Cracatoa Simplesmente Sumiu
Histórias de terror e uma explicação quase razoável para fantasmas
Posted: 07 Oct 2008 09:47 PM CDT
(Atenção: o relato abaixo tem muito de ficcional. Não tudo. Também responde a um convite do blog Gothic Box)
Histórias de fantasma interessam até a alguns céticos, pelo menos como literatura e ficção. De outra forma, livros de autores como Edgar Allan Poe e H.P. Lovecraft não fariam tanto sucesso.
Por isso, acredito que você possa também se interessar pelo relato a seguir.
Pensando em tudo o que aconteceu, creio ter uma explicação para fenômenos como os dos fantasmas.
Confesso, ela não é científica por não seguir o método necessário para ser considerado como tal. Mas ao menos segue aquele raciocínio, vindo do senso comum, de que para tudo há uma explicação.
Afinal, mesmo que fosse comprovada a existência de fantasmas, tal comprovação também seria uma explicação.
Enfim, a ciência coloca tudo sempre em um mesmo patamar, de uma forma que podemos observar as coisas sem medo, através de um microscópio.
Então, se você me der a licença de usar minhas explicações um pouco menos científicas daquelas esperadas de um cético para um possível leitor também cético, convido-o a continuar a leitura.
Vivo em um edifício no qual há cerca de três ou quatro anos uma moça pulou da janela do andar acima do meu.
Nada muito drástico.
Mas suficientemente alto para causar-lhe a morte e suficientemente baixo para me fazer de testemunha auditiva deste fato, em uma solitária noite em que rolava na cama a pensar em alguma mulher: a impressão quase simultânea de uma sombra a atravessar a vidraça ocupada pela paisagem e o baque lá embaixo. Quase como se alguém tivesse jogado um objeto pesado e sem importância.
Poucas pessoas podem dizer com certeza qual é o som exato de um corpo que toca o solo depois de uma queda razoavelmente longa. Por ser singelo e incompatível com o possível drama que ocasionou o fenômeno, é o tipo de coisa que você só entende se ouvir.
Pude ouvir também os passos apressados de seu amante a descer a escada ofegante a clamar por Deus, naqueles momentos em que não se acredita que algo pode ser verdade, que realmente está acontecendo e em que a experiência, por ser única, ganha tons de irrealidade.
Ninguém mais dormiu no prédio naquela noite. Ambulância, pessoas em torno do acontecido, especulações acerca de se ela teria realmente pulado ou teria sido empurrada.
De minha parte, fiquei deitado, apenas a ouvir, tão deitado e tão ouvinte quanto o era antes do salto e quando tudo era silêncio e meus pensamentos pousados sobre alguma mulher.
Até que amanheceu.
Com o sol, vem o silêncio e a indiferença, própria do sol e das formigas, às tragédias humanas.
E do sol, de certa forma, é que vem a minha explicação para o algo inexplicável que me ocorreu alguns meses depois.
Muito do que sabem os cientistas vem da observação dos fenômenos e de sua coerência ou não com conhecimentos prévios. Então, observei certa vez, num fim de tarde quente de verão, que um muro de pedra permanecia aquecido, mesmo depois de o sol ter deixado de banhá-lo com sua luz.
Ora, era meu tato que percebia a impressão deixada naquelas pedras por algo que já havia deixado aquele lugar há certo tempo. Da mesma forma, poderia perceber sobre uma mesa os resíduos de energia abandonados por um prato quente de sopa já recolhido à pia.
Os sentidos são capazes de perceber as impressões energéticas, as pegadas deixadas nos objetos pelos fenômenos. Afinal, se alguém deitar em sua cama é possível observar como o lençol se amarrotou no formato de um corpo, como o travesseiro abaixou com a forma de uma cabeça, embora nem corpo nem cabeça estejam ali ainda.
Tanto maior é a energia, mais evidentes são essas pegadas.
Muito bem. Minha explicação, ou pseudo-explicação para os fenômenos não explicados, depende de outro fato admitido pelos cientistas: pouco se sabe sobre o cérebro.
Se pouco se sabe sobre o cérebro e suas capacidades, é possível acreditar que existam sentidos pouco explorados ou compartilhados por todas as pessoas e, então, desconhecidos dos cientistas que, desde a antigüidade, estudam a realidade baseados nos cinco habituais. E, seguindo, o raciocínio, talvez exista um sentido - além desses cinco - que seja capaz de sentir resíduos energéticos mais sutis.
Uma noite dessas, dormia eu um sono agitado, regado por sonhos pouco confortantes. A agitação e a febre do delírio - um pouco de mim, um pouco do clima abafado - me jogavam de um lado, para o esquecimento do sono e para o outro, o suor do despertar.
E eis que - como em uma sinfonia louca que, súbito, tem o botão do volume virado para a esquerda, tendo suas fusas e semifusas sugadas para o silêncio -, me vi desperto, em meu quarto, rodeado pela mesma penumbra e pelos mesmos objetos que veria se estivesse em um estado normal de consciência.
Porém, não podia mover-me. E era premente que eu o fizesse. Pois escutei alguém mexer na porta de meu pequeno apartamento. Eu a ouvi se abrir. E ouvi também passos se dirigindo até o meu quarto. E vi uma sombra, do tamanho de uma criança, se postar ao lado da cama e parar. Como se me observasse.
Tudo deve ter demorado segundos. O susto e o medo enormes contidos por minha paralisia, finalmente explodiram em um grito que traduziu-se na verdade em um gemido baixo. Suficiente para me despertar completamente e fazer desaparecer aquela sombra. No entanto, o que eu via era exatamente o que eu via antes de acordar.
Eu estive de olhos abertos o tempo todo.
Tentei observar se alguma das silhuetas dos objetos próximos era compatível com aquela alucinação, mas nenhuma delas se encaixava no que eu acabara de ver.
O leitor, sagaz, deve ter de antemão entendido a explicação que pretendo dar.
De fato, a consistência com que todo esse relato se deu, me obriga a acreditar que tal fenômeno tenha sido causado porque, durante o meu delírio, naquela noite, acessei algum sentido que me possibilitou a visão do resíduo energético causado pelo suicídio da moça do andar de cima.
Não há como negar que tais comoções deixem marcas emocionais na vida das pessoas que só se apagam depois de muito tempo e o mesmo se dá, possivelmente, com os ambientes que lhes serviram de palco. Tanto maior a comoção, tanto maior a abrangência de suas conseqüências.
De fato, não encontro outra explicação razoável para tudo isso.
Apenas uma coisa não se encaixa.
Deixei de dizer até o momento que tive a sensação de ter ouvido a tal visita sombria ter dito algo.
Uma data: dia, mês e ano.
Não imagino como números assim, um sistema arbitrário para medir o tempo, podem ter deixado impressões sensíveis sobre o ambiente, isso escapa até mesmo à frouxa explicação que dei ao fenômeno.
Apenas menciono esse dado agora como um registro.
Se algo acontecer a mim hoje, gostaria que você soubesse que isso já estava previsto.
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