessoas que exercem influência, sem que o queiram. Essas pessoas ignoram possuir faculdades mediúnicas, razão por que lhes chamamos médiuns naturais. São, com relação aos outros médiuns, o que os sonâmbulos naturais são relativamente aos sonâmbulos magnéticos e tão dignos, como aqueles, de observação.



A intervenção voluntária ou involuntária de uma pessoa dotada de aptidão especial para a produção destes fenômenos parece necessária, na maioria dos casos, embora alguns haja em que, ao que se afigura, o Espírito obra por si só. Mas, então, poderá dar-se que ele tire de algures o fluido animalizado, que não de uma pessoa presente. Isto explica porque os Espíritos, que constantemente nos cercam, não produzem perturbação a todo instante. Primeiro, é preciso que o Espírito queira, que tenha um objetivo, um motivo, sem o que nada faz.



Depois, é necessário, muitas vezes, que encontre exatamente no lugar onde queira operar uma pessoa apta a secundá-lo, coincidência que só muito raramente ocorre. Se essa pessoa aparece inopinadamente, ele dela se aproveita. Mesmo quando todas as circunstâncias sejam favoráveis, ainda poderia acontecer que o Espírito se visse tolhido por uma vontade superior, que não lhe permitisse proceder a seu bel-prazer. Pode também dar-se que só lhe seja permitido fazê-lo dentro de certos limites e no caso de serem tais manifestações julgadas úteis, quer como meio de convicção, quer como provação para a pessoa por ele visada.





Fenômeno de transporte



Este fenômeno não difere do de que vimos de falar, senão pela intenção benévola do Espírito que o produz, pela natureza dos objetos, quase sempre graciosos, de que ele se serve e pela maneira suave, delicada mesmo, por que são trazidos. Consiste no trazimento espontâneo de objetos inexistentes no lugar onde estão os observadores. São quase sempre flores, não raro frutos, confeitos, jóias, etc.



Digamos, antes de tudo, que este fenômeno é dos que melhor se prestam à imitação e que, por conseguinte, devemos estar de sobreaviso contra o embuste. Sabe-se até onde pode ir a arte da prestidigitação, em se tratando de experiências deste gênero.



A teoria do fenômeno dos transportes e das manifestações físicas em geral se acha resumida, de maneira notável, na seguinte dissertação feita por um Espírito, cujas comunicações todas trazem o cunho incontestável de profundeza e lógica. Ele se dá a conhecer pelo nome de Erasto, discípulo de São Paulo, e como protetor do médium que lhe serviu de instrumento:



"Quem deseja obter fenômeno desta ordem precisa ter consigo médiuns a que chamarei - sensitivos, isto e, dotados, no mais alto grau, das faculdades mediúnicas de expansão e de penetrabilidade, porque o sistema nervoso facilmente excitável de tais médiuns lhes permite, por meio de certas vibrações, projetar abundantemente, em torno de si, o fluido animalizado que lhes é próprio.



"As naturezas impressionáveis, as pessoas cujos nervos vibram à menor impressão, à mais insignificante sensação; as que a influência moral ou física, interna ou externa, sensibiliza são muito aptas a se tornarem excelentes médiuns, para os efeitos físicos de tangibilidade e de transportes. Efetivamente, quase de todo desprovido do invólucro refratário, que, na maioria dos outros encarnados, o isola, o sistema nervoso dessas pessoas as capacita para a produção destes diversos fenômenos. Assim, com um indivíduo de tal natureza e cujas outras faculdades não sejam hostis à mediunidade, facilmente se obterão os fenômenos de tangibilidade, as pancadas nas paredes e nos móveis, os movimentos inteligentes e mesmo a suspensão, no espaço, da mais pesada matéria inerte. A fortiori, os mesmos resultados se conseguirão se, em vez de um médium, o experimentador dispuser de muitos, igualmente bem dotados.



"Mas, da produção de tais fenômenos à obtenção dos de transporte há um mundo de permeio, porquanto, neste caso, não só o trabalho do Espírito é mais complexo, mais difícil, como, sobretudo, ele não pode operar, senão por meio de um único aparelho mediúnico, isto é, muitos médiuns não podem concorrer simultaneamente para a produção do mesmo fenômeno. Sucede até que, ao contrário, a presença de algumas pessoas antipáticas ao Espírito que opera lhe obsta radicalmente à operação. A estes motivos a que, como vedes, não falta importância, acrescentemos que os transportes reclamam sempre maior concentração e, ao mesmo tempo, maior difusão de certos fluidos, que não podem ser obtidos senão com médiuns superiormente dotados, com aqueles, numa palavra, cujo aparelho eletromediúnico é o que melhores condições oferece.



"Em geral, os fatos de transporte são e continuarão a ser extremamente raros. Não preciso demonstrar porque são e serão menos freqüentes do que os outros fenômenos de tangibilidade; do que digo, vós mesmos podeis deduzi-lo. Demais, estes fenômenos são de tal natureza, que nem todos os médiuns servem para produzi-los. Com efeito, é necessário que entre o Espírito e o médium influenciado exista certa afinidade, certa analogia; em suma: certa semelhança capaz de permitir que a parte expansível do fluido perispirítico do encarnado se misture, se una, se combine com o do Espírito que queira fazer um transporte. Deve ser tal esta fusão, que a força resultante dela se torne, por assim dizer, uma: do mesmo modo que, atuando sobre o carvão, uma corrente elétrica produz um só foco, uma só claridade. Por que essa união, essa fusão, perguntareis? É que, para que estes fenômenos se produzam, necessário se faz que as propriedades essenciais do Espírito motor se aumentem com algumas das do médium; é que o fluido vital, indispensável à produção de todos os fenômenos mediúnicos, é apanágio exclusivo do encarnado e que, por conseguinte, o Espírito operador fica obrigado a se impregnar dele. Só então pode, mediante certas propriedades, que desconheceis, do vosso meio ambiente, isolar, tornar invisíveis e fazer que se movam alguns objetos materiais e mesmo os encarnados.. .



".....Vedes, assim, quantas dificuldades cercam a produção do fenômeno dos transportes. Muito logicamente podeis concluir daí que os fenômenos desta natureza são extremamente raros, como eu disse acima, e com tanto mais razão, quanto os Espíritos muito pouco se prestam a produzi-los, porque isso dá lugar, da parte deles, a um trabalho quase material, o que lhes acarreta aborrecimento e fadiga. Por outro lado, ocorre também que, freqüentemente, não obstante a energia e a vontade que os animem, o estado do próprio médium lhes opõe intransponível barreira...”





NOTAS EXTRAÍDAS DO LIVRO “A GÊNESE”


Manifestações físicas. – Mediunidade


Os fenômenos das mesas girantes e falantes, da suspensão etérea de corpos pesados, da escrita mediúnica, tão antigos quanto o mundo, porém vulgares hoje, facultam a explicação de alguns outros, análogos e espontâneos, aos quais, pela ignorância da lei que os rege, se atribuía caráter sobrenatural e miraculoso. Tais fenômenos têm por base as propriedades do fluido perispirítico, quer dos encarnados, quer dos Espíritos livres.



Por meio do seu perispírito é que o Espírito atuava sobre o seu corpo vivo; ainda por intermédio desse mesmo fluido é que ele se manifesta; atuando sobre a matéria inerte, é que produz ruídos, movimentos de mesa e outros objetos, que os levanta, derriba, ou transporta. Nada tem de surpreendente esse fenômeno, se considerarmos que, entre nós, os mais possantes motores se encontram nos fluidos mais rarefeitos e mesmo imponderáveis, como o ar, o vapor e a eletricidade.



É igualmente com o concurso do seu perispírito que o Espírito faz que os médiuns escrevam, falem, desenhem. Já não dispondo de corpo tangível para agir ostensivamente quando quer manifestar-se, ele se serve do corpo do médium, cujos órgãos toma de empréstimo, corpo ao qual faz que atue como se fora o seu próprio, mediante o eflúvio fluídico que verte sobre ele.



Pelo mesmo processo atua o Espírito sobre a mesa, quer para que esta se mova, sem que o seu movimento tenha significação determinada, quer para que dê pancadas inteligentes, indicativas das letras do alfabeto, a fim de formarem palavras e frases, fenômeno esse denominado tiptologia. A mesa não passa de um instrumento de que o Espírito se utiliza, como se utiliza do lápis para escrever. Para esse efeito, dá-lhe ele uma vitalidade momentânea, por meio do fluido que lhe inocula, porém absolutamente não se identifica com ela. Praticam um ato ridículo as pessoas que, tomadas de emoção ao manifestar-se um ser que lhes é caro, abraçam a mesa; é exatamente como se abraçassem a bengala de que um amigo se sirva para bater no chão. O mesmo fazem os que dirigem a palavra à mesa, como se o Espírito se achasse metido na madeira, ou como se a madeira se houvesse tornado Espírito.



Quando comunicações são transmitidas por esse meio, deve-se imaginar que o Espírito está, não na mesa, mas ao lado, tal qual estaria se vivo se achasse e como seria visto, se no momento pudesse tornar-se visível. O mesmo ocorre nas comunicações pela escrita: ver-se-ia o Espírito ao lado do médium, dirigindo-lhe a mão ou transmitindo- lhe pensamentos por meio de uma corrente fluídica.



Quando a mesa se destaca do solo e flutua no espaço sem ponto de apoio, o Espírito não a ergue com a força de um braço; envolve-a e penetra-a de uma espécie de atmosfera fluídica que neutraliza o efeito da gravitação, como faz o ar com os balões e papagaios.



O fluido que se infiltra na mesa dá-lhe momentaneamente maior leveza específica. Quando fica pregada ao solo, ela se acha numa situação análoga à da campânula pneumática sob a qual se fez o vácuo. Não há aqui mais que simples comparações destinadas a mostrar a analogia dos efeitos e não a semelhança absoluta das causas. (O Livro dos Médiuns, 2ª Parte, cap. IV.)



Compreende-se, depois do que fica dito, que não há para o Espírito, maior dificuldade em arrebatar uma pessoa, do que em arrebatar uma mesa, em transportar um objeto de um lugar para outro, ou em atirá-lo seja onde for. Todos esses fenômenos se produzem em virtude da mesma lei.



Quando as pancadas são ouvidas na mesa ou algures, não é que o Espírito esteja a bater com a mão, ou com qualquer objeto. Ele apenas dirige sobre o ponto donde vem o ruído um jato de fluido e este produz o efeito de um choque elétrico. Tão possível lhe é modificar o ruído, como a qualquer pessoa modificar os sons produzidos pelo ar.



Fenômeno muito freqüente na mediunidade é a aptidão de certos médiuns para escrever em língua que lhes é estranha; a explanar, oralmente ou por escrito, assuntos que lhes estão fora do alcance da instrução recebida. Não é raro o caso de alguns que escrevem correntemente sem nunca terem aprendido a escrever; de outros que compõem poesias, sem jamais na vida terem sabido fazer um verso; de outros que desenham, pintam, esculpem, compõem música, tocam um instrumento, sem conhecerem desenho, pintura, escultura, ou a arte musical. Ocorre freqüentemente o fato de um médium escrevente reproduzir com perfeição a grafia e a assinatura que os Espíritos, que por ele se comunicam, tinham quando vivos, se bem não as haja ele conhecido.



Nada, porém, apresenta esse fenômeno de mais maravilhoso, do que o de se fazer que uma criança escreva, guiando-se-lhe a mão; pode-se, dessa maneira, conseguir que ela execute tudo o que se queira. Pode-se fazer que qualquer pessoa escreva num idioma que ela ignore, ditando-se-lhe as palavras letra por letra. Compreende-se que o mesmo se possa dar com a mediunidade, desde que se atente na maneira por que os Espíritos se comunicam com os médiuns que, para eles, mais não são do que instrumentos passivos. Se, porém, o médium tem o mecanismo, se venceu as dificuldades práticas, se lhe são familiares as expressões, se, finalmente, possui no cérebro os elementos daquilo que o Espírito quer fazê-lo executar, ele se acha na posição do homem que sabe ler e escrever correntemente; o trabalho se torna mais fácil e mais rápido; ao Espírito já não resta senão transmitir seus pensamentos ao intérprete, para que este os reproduza pelos meios de que dispõe.



A aptidão de um médium para coisas que lhe são estranhas também tem freqüentemente suas raízes nos conhecimentos que ele possuiu noutra existência e dos quais seu Espírito conservou a intuição. Se, por exemplo, ele foi poeta ou músico, mais facilidade encontrará para assimilar o pensamento poético ou musical que um Espírito queira fazê-lo expressar. A língua que ele hoje ignora pode ter-lhe sido familiar noutra existência, donde maior aptidão sua para escrever mediunicamente nessa língua.



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