10 de novembro de 2010 às 13:40 Nenhum Comentário
Nas duas últimas décadas, os dois países mais populosos do continente americano registraram trajetórias distintas no comportamento da desigualdade de renda – fruto, certamente, dos distintos modelos de promoção do desenvolvimento. Os Estados Unidos, por exemplo, perseguem o sentido da elevação da desigualdade de renda, enquanto o Brasil apresentou queda em sua repartição, especialmente durante a primeira década do atual século.
Em grande medida, o desempenho econômico e social positivo brasileiro contrasta com os sinais de decadência relativa dos EUA. No ano 2000, por exemplo, o Brasil ocupava a 14ª posição na economia global, ao passo que hoje responde pela 8ª colocação. Nos próximos seis anos, o país poderá se situar entre os cinco maiores PIBs do mundo.
A melhora recente no desempenho econômico e social brasileiro distingue-se da realidade vivida pelas duas grandes economias no final do século passado. Nas décadas de 1980 e 1990, por exemplo, os Estados Unidos surfaram satisfatoriamente na onda neoliberal de abertura econômica e financeira global. De grande centro produtivo mundial dos últimos 150 anos, o país foi passivamente aceitando, desde o governo Reagan, o deslocamento de suas principais atividades econômicas por meio das redes de produção global e da terceirização das fontes produtivas de suas grandes corporações transnacionais a diferentes regiões geográficas, sobretudo na Ásia.
Por conta disso, a trajetória estadunidense possibilitou que o custo de vida de sua população permanecesse rebaixado pela importação de produtos estrangeiros que substituiram a produção nacional. Além da sofisticação dos novos e criativos mecanismos de financeirização de sua economia, houve a difusão do endividamento das famílias a permitir a formação de grandes bolhas insustentáveis de expansão da riqueza fictícia sem correlação na produção interna. A opção pela riqueza sem produção gerou uma zona de conforto socioeconômico sustentado por gradual ampliação da desigualdade de renda. Entre 1992 e 2009, por exemplo, o grau de desigualdade na repartição da renda dos EUA cresceu 14,4% (índice de Gini).
Durante a década de 1990, o Brasil também se manteve prisioneiro das medidas de corte neoliberal que afastaram a economia nacional do projeto de desenvolvimento. O resultado foi o decréscimo da 8ª para a 14ª posição na economia mundial, acompanhado da subida da 13ª para a 3ª posição no ranking mundial do desemprego.
O baixo dinamismo econômico permeado por altas taxas de inflação, a desorganização das finanças públicas e o desmantelamento do setor público gerado pelas medidas neoliberais de privatização e focalização do gasto social colocaram o país em posição destoante da dos Estados Unidos. Mesmo assim, a tardia submissão ao neoliberalismo pelo Brasil fez avançar também a macroeconomia da financeirização da riqueza sugadora de recursos orçamentários pelo reduzido contingente de proprietários dos títulos públicos.
Na grande crise global de 2008, as trajetórias de desenvolvimento dos dois países apresentaram maiores diferenciações, com melhor desempenho do Brasil. Um sinal interessante disso é apontado pelo comportamento recente da taxa de pobreza, uma vez que nos dois últimos anos ela aumentou 14,4% nos EUA, enquanto o Brasil reduziu em 17,3% a proporção de pobreza no total da população. Até 2003, entretanto, a trajetória da pobreza não parecia se distinguir muito entre os dois grandes países do continente americano. Somente a partir de 2004 o sentido da evolução das taxas de pobreza se diferenciou positivamente para o Brasil, sobretudo na crise global de 2008.
Outro sinal do melhor comportamento brasileiro pode ser observado por intermédio da evolução da desigualdade de renda. Enquanto o Brasil apresenta tendência de queda desde o início da década de 2000, a economia estadunidense registrou leve elevação.
Dessa forma, percebe-se que o Brasil possui atualmente maior convergência política voltada para a prosperidade social-desenvolvimentista. A defesa do avanço da produção nacional compartilhada por políticas distributivas e de sustentação do Estado de bem estar permitem combinar satisfatoriamente a redução da pobreza e da desigualdade da renda do trabalho. Nos Estados Unidos, todavia, prevalece a nova retomada da macroeconomia da financeirização da riqueza, capaz de fazer valer os mesmos mecanismos econômicos pré-crise de 2008, o que deve continuar a mantendo a trajetória de maior pobreza e desigualdade de renda.
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