quarta-feira, 24 de setembro de 2008
Carta endereçada aos Jovens!!!!
Meu nome é Patrícia, tenho 17 anos, e encontro-me no momento quase sem forças,mas pedi para a enfermeira Dane minha amiga escrever esta carta que seráendereçada aos jovens de todo o Brasil, antes que seja tarde demais:Eu era uma jovem "sarada", criada em uma excelente família de classe média altaFlorianópolis. Meu pai é Engenheiro Eletrônico de uma grande estatal e procurousempre para mim e para meus dois irmãos dar tudo de bom e o que tem e melhor,inclusive liberdade que eu nunca soube aproveitar.Aos 13 anos participei e ganhei um concurso para modelo e manequim para aAgência Kasting e fui até o final do concurso que selecionou as novas Paquitasdo programa da Xuxa. Fui também selecionada para fazer um Book na Agência Eliteem São Paulo.Sempre me destaquei pela minha beleza física, chamava a atenção por ondepassava. Estudava no melhor colégio de "Floripa", Coração de Jesus. Tinha todosos garotos do colégio aos meus pés.Nos finais de semana freqüentava shopping, praias, cinema, curtia com minhasamigas tudo o que a vida tinha de melhor a oferecer às pessoas saradas, física ementalmente.Porém, como a vida nos prega algumas peças, o meu destino começou a mudar emoutubro de 1994. Fui com uma turma de amigos para a OKTOBERFEST em Blumenau.Os meus pais confiavam em mim e me liberaram sem mais apego. Em Blumenau, acheitudo legal, fizemos um esquenta no "Bude", famoso barzinho na Rua XV.À noite fomos ao "PROEB" e no "Pavilhão Galego" tinha um show maneiro da BandaCavalinho Branco. Aquela movimentação de gente era trimaneira"".Eu já tinha experimentado algumas bebidas, tomava escondido da minha mãe o LicorAmarula, mas nunca tinha ficado bêbada. Na quinta feira, primeiro dia e OKTOBER,tomei o meu primeiro porre de CHOPP.Que sensação legal curti a noite inteira "doidona", beijei uns 10 carinhas,inclusive minhas amigas colocavam o CHOPP numa mamadeira misturado com guaranápara enganar os "meganha", porque menor não podia beber; mas a gente bebeu anoite inteira e os otários" não percebiam.Lá pelas 4h da manhã, fui levada ao Posto Médico, quase em coma alcoólico, numamaca dos Bombeiros. Deram-me umas injeções de glicose para melhorar. Quando fuiao apartamento quase "vomitei as tripas", mas o meu grito de liberdade estavadado. No dia seguinte aquela dor de cabeça horrível, um mal estar daqueles comotensão pré-menstrual. No sábado conhecemos uma galera de S. Paulo, que alugaramum ap" no mesmo prédio. Nem imaginava que naquele dia eu estava sendoapresentada ao meu futuro assassino. Bebi um pouco no sábado, a festa não estavalegal, mas lá pelas 5:30 h da manhã fomos ao "ap" dos garotos para curtir orestante da noite. Rolou de tudo e fui apresentada ao famoso baseado "Cigarro deMaconha", que me ofereceram.No começo resisti, mas chamaram a gente de "Catarina careta", mexeram com nossosbrios e acabamos experimentando. Fiquei com uma sensação esquisita, de baixoastral, mas no dia seguinte antes de ir embora experimentei novamente.O garoto mais velho da turma o "Marcos", fazia carreirinho e cheirava um póbranco que descobri ser cocaína. Ofereceram-me,mas não tive coragem naquele dia.Retornamos a "Floripa" mas percebi que alguma coisa tinha mudado, eu sentia anecessidade de buscar novas experiências, e não demorou muito para eu novamentedeparar-me com meu assassino "DRUGS".Aos poucos, meus melhores amigos foram se afastando quando comecei a me envolvercom uma galera da pesada, e sem perceber, eu já era uma dependente química, apartir do momento que a droga começou a fazer parte do meu cotidiano.Fiz viagens alucinantes, fumei maconha misturada com esterco de cavalo,experimentei cocaína misturada com um monte de porcaria.Eu e a galera descobrimos que misturando cocaína com sangue o efeito dela ficavamais forte, e aos poucos não compartilhávamos a seringa e sim, o sangue que cadaum cedia para diluir o pó.No início a minha mesada cobria os meus custos com as malditas, porque a galerarepartia e o preço era acessível. Comecei a comprar a "branca" a R$ 7,00 ograma, mas não demorou muito para conseguir somente a R$ 15,00 a boa, e euprecisava no minimo 5 doses diárias.Saía na sexta-feira e retornava aos domingos com meus "novos amigos". Às vezes agente conseguia o "extasy", dançávamos nos "Points" a noite inteira e depois...farra!O meu comportamento tinha mudado em casa, meus pais perceberam, mas no início eudisfarçava e dizia que eles não tinham nada a ver com a minha vida...Comecei a roubar em casa pequenas coisas para vender ou trocar por drogas...Aos poucos o dinheiro foi faltando e para conseguir grana fazia programas comuns velhos que pagavam bem.Sentia nojo de vender o meu corpo, mas era necessário para conseguir dinheiro.Aos poucos toda a minha família foi se desestruturando.Fui internada diversas vezes em Clínicas de Recuperação.Meus pais, sempre com muito amor, gastavam fortunas para tentar reverter oquadro.Quando eu saía da Clínica agüentava alguns dias, mas logo estava me picandonovamente. Abandonei tudo: escola, bons amigos e família.Em dezembro de 1997 a minha sentença de morte foi decretada; descobri que haviacontraído o vírus da AIDS, não sei se me picando, ou através de relações sexuaismuitas vezes sem camisinha.Devo ter passado o vírus a um montão de gente, porque os homens pagavam maispara transar sem camisinha. Aos poucos os meus valores, que só agora reconheço,foram acabando, família,amigos,pais,religião, Deus, até Deus, tudo me parecia ridículo.Meu pai e minha mãe fizeram tudo, por isso nunca vou deixar de amá-los.Eles me deram o bem mais precioso que é a vida e eu a joguei pelo ralo.Estou internada, com 24 kg, horrível, não quero receber visitas porque não podemme ver assim, não sei até quando sobrevivo, mas do fundo do coração peço aosjovens que não entrem nessa viagem maluca...Você com certeza vai se arrepender assim como eu, mas percebo que é tarde demaispra mim.OBS.: Patrícia encontrava-se internada no Hospital Universitário deFlorianópolis e a enfermeira Danelise, que cuidava de Patrícia, veio a comunicarque Patrícia veio a falecer 14 horas mais tarde depois que escreveram essacarta, de parada cardíaca respiratória em conseqüência da AIDS.
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