Raul Longo
Desde Spartacus (109 – 71 a.C.) muitas lideranças populares fizeram por merecer honras, comendas e elogios. Homens e mulheres. Mas poucos, talvez nenhum, foram tão distinguidos quanto o torneiro mecânico Lula da Silva.
Realidade bastante difícil de ser assimilada pelos 4% da população que se mantêm insatisfeita. Insatisfeita mais com a pessoa do que com o desempenho de Lula na Presidência. Desse desempenho pouco ou nada sabem, mas, impossibilitados de superar preconceitos e condicionamentos, jamais haverão de considerar dados e fatos que consagram Lula perante o mundo.
Por mais que a situação individual de cada um desses acompanhe a melhoria de condições de vida de todos os brasileiros, em meio a uma crise financeira mundial, continuarão se sentindo fracassados por serem salvos por alguém de uma classe ou cultura que prejulgam inferior.
Incapazes de avaliar as razões que geraram a violência social que indistintamente vitima a todos os brasileiros, mesmo os que não tenham sofrido algum atentado, mas ainda assim tomados de temor cotidiano por um sequestro, assalto, bala perdida, estupro ou coisa pior infligida a si ou a um amigo e familiar; não dimensionam quão incontroláveis seriam esses comportamentos sem os programas sociais, a melhoria salarial ou o crescimento de ofertas de emprego, consequências do desempenho do governo Lula.
Mas a insignificância proporcional dessa parcela da população serve apenas para destacar o resultado inédito na política mundial, em avaliação aferida ao final de um segundo mandato de governo. Desempenho inferior após uma reeleição é sempre esperado, mas no Brasil se inverteu essa tradicional relação e Lula termina seu governo inutilizando um coeso esforço de todos os organismos de mídia de seu país que, desde quando liderou reivindicações de reposições salariais em 1977, fomentou o medo e utilizou de preconceitos para desacreditar sua personalidade e caráter.
Evidente que depois de 3 décadas destratando e tentando imputar a Lula pechas de ignorante, incapaz, néscio, despreparado, estúpido, corrupto, ladrão, demagogo, aliado de tiranos, chefe de celerados e até estuprador; os profissionais de mídia do Brasil: colunistas, apresentadores de programas de TV e emissoras de rádio, cômicos, articulistas, cronistas, comentaristas, analistas econômicos e políticos dos principais veículos de comunicação, não podem fazer eco aos seus colegas dos Estados Unidos e Europa, ainda que neles tenham se pautado por toda a carreira. Filhos da imprensa estrangeira, agora se vêem vexados a esconder as informações de seus mentores.
Tem sido uma árdua tarefa o tentar esconder a repercussão internacional do desempenho de Lula, até porque nenhum brasileiro jamais foi tão exaltado pela comunidade das nações e, sem dúvida, muito constrangedor reconhecer que o homem que com tantas certezas profetizaram como o maior desastre político do país, tenha se tornado uma das personalidades mundiais de maior destaque nos tradicionais veículos de comunicação do planeta.
Claro que se tenta omitir, mas brasileiros e estrangeiros que muito viajam a negócios ou mesmo a passeio, constantemente relatam sobre a estampa de Lula nas livrarias, bancas de jornal e revistarias dos aeroportos ou ruas de Paris, Nova Iorque, Istambul, Buenos Aires, Tóquio, Cairo, Sidney, Toronto, Johanesburgo, Berlim ou qualquer cidade do mundo. Alguns chegam a mencionar que os closes de Lula se sucedem entre fotos impressas e imagens de telenoticiários, muitas vezes com mais insistência do que a da Rainha da Inglaterra ou do Presidente dos Estados Unidos.
Enquanto isso os editores dos principais veículos de comunicação do Brasil, buscando justificar o que antes afirmavam, pescam uma denúncia aqui outra ali entre informações disponibilizadas pela própria transparência do governo que atropela especulações garantindo acesso e conhecimento de seus atos e gastos pelos monitores de computadores domésticos.
Dessa forma o melancólico resultado obtido pelos detratores do governo Lula se reduz ao que há muito se evidencia pela queda de índices de audiência e circulação, apesar de outrora terem produzido um dos maiores fenômenos de marketing político da história da democracia: o mito Collor de Melo.
Também responsáveis pela manutenção por duas décadas do mais impopular dos regimes que se impôs ao país: o da ditadura milicanalha, ajudaram a eleger todos seus incompetentes sucessores, mas há 3 eleições se vêem sucessivamente derrotados por um operário que além de nordestino e emigrante, ainda elegeu para sua sucessão uma mulher. A primeira mulher a presidir o país de uma sociedade secularmente formada no racismo, elitismo e machismo!
Será esse o grande legado dos 8 anos de governo Lula aos brasileiros? Liberar o povo do condicionamento, da inconsciência política, dos preconceitos induzidos por suas elites?
Promover a ascensão de uma mulher à presidência? Desmentir e ridicularizar os engodos da mídia?
Talvez haja quem entenda assim, mas perceptivelmente Lula é mais reconhecido por ter iniciado o processo de distribuição de renda e desconcentração de riquezas, reduzindo pela metade a miserabilidade que destacava o Brasil como uma das nações mais injustas da Terra.
Outros exaltam o efetivo combate à corrupção incrustada na cultura política e no trato com o patrimônio público e que, ao longo do mesmo período do antecessor, se marcou pela inércia de menos de 30 operações da Polícia Federal além da impunidade pelo arquivamento de 6 centenas de processos contra àquele governo.
Sob a presidência de Lula se levou a efeito mais de duas mil operações policiais federais e foram penalizadas autoridades antes consideradas incólumes e blindadas por seus próprios cargos e relações. Mais de 15 mil presos entre juízes, policiais e políticos, inclusive alguns do próprio partido do Presidente e agentes da própria Polícia Federal.
Há também os que consideram que apesar de tanto por ainda fazer, a grande herança deixada por Lula é o início dos grandes investimentos na infraestrutura abandonada há muitas décadas. Ou no planejamento do país para um desenvolvimento sustentável e racionalmente distribuído a todos os setores sociais e regiões geográficas.
A maioria reconhece em Lula um grande Presidente por ter resgatado o Brasil da pior e mais vergonhosa situação econômica já ocupada em sua história, elevando o país à situação de exemplo de superação da crise financeira internacional.
Realmente é algo que impressiona quando lembrado que no governo anterior o país se manteve estagnado e de progressivo apenas o desemprego e o empobrecimento da maioria dos brasileiros, além da deterioração de seus potenciais entregues aos interesses de especuladores nacionais e estrangeiros.
Mas há os que vêem na inclusão social o principal legado destes últimos anos ao futuro da nação que já começa a ser notada em publicações científicas internacionais. No acréscimo ao ensino universitário de jovens que antes não teriam perspectivas de futuro algum, se preconiza uma nova participação do Brasil em setores nunca abordados pelo país e se têm no investimento em educação o grande legado do operário semianalfabeto.
São mesmo vertiginosos os números registrados em todos os itens do setor.
Alimentação escolar, por exemplo: enquanto em 2009 o governo Lula já investira 1 bilhão de reais, nos 8 anos do anterior não se investiu muito mais da metade disso. Afora as 14 universidades construídas, como nunca no mesmo espaço de tempo, e sequer uma única universidade pública na década anterior.
E, assim por diante, em cada um dos 77% de ótimo ou bom e 18% de regular, se encontrará justificações diversas para a opinião pública: seja pela sensível redução dos impactos ambientais, seja pelo igualmente expressivo aumento da produção industrial ou de poder de consumo entre todas as classes. Pelo permanente avanço empregatício em níveis recordes a cada mês, pela superação da crise financeira mundial, os bilhões de dólares em superávit contra o déficit do governo anterior, entre muitos outros legados apontados como principal herança do governo Lula.
Mesmo em setores e pontos ainda críticos se apontam inquestionáveis avanços, como no aumento de investimento em saúde pública de 155 milhões para 1,5 bilhões, ou na queda dos juros reais de 25% para 16%, se encontra motivos de confiança no Brasil que Dilma Rousseff herdou de Lula da Silva, conferindo à Presidente eleita, ainda antes do início de seu mandato, uma aprovação que a indicaria como vitoriosa já no primeiro turno se a eleição fosse hoje.
Se assim é no Brasil, nos demais países do mundo os 4% que aqui consideram o governo Lula ruim ou péssimo são ainda mais insignificantes. Tanto entre nações e grupos de orientação socialista quanto entre os principais representantes do capitalismo, como ocorreu com o Conselho de Davos que depositou em Lula suas esperanças para o conturbado cenário econômico, reconhecendo-o como Estadista Global.
Será este, então, o grande legado do nordestino emigrante, operário e semianalfabeto?
Apesar de tão achincalhado, ofendido, destratado, caluniado e aviltado pela imprensa de seu próprio país, os mais tradicionais e destacados veículos de imprensa dos Estados Unidos, da Inglaterra, da França, da Espanha, da Itália, da Alemanha e de diversos outros países dos demais continentes, creditam à Lula expectativas sem precedentes.
De Winston Churchil e Roosevelt se esperou a derrota bélica do nazi-fascismo. De Mahatma Gandhi a resistência e libertação do povo da Índia ao jugo do Império Britânico. De John Kennedy a contenção do belicismo estadunidense. De Gorbachev o fim do totalitarismo soviético. De Nelson Mandela a erradicação do apartheid sul-africano. Mas o que o mundo espera do torneiro mecânico Luís Ignácio Lula da Silva?
Sem dúvida os editores do El País, Le Monde ou Times; o Presidente da ONU ou do Fórum Econômico Mundial; os reitores e diretores das instituições acadêmicas e fundações voltadas à promoção do desenvolvimento da civilização, terão muito mais consciência do que esperam de Lula, do que têm os 4% de brasileiros pelos motivos que os exasperam em Lula. Mas os especialistas internacionais realmente distinguem o que terá elevado um migrante do nordeste de um país marcado por tão profundos preconceitos sócio/raciais, à inconteste liderança mundial?
Não se trata apenas do tão decantado carisma a que muitos atribuem todo o sucesso de Lula, às vezes até para justificá-lo apesar de nordestino, emigrante, operário, etc. e tal. Para superar tão sistemática e intensa mobilização diária de páginas e minutos dos mais poderosos meios de condicionamento de massas e pressões da elite econômica, por mais de 3 décadas, é preciso muito mais do que carisma. Muito mais do que apenas ser competente no exercício do cargo, muito mais do que somente promover justiça social e dirimir desigualdades.
Será que o mundo tem real noção do que tornou Luís Ignácio da Silva a personalidade mundial mais surpreendente e admirável desta primeira década do século XXI? Do por que um operário semianalfabeto e de ideais socialistas entrou para história como o primeiro Estadista Global por reconhecimento da mais representativa instituição do capitalismo?
Talvez a maior pista sobre o real motivo de tantos elogios publicados e proferidos por entidades e organismos internacionais, tantas comendas e honrarias jamais antes concedidas a brasileiro algum, esteja no mais prosaico comentário já proferido sobre Lula, quando Barack Obama usou a linguagem das ruas, do cidadão comum, para indicar ao seu colega australiano o significado do Presidente brasileiro para o mundo.
Sem disfarçar uma ponta de inveja, o da Oceania se referiu ao que aqui se afirma como inéditos índices de popularidade ao final de um segundo mandato, mas ainda que confirme Lula como O Cara em seu próprio país, essa popularidade justificará o reconhecimento do chefe de uma nação onde seus governantes sempre primaram pela ostentação de poder e supremacia sobre o hemisfério sul?
O que faz de Lula O Cara de Obama e das ruas da Alemanha, da Argentina, Inglaterra ou de países do Oriente e da África onde a população o saúda como a um astro do cinema ou do rock, conforme as matérias que reportam essas visitas na imprensa exterior ao Brasil.
Na evolução democrática qualquer cara pode se tornar presidente de algum lugar. Até um negro pôde se tornar o Presidente de um dos países mais racistas do mundo! Até uma mulher pôde se tornar a Presidente eleita em uma sociedade patriarcal e machista como a brasileira! Mas um presidente ser entendido e assumido como O Cara por seu povo, pela humanidade e até pelos dirigentes de nações às quais seus antecessores sempre foram servis e subservientes, é algo bem mais raro!
Lula não é O Cara porque Obama disse que é O Cara. Não é O Cara porque pagou a dívida externa e mantêm superávit historicamente recorde depois de receber um déficit igualmente recordista. Não é O Cara porque conquistou respeito para um dos países mais desmoralizado do mundo. Ou porque expandiu fornecimento de luz e energia aos sertanejos nem por ter obtido ao Brasil a confiabilidade da FIFA ou do Comitê Olímpico internacional.
Com tudo isso, futuramente Lula seria lembrado como um bom presidente e, sem qualquer exagero, como o melhor presidente da história da república brasileira. Mas, se mesmo sem o perceber Obama foi extremamente exato no elogio, a principal razão de Lula ser O Cara provavelmente somente será totalmente compreendido ao longo do tempo. Nem tanto tempo, pois a necessidade de se repensar as estruturas de Poder já é uma realidade muito presente nas mais diversas nações de um mundo em busca de novos caminhos que resolvam o impasse criado por ineficientes sistemas de dominação e exploração econômica que acabaram se comprovando inviabilizadores da progressão e manutenção da civilização humana.
Pouco provável que o próprio Obama tenha noção do que tenha justificado seu elogio. Apesar de primeiro negro a dirigir os Estado Unidos, também foi criado numa das mais verticais sociedades do mundo ocidental e ainda levará algum tempo para que possa localizar o real motivo de sua admiração a um ex-líder sindical.
Fosse bobo ou ingênuo Obama não teria vencido sequer a renhida disputa pela indicação de seu partido, com ninguém menos do que a esposa de um dos mais populares ex-presidentes norte-americanos. Portanto, ainda que sem ideia das razões que motivaram seu elogio, teve perfeita consciência da repercussão mundial de sua declaração no momento de aparente descontração e de como beneficiaria a si e ao país com tal declaração.
Mas o dia em que Obama, Angela Merkel, Luís Zapatero, Sarkozy ou qualquer outro político do mundo prestar mais atenção nos atos e nas declarações de Luís Ignácio Lula da Silva como Presidente do Brasil, também poderá se tornar O Cara em seu país, mesmo em final de segundo mandato de governo.
Arrisco a oferecer uma dica, pedindo para que se atente a uma das tantas frases ironizadas pelos tão “inteligentes” e “argutos” críticos brasileiros às atitudes e falas do Presidente, pois encontrarão o verdadeiro grande legado de Lula na afirmação: “Não faço o que faço porque quero. Faço o que a sociedade me diz que tem de ser feito”.
Com esta frase o nordestino e operário emigrante, semianalfabeto, mostrou que a estrutura e a cultura do Poder estão mudando no Brasil, para que o país alcance uma situação inimaginável ainda ao final do século XX.
Desde antes, por Machiavel, o Poder já era entendido como algo que só se mantêm através de uma estrutura vertical. A democracia, tal qual se a conhece no mundo, é estabelecida através de uma estrutura vertical gerida por classes dominantes. O comunismo tal qual se o experimentou, foi estabelecido através de uma verticalidade estatal.
Lula não inventou o Poder horizontal. Através de planejamento e modelo, algumas nações, notadamente no norte da Europa, vêm obtendo notáveis evoluções em seus índices humanos, o que sem dúvida vem influindo na conduta de muitos dirigentes da União Europeia. O que se destaca na experiência brasileira são a perspicácia e o engenho do governo Lula em implantar tal mudança entre uma elite tão avessa a qualquer evolução e tão retrógrada em sua compreensão social, aliada a exorbitantes poderes obtidos por uma legislação falha, através de concessões corruptas e acobertada pela leniência de um suspeito e elitista sistema judiciário.
O paulatino desmonte dessa estrutura arcaica vem se iniciando pela queda de seu principal sustentáculo. Ao desmascarar a mídia como real veículo de desconstrução do senso democrático e da liberdade individual e coletiva dos cidadãos, o governo Lula possibilita um início, ainda bastante tímido, de uma formação de opiniões realmente livres de condicionamentos a interesses alheios aos dos consumidores de informações. Mas é, sobretudo na insustentabilidade de argumentos que justifiquem o autoritarismo de estruturas verticais que se comprovaram exemplarmente ineficazes, que a sociedade brasileira vem se descobrindo melhor saber o que tem de ser feito, do que aqueles que a governaram pela imposição das armas ou pela prepotência de pretensos conhecimentos que só levaram o país à dependência externa, à falência da civilidade e a redução das condições humanas.
Sem nenhum saudosismo a grande maioria da sociedade brasileira reafirmou em Dilma Rousseff sua confiança e reconhecimento na mudança do autoritarismo vertical para a proposição do modelo horizontal de Poder. No entanto, mesmo entre os partidários do governo Lula há os que ainda não se aperceberam de que mais proveitoso moldar do que tentar quebrar 500 anos de tão rígida estrutura. E que se o governo se propõe a dispor de alguns cargos para inevitáveis e necessárias negociações políticas, é porque agentes governamentais cada vez mais se limitam ao papel de gestores dos anseios sociais, e não de dirigentes como aos que a sociedade brasileira foi submetida por toda sua história.
Evidente que os políticos de oposição estão ainda mais confusos e constantemente seus discursos caem no vazio do ridículo ou do extemporâneo. Mas com 4% do eleitorado não garantirão nenhuma sobrevivência política. Ou se apressam a reavaliar propostas e posturas ou, por própria estultícia, desaparecerão do cenário como ocorrerá no Congresso de 2011.
Já os senhores do mundo, os dirigentes das grandes nações, os detentores dos grandes capitais, os responsáveis pela estabilidade e manutenção das centenárias e milenares sociedades de Grécia e Espanha, Irlanda e China, Japão e Inglaterra, Portugal, Estados Unidos ou qual país seja, que aproveitem o aprendizado transmitido por Dona Lindu no esforço de manter a família unida a despeito de todas as adversidades. Aprendam com Dona Lindu ou não haverá civilização que sobreviva ao que vem por aí em aquecimento climático, explosão demográfica, cataclismos, surtos epidêmicos, terrorismo, hordas urbanas, contaminações em massa, etc.
É aí que o legado do O Cara poderá evitar desastres como os que se abatiam sobre o Brasil até o início desta década. Mas para compreender em profundidade esse legado de Dona Lindu, será mesmo preciso mais algum tempo. Afinal, as coisas muito simples por vezes são as mais complexas para quem foi educado no tempo em que se complicava tudo para justificar a verticalidade autoritária do Poder.
Raul Longo – 21 de dezembro de 2010
quinta-feira, 23 de dezembro de 2010
domingo, 19 de dezembro de 2010
Lula, o ´senhor Mercosul`
Edição de sábado, 18 de dezembro de 2010 Em despedida, presidente passa cargo de líder do bloco a paraguaio e ganha elogios
Brasília - O presidente chileno, Sebastián Piñera, se empolgou e gritou: ´Fica Lula! Fica!`. O governante paraguaio, Fernando Lugo, o chamou de ´grande estadista`. O boliviano Evo Morales propôs sua candidatura ao cargo de secretário-geral das Nações Unidas. Em seu último evento internacional como presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva foi considerado o ´senhor Mercosul`. Os chefes de Estado latino-americanos presentes na 40ª reunião do grupo não pouparam elogios ao colega brasileiro durante sua despedida. Lula, por sua vez, garantiu que a sucessora, Dilma Rousseff, vai continuar o trabalho de integração e fortalecerá cada vez mais o bloco econômico, perto de completar 20 anos.
Durante o encontro em Foz do Iguaçu, o presidente brasileiro exaltou a boa sintonia entre Argentina, Paraguai e Uruguai. Lula passou o cargo da Presidência pro tempore para o líder paraguaio, Fernando Lugo, e afirmou que deixava o posto demonstrando satisfação. ´Em duas décadas, conseguimos fazer do Mercosul um projeto histórico de integração política e social. Juntos, formamos um dos maiores espaços democráticos do mundo. O destino fez desta reunião meu último compromisso internacional. Saio dele com a certeza de que valeu a pena o trabalho que juntos realizamos`.
Na quinta-feira, diversas medidas haviam sido aprovadas na reunião, entre elas a criação do cargo de alto representante do bloco, a padronização das placas de veículos de todos os países membros até 2018 e a adoção de uma carteira de identidade única. ´Espero que o povo do Mercosul se orgulhe de fazer parte do grupo. Eu, por exemplo, na hora que sair o primeiro coche ('carro', em espanhol) com a placa do Mercosul, esteja certo, Pêpe, que eu irei a Montevidéu`, brincou Lula com o presidente uruguaio José Mujica.
Em relação às desavenças comerciais com a Argentina, Lula afirmou que dentro de um bloco econômico a disputa de interesses é normal. ´O Mercosul não é um convento, um encontro de freiras. É um encontro de chefes de Estado, de países soberanos, que sempre vão ter divergências, um país com interesse diferente do outro. O que precisamos é ter a compreensão e a maturidade. Tentamos fazer concessões daqui e dali. Mas é isso, a divergência faz parte do processo democrático`.
Lula pediu aos outros mandatários para que ´trabalhem de forma incansável`, com o objetivo de tentar trazer países como Chile, Equador, Bolívia, Colômbia e Peru para o bloco. Também pediu que o Congresso paraguaio aprove o ingresso da Venezuela no Mercosul, a única nação que ainda não tomou a decisão.
O novo cargo de alto representante do Mercosul, que precisa ser aprovado pelos Congressos dos quatro países, ganhou candidatos, entre eles o atual ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim. Lula negou que o nome do chanceler seria indicado. Ainda não foi definida como será feita a escolha. (Tatiana Sabadini)
As Nações Unidas precisam de um técnico competente, não de um político forte
Luiz Inácio Lula da Silva, presidente brasileiro
Brasília - O presidente chileno, Sebastián Piñera, se empolgou e gritou: ´Fica Lula! Fica!`. O governante paraguaio, Fernando Lugo, o chamou de ´grande estadista`. O boliviano Evo Morales propôs sua candidatura ao cargo de secretário-geral das Nações Unidas. Em seu último evento internacional como presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva foi considerado o ´senhor Mercosul`. Os chefes de Estado latino-americanos presentes na 40ª reunião do grupo não pouparam elogios ao colega brasileiro durante sua despedida. Lula, por sua vez, garantiu que a sucessora, Dilma Rousseff, vai continuar o trabalho de integração e fortalecerá cada vez mais o bloco econômico, perto de completar 20 anos.
Durante o encontro em Foz do Iguaçu, o presidente brasileiro exaltou a boa sintonia entre Argentina, Paraguai e Uruguai. Lula passou o cargo da Presidência pro tempore para o líder paraguaio, Fernando Lugo, e afirmou que deixava o posto demonstrando satisfação. ´Em duas décadas, conseguimos fazer do Mercosul um projeto histórico de integração política e social. Juntos, formamos um dos maiores espaços democráticos do mundo. O destino fez desta reunião meu último compromisso internacional. Saio dele com a certeza de que valeu a pena o trabalho que juntos realizamos`.
Na quinta-feira, diversas medidas haviam sido aprovadas na reunião, entre elas a criação do cargo de alto representante do bloco, a padronização das placas de veículos de todos os países membros até 2018 e a adoção de uma carteira de identidade única. ´Espero que o povo do Mercosul se orgulhe de fazer parte do grupo. Eu, por exemplo, na hora que sair o primeiro coche ('carro', em espanhol) com a placa do Mercosul, esteja certo, Pêpe, que eu irei a Montevidéu`, brincou Lula com o presidente uruguaio José Mujica.
Em relação às desavenças comerciais com a Argentina, Lula afirmou que dentro de um bloco econômico a disputa de interesses é normal. ´O Mercosul não é um convento, um encontro de freiras. É um encontro de chefes de Estado, de países soberanos, que sempre vão ter divergências, um país com interesse diferente do outro. O que precisamos é ter a compreensão e a maturidade. Tentamos fazer concessões daqui e dali. Mas é isso, a divergência faz parte do processo democrático`.
Lula pediu aos outros mandatários para que ´trabalhem de forma incansável`, com o objetivo de tentar trazer países como Chile, Equador, Bolívia, Colômbia e Peru para o bloco. Também pediu que o Congresso paraguaio aprove o ingresso da Venezuela no Mercosul, a única nação que ainda não tomou a decisão.
O novo cargo de alto representante do Mercosul, que precisa ser aprovado pelos Congressos dos quatro países, ganhou candidatos, entre eles o atual ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim. Lula negou que o nome do chanceler seria indicado. Ainda não foi definida como será feita a escolha. (Tatiana Sabadini)
As Nações Unidas precisam de um técnico competente, não de um político forte
Luiz Inácio Lula da Silva, presidente brasileiro
domingo, 12 de dezembro de 2010
Gangs of Hamamatsu
dezembro 12th, 2010 | Autor: José Comessu, aliás Pequenas Cousas
Se a América nasceu nas ruas. No Japão, os filhos dos dekasseguis serão educados nelas.
Qualquer semelhança com o filme Martin Scorsese não é coincidência.
Filhos de imigrantes econtram na rua a sua verdadeira família.
A estação de Hamamatsu vira o bairro barra pesada de Five Points
Yukio Spinosa do Portal Webnews entrevista o nosso Leonardo DiCaprio, o Daniel Oshiro.
Redação Portal WebNews
Por Yukio Spinosa Foto: Arquivo pessoal
Líder do Grupo Arteiros conta história entre as gangues de Hamamatsu
Daniel Oshiro de Hamamatsu
Quando um jovem brasileiro comete um crime no Japão, não faltam críticos compatriotas para condená-lo e à sua família. Dizem que “os bons pagam pelos maus” e que por culpa de poucos toda a comunidade estrangeira é discriminada.
Porém o sistema que traz brasileiros como mão-de-obra barata e força os pais a trocarem seu tempo por dinheiro, a ineficácia da Educação das escolas japonesas e brasileiras, a formação de guetos brasileiros nos conjuntos habitacionais do governo e comércios e a indiferença da sociedade japonesa para com seus descendentes faz todos cúmplices deste crime.
Hoje trabalhando em fábrica, com postura séria, Daniel Oshiro guarda a verdadeira história do “movimento dekassegui.” Em seu tempo livre dedica-se ao projeto Arteiros, que em parceria a órgãos governamentais ajuda a conscientizar jovens estrangeiros sobre o perigo da entrada no crime.
As últimas realizações do grupo foram palestra em parceria com a polícia de Shizuoka e exibição do filme “Profissão MC” de Alessandro Buzo, o lançamento da coletânea de Rap Nacional “São Paulo is Burning” e no dia 25 de dezembro, a comemoração do Natal Free Hugs no centro de Nagoia.
Com pouca idade Daniel desembarcou no Japão, trazido por seus pais, que vieram trabalhar no início do chamado “movimento decasségui” na década de 90. Ele morou em Guaíba (RS) até os três anos. Depois foi para a Província de Aichi no Japão, voltou com a família ao Brasil, desta vez para Fernandópolis (SP). Retornou ao Japão, estabelecendo-se na cidade de Shimizu (Shizuoka) até os 15 e depois Hamamatsu, a cidade com maior número de brasileiros do arquipélago.
“O que pode ser chamado de “infância” foi só em Hamamatsu, até então não tive contato com pessoas da mesma idade”.
O que poderia acontecer com Daniel é o que aconteceu com muitos de seus amigos e jovens da mesma idade em circunstâncias idênticas. Ausência de planejamento familiar, que leva os adolescentes brasileiros a se unirem em gangues, praticar pequenos furtos, e dar início à vida marginal. Prisões, disputas de território de venda de entorpecentes contra rivais de outras nacionalidades, paternidade precoce, são as consequências do estilo de vida a que os jovens brasileiros foram submetidos.
Em meio a essa realidade, um verso do grupo SNJ (Somos Nós a Justiça), de Guarulhos, Zona Norte de São Paulo o leva a crer que outra vida seria possível.
Portal Webnews: Por que seus pais vieram ao Japão?
Daniel Oshiro: Meu pai inicialmente veio para o Japão em 1990, como qualquer outro decasségui na época. A promessa de poder juntar dinheiro e melhorar a vida no Brasil era o que movia os nikkeis. Infelizmente isso acabou culminando em vários problemas familiares.
Portal Webnews: Como era sua vida nessa época?
Daniel Oshiro: Nessa época dos 14 anos foi quando comecei a andar em Hamamatsu (acompanhado do meu melhor amigo, até hoje). Eramos muitos pelo centro de Hamamatsu e todo fim de semana estavamos por lá. Eramos dividos em várias “galeras”, eu no entando fiquei na que tinha fama pior. Mas era bem diferente do que as pessoas de foram viam. Tinhamos regras não escritas de respeito e solidariedade entre nós. Aquilo tudo pra mim foi a escola da minha vida.
Portal Webnews: O que faziam no centro de Hamamatsu?
Daniel Oshiro: O centro de Hamamatsu era o ponto de encontro. Como Hamamatsu era razoavelmente grande e os brasileiros era concentratos em várias partes, acabávamos nos encontrando sempre na região do centro da cidade. Costumávamos ficar muito perto da estação de Shin-Hamamatsu, ao lado do antigo edifício Forte. Depois de nos reunirmos ali decidíamos o que iríamos fazer, ou ficávamos por lá mesmo, na maioria das vezes. Além do pessoal de Hamamatsu vinha gente de Iwata, Fukuroi, Kakegawa, Yaizu, etc.
Portal Webnews: Porque sua galera tinha má-fama?
Daniel Oshiro: Porque éramos os garotos que ficavam na rua o tempo todo. Tinha a galera que saia pouco, o pessoal das escolas, etc. Mas nós tínhamos fama de se envolver com brigas, roubos, drogas, etc. Muitos de nós fazíamos isso, não todos, obviamente. E também éramos os únicos que se envolvia com o pessoal mais velho, que as vezes estavam envolvidos em delitos mais graves ainda. Mas a aos olhos dos outros nós todos éramos iguais. E apesar da má-fama, éramos populares entre o pessoal da mesma faixa etária.
Portal Webnews: Como conheceu o Hip hop?
Danile Oshiro: Meu primeiro contato foi com o Rap, meu irmão ouvia Public Enemy, Racionais, Gabriel, o Pensador, entre outros. Eu ouvia com ele, até que ele me deu um K-7 do Rap Brasil Volume 1. Depois disso ainda ouvia Pepeu, Racionais, Thaide e Dj Hum, Face da Morte, Realidade Cruel entre outros.
Mas meu interesse mesmo só veio aos 14/15 anos, quando ouvi SNJ e vi que a ideia do “Hip Hop Futurista” combinava mais comigo, do que o “Gangsta Rap “. Foi aí que comecei a pesquisar sobre Hip hop e tive conhecimento da história dos negros pelo mundo. Black Panthers, Afrika Bambaataa, Zumbi, Marthin Luther King Jr., entre outros.
Portal Webnews: O Hip hop te salvou?
Daniel Oshiro: Posso dizer que sim, o Hip Hop me mostrou um caminho que ninguém podia (ou tinha tempo) para ensinar. Com meus pais trabalhando e nenhum adulto por perto, restava pra todos nós escutar conselhos de estranhos. Foi nisso que o Rap entrou. O Hip Hop não evitou que eu fizesse coisas que eu me arrepende-se, mas me impos limites para que eu sempre pudesse sair são e salvo das enrascadas.
Ouvia o que o Rap dizia e pensava, “no Brasil as condições são mais dificeis. Se eles conseguem ter esperança e cabeça no lugar, eu também consigo”. Ouvia do SNJ “Se tu lutas, tu conquistas”, era uma esperança a mais que ninguém nunca havia me dado. O desinteresse e falta de apoio dos adultos sempre me fez desacreditar de mim mesmo. O rap levantou a auto-estima e me deu muitas opções.
Portal Webnews: Se não fosse o Hip hop onde você estaria?
Daniel Oshiro: Quem sabe? Não posso dizer ao certo, mas pode ter certeza que se não fosse por ele, eu estaria em uma vida totalmente diferente. A maioria dos meus amigos já foram presos, a algum tempo atrás tinhamos contato com os que nunca foram presos. Lembro que eram menos de 10. Talvez naquela época eu poderia ter sido preso por algum delito, me viciado em cristal como a maioria foi. Mas talvez hoje em dia poderia ter sido o maior problema.
A maioria das pessoas não sabem, mas de dois ou três atrás para hoje Hamamatsu mudou bastante. Os iranianos que controlavam o tráfico de drogas foram substituídos (à força) por brasileiros. Muitos viveram alguns meses apenas disso, alguns foram presos até por assassinato de um deles. Por isso eu realmente não sei o que poderia ter acontecido comigo. Quem sabe eu poderia ter pego oito anos de prisão como um amigo meu ou talvez ter tido um filho com 16 anos, como outros tantos.
Portal Webnews: Porque você acha que os jovens se envolvem com o crime?
Daniel Oshiro: O que eu via, era diversão. Éramos “invenciveis” aquela época, não havia ninguém pra nos parar (a não ser a policia, que não era tão eficiente) e por isso faziamos mais e mais. Alguns tinham consciência e pararam, outros continuaram cometendo delitos cada vez mais graves.
Entre nós, era comum ver gente contando vantagem de uma ou outra “fita” que havia feito. Era uma questão de popularidade, de se destacar em meio a tantos. Dependia da cabeça de cada um e das companhias.
Portal Webnews: E com as drogas?
Daniel Oshiro: As drogas é talvez o mais polêmico. Nunca ninguém me disse pra não usar drogas. Nunca nenhum policial, assistente social, professor, pais ou qualquer adulto responsável chegou pra mim e me explicou o porque as drogas faziam mal.
Posso afirmar que nenhuma de nós usou drogas para “fugir da realidade” ou algo do tipo. Usar drogas por estar triste não foi nosso motivo. Era uma confraternização, sair com os amigos, bagunçar, etc.
Diferente do que muitos pensam, nunca incentivavam os não-usuários a usar. Era um tipo de ética. Mas muitos fazia voluntariamente por curiosidade ou fazer parte do grupo.
Portal Webnews: E para quem já entrou, qual é a saída?
Daniel Oshiro: É querer sair, simplesmente. A maioria não tenta por não saber o mal que faz e quando já faz mal o suficiente, já não consegue raciocinar pra isso.
O apoio dos pais é essencial, muitos abandonam os filhos ou ignoram os problemas nas horas mais graves. Escolher as amizades também é importante. Aprendi que existem todos os tipos de amigos, pedir o apoio deles para sair do vicio é a maneira mais fácil.
Nesses anos de Japão, as pessoas mais preciosas pra mim são meus amigos. E tudo que construí até hoje foi com ajuda deles. Mesmo ouvindo todos os dias críticas e ofensas dos meus pais para meus amigos, é por causa deles, e não dos meus pais, que tenho vontade de mudar as coisas.
Portal Webnews: Como podemos ajudar os menores a não entrarem nessa?
Daniel Oshiro: Basicamente é só não deixa-los sozinhos. Crianças não sabem o que fazem, se soubessem não seriam crianças. Elas precisam de conselhos, apoio, conversa.
De que adianta um pai bater no filho depois que ele foi detido por usar drogas? Só aumenta a revolta e faz ele voltar aos amigos para pedir apoio, normalmente amigos que também usam. O que os “adultos” não entendem é que se em casa não existe uma familia formada, os jovem forma uma familia na rua. E depois disso, cada um da sua vida pela sua familia e é claro que a “familia” que esta em casa, torna-se cada vez menos importante.
Portal Webnews: Para terminar, cite os grupos de rap que você mais gosta.
Daniel Oshiro: Foram muitos, cada um representou uma época. Mas fazendo uma lista dos que se destacaram em minha vida foram:
SNJ, com “Se tu lutas, tu conquistas”, Sabotage com “Um bom lugar”, Racionais com “Tô ouvindo alguém me chamar”, MV Bill com “Declaração de Guerra”, Kamau com “Poesia de Concreto”, Realidade Cruel com “Vale da Escuridão”. Entre outros que marcaram épocas da minha vida.
Se a América nasceu nas ruas. No Japão, os filhos dos dekasseguis serão educados nelas.
Qualquer semelhança com o filme Martin Scorsese não é coincidência.
Filhos de imigrantes econtram na rua a sua verdadeira família.
A estação de Hamamatsu vira o bairro barra pesada de Five Points
Yukio Spinosa do Portal Webnews entrevista o nosso Leonardo DiCaprio, o Daniel Oshiro.
Redação Portal WebNews
Por Yukio Spinosa Foto: Arquivo pessoal
Líder do Grupo Arteiros conta história entre as gangues de Hamamatsu
Daniel Oshiro de Hamamatsu
Quando um jovem brasileiro comete um crime no Japão, não faltam críticos compatriotas para condená-lo e à sua família. Dizem que “os bons pagam pelos maus” e que por culpa de poucos toda a comunidade estrangeira é discriminada.
Porém o sistema que traz brasileiros como mão-de-obra barata e força os pais a trocarem seu tempo por dinheiro, a ineficácia da Educação das escolas japonesas e brasileiras, a formação de guetos brasileiros nos conjuntos habitacionais do governo e comércios e a indiferença da sociedade japonesa para com seus descendentes faz todos cúmplices deste crime.
Hoje trabalhando em fábrica, com postura séria, Daniel Oshiro guarda a verdadeira história do “movimento dekassegui.” Em seu tempo livre dedica-se ao projeto Arteiros, que em parceria a órgãos governamentais ajuda a conscientizar jovens estrangeiros sobre o perigo da entrada no crime.
As últimas realizações do grupo foram palestra em parceria com a polícia de Shizuoka e exibição do filme “Profissão MC” de Alessandro Buzo, o lançamento da coletânea de Rap Nacional “São Paulo is Burning” e no dia 25 de dezembro, a comemoração do Natal Free Hugs no centro de Nagoia.
Com pouca idade Daniel desembarcou no Japão, trazido por seus pais, que vieram trabalhar no início do chamado “movimento decasségui” na década de 90. Ele morou em Guaíba (RS) até os três anos. Depois foi para a Província de Aichi no Japão, voltou com a família ao Brasil, desta vez para Fernandópolis (SP). Retornou ao Japão, estabelecendo-se na cidade de Shimizu (Shizuoka) até os 15 e depois Hamamatsu, a cidade com maior número de brasileiros do arquipélago.
“O que pode ser chamado de “infância” foi só em Hamamatsu, até então não tive contato com pessoas da mesma idade”.
O que poderia acontecer com Daniel é o que aconteceu com muitos de seus amigos e jovens da mesma idade em circunstâncias idênticas. Ausência de planejamento familiar, que leva os adolescentes brasileiros a se unirem em gangues, praticar pequenos furtos, e dar início à vida marginal. Prisões, disputas de território de venda de entorpecentes contra rivais de outras nacionalidades, paternidade precoce, são as consequências do estilo de vida a que os jovens brasileiros foram submetidos.
Em meio a essa realidade, um verso do grupo SNJ (Somos Nós a Justiça), de Guarulhos, Zona Norte de São Paulo o leva a crer que outra vida seria possível.
Portal Webnews: Por que seus pais vieram ao Japão?
Daniel Oshiro: Meu pai inicialmente veio para o Japão em 1990, como qualquer outro decasségui na época. A promessa de poder juntar dinheiro e melhorar a vida no Brasil era o que movia os nikkeis. Infelizmente isso acabou culminando em vários problemas familiares.
Portal Webnews: Como era sua vida nessa época?
Daniel Oshiro: Nessa época dos 14 anos foi quando comecei a andar em Hamamatsu (acompanhado do meu melhor amigo, até hoje). Eramos muitos pelo centro de Hamamatsu e todo fim de semana estavamos por lá. Eramos dividos em várias “galeras”, eu no entando fiquei na que tinha fama pior. Mas era bem diferente do que as pessoas de foram viam. Tinhamos regras não escritas de respeito e solidariedade entre nós. Aquilo tudo pra mim foi a escola da minha vida.
Portal Webnews: O que faziam no centro de Hamamatsu?
Daniel Oshiro: O centro de Hamamatsu era o ponto de encontro. Como Hamamatsu era razoavelmente grande e os brasileiros era concentratos em várias partes, acabávamos nos encontrando sempre na região do centro da cidade. Costumávamos ficar muito perto da estação de Shin-Hamamatsu, ao lado do antigo edifício Forte. Depois de nos reunirmos ali decidíamos o que iríamos fazer, ou ficávamos por lá mesmo, na maioria das vezes. Além do pessoal de Hamamatsu vinha gente de Iwata, Fukuroi, Kakegawa, Yaizu, etc.
Portal Webnews: Porque sua galera tinha má-fama?
Daniel Oshiro: Porque éramos os garotos que ficavam na rua o tempo todo. Tinha a galera que saia pouco, o pessoal das escolas, etc. Mas nós tínhamos fama de se envolver com brigas, roubos, drogas, etc. Muitos de nós fazíamos isso, não todos, obviamente. E também éramos os únicos que se envolvia com o pessoal mais velho, que as vezes estavam envolvidos em delitos mais graves ainda. Mas a aos olhos dos outros nós todos éramos iguais. E apesar da má-fama, éramos populares entre o pessoal da mesma faixa etária.
Portal Webnews: Como conheceu o Hip hop?
Danile Oshiro: Meu primeiro contato foi com o Rap, meu irmão ouvia Public Enemy, Racionais, Gabriel, o Pensador, entre outros. Eu ouvia com ele, até que ele me deu um K-7 do Rap Brasil Volume 1. Depois disso ainda ouvia Pepeu, Racionais, Thaide e Dj Hum, Face da Morte, Realidade Cruel entre outros.
Mas meu interesse mesmo só veio aos 14/15 anos, quando ouvi SNJ e vi que a ideia do “Hip Hop Futurista” combinava mais comigo, do que o “Gangsta Rap “. Foi aí que comecei a pesquisar sobre Hip hop e tive conhecimento da história dos negros pelo mundo. Black Panthers, Afrika Bambaataa, Zumbi, Marthin Luther King Jr., entre outros.
Portal Webnews: O Hip hop te salvou?
Daniel Oshiro: Posso dizer que sim, o Hip Hop me mostrou um caminho que ninguém podia (ou tinha tempo) para ensinar. Com meus pais trabalhando e nenhum adulto por perto, restava pra todos nós escutar conselhos de estranhos. Foi nisso que o Rap entrou. O Hip Hop não evitou que eu fizesse coisas que eu me arrepende-se, mas me impos limites para que eu sempre pudesse sair são e salvo das enrascadas.
Ouvia o que o Rap dizia e pensava, “no Brasil as condições são mais dificeis. Se eles conseguem ter esperança e cabeça no lugar, eu também consigo”. Ouvia do SNJ “Se tu lutas, tu conquistas”, era uma esperança a mais que ninguém nunca havia me dado. O desinteresse e falta de apoio dos adultos sempre me fez desacreditar de mim mesmo. O rap levantou a auto-estima e me deu muitas opções.
Portal Webnews: Se não fosse o Hip hop onde você estaria?
Daniel Oshiro: Quem sabe? Não posso dizer ao certo, mas pode ter certeza que se não fosse por ele, eu estaria em uma vida totalmente diferente. A maioria dos meus amigos já foram presos, a algum tempo atrás tinhamos contato com os que nunca foram presos. Lembro que eram menos de 10. Talvez naquela época eu poderia ter sido preso por algum delito, me viciado em cristal como a maioria foi. Mas talvez hoje em dia poderia ter sido o maior problema.
A maioria das pessoas não sabem, mas de dois ou três atrás para hoje Hamamatsu mudou bastante. Os iranianos que controlavam o tráfico de drogas foram substituídos (à força) por brasileiros. Muitos viveram alguns meses apenas disso, alguns foram presos até por assassinato de um deles. Por isso eu realmente não sei o que poderia ter acontecido comigo. Quem sabe eu poderia ter pego oito anos de prisão como um amigo meu ou talvez ter tido um filho com 16 anos, como outros tantos.
Portal Webnews: Porque você acha que os jovens se envolvem com o crime?
Daniel Oshiro: O que eu via, era diversão. Éramos “invenciveis” aquela época, não havia ninguém pra nos parar (a não ser a policia, que não era tão eficiente) e por isso faziamos mais e mais. Alguns tinham consciência e pararam, outros continuaram cometendo delitos cada vez mais graves.
Entre nós, era comum ver gente contando vantagem de uma ou outra “fita” que havia feito. Era uma questão de popularidade, de se destacar em meio a tantos. Dependia da cabeça de cada um e das companhias.
Portal Webnews: E com as drogas?
Daniel Oshiro: As drogas é talvez o mais polêmico. Nunca ninguém me disse pra não usar drogas. Nunca nenhum policial, assistente social, professor, pais ou qualquer adulto responsável chegou pra mim e me explicou o porque as drogas faziam mal.
Posso afirmar que nenhuma de nós usou drogas para “fugir da realidade” ou algo do tipo. Usar drogas por estar triste não foi nosso motivo. Era uma confraternização, sair com os amigos, bagunçar, etc.
Diferente do que muitos pensam, nunca incentivavam os não-usuários a usar. Era um tipo de ética. Mas muitos fazia voluntariamente por curiosidade ou fazer parte do grupo.
Portal Webnews: E para quem já entrou, qual é a saída?
Daniel Oshiro: É querer sair, simplesmente. A maioria não tenta por não saber o mal que faz e quando já faz mal o suficiente, já não consegue raciocinar pra isso.
O apoio dos pais é essencial, muitos abandonam os filhos ou ignoram os problemas nas horas mais graves. Escolher as amizades também é importante. Aprendi que existem todos os tipos de amigos, pedir o apoio deles para sair do vicio é a maneira mais fácil.
Nesses anos de Japão, as pessoas mais preciosas pra mim são meus amigos. E tudo que construí até hoje foi com ajuda deles. Mesmo ouvindo todos os dias críticas e ofensas dos meus pais para meus amigos, é por causa deles, e não dos meus pais, que tenho vontade de mudar as coisas.
Portal Webnews: Como podemos ajudar os menores a não entrarem nessa?
Daniel Oshiro: Basicamente é só não deixa-los sozinhos. Crianças não sabem o que fazem, se soubessem não seriam crianças. Elas precisam de conselhos, apoio, conversa.
De que adianta um pai bater no filho depois que ele foi detido por usar drogas? Só aumenta a revolta e faz ele voltar aos amigos para pedir apoio, normalmente amigos que também usam. O que os “adultos” não entendem é que se em casa não existe uma familia formada, os jovem forma uma familia na rua. E depois disso, cada um da sua vida pela sua familia e é claro que a “familia” que esta em casa, torna-se cada vez menos importante.
Portal Webnews: Para terminar, cite os grupos de rap que você mais gosta.
Daniel Oshiro: Foram muitos, cada um representou uma época. Mas fazendo uma lista dos que se destacaram em minha vida foram:
SNJ, com “Se tu lutas, tu conquistas”, Sabotage com “Um bom lugar”, Racionais com “Tô ouvindo alguém me chamar”, MV Bill com “Declaração de Guerra”, Kamau com “Poesia de Concreto”, Realidade Cruel com “Vale da Escuridão”. Entre outros que marcaram épocas da minha vida.
OBAMA X ASSANGE E O RICARDÃO BRASILIENSE
OBAMA CONTACTA SEUS CAPAXOS E TENTA CONTORNAR AS GRAVES DENÚNCIAS DO WIKILEAKS.
OBAMA DEVERIA PENALIZAR OS AUTORES DAS FAÇANHAS DENUNCIADAS.
OBAMA NÃO DEVERIA PENALIZAR QUEM AS DENUNCIOU, NO CASO O WIKILEAKS.
OBAMA COM ESTA ATITUDE, ESTÁ A DAR VERACIDADE ÀS DENUNCIAS E CONFESSANDO A SUA PARTICIPAÇÃO NO ESQUEMA DEPLORÁVEL DA MANEIRA “MAQUIAVÉLICA” DE POLITICAR E AGIR COM SEUS ALIADOS.
OBAMA LEMBRA A MÁXIMA APLICADA EM BRASÍLIA, ONDE um amigo me confidenciou algo sobre um parente próximo, que havia se separado de sua primeira mulher, e se casou novamente, mas com uma menina de 15 anos, mas seus filhos do primeiro casamento continuaram a conviver com ele, mais do que de repente, a nova família se deparou com algo inusitado, um caso de adultério envolvendo a sua jovem esposa, denunciado pela sua própria empregada, o mais surpreendente é que o Ricardão, era seu próprio filho, como resolver este terrível quiprocó? Espetacular e raro, encontraram uma solução para manter as aparências, DEMITIRAM A EMPREGADA. Pior de tudo, ISSO NÃO É UMA PIADA, É UM CASO VERÍDICO ACONTECIDO EM BRASÍLIA, E O ENVOLVIDO MAIOR É UM GOIANO.
OBAMA ESTÁ A IMITAR O GOIANO DE BRASÍLIA, COMO ELE NÃO PODE, A EXEMPLO DO GOIANO, DEMITIR O AUSTRALIANO “ASSANGE”, DIRETOR DO WIKILEAKS, ARMA UMA ARAPUCA SEXUAL, EXECUTADA COM MAESTRIA PELOS JUDEUS E CONSEGUE PRENDE-LO, MAS ISSO NÃO O EXIMIRÁ DE SUAS RESPONSABILIDADES, LOGO AS URNAS O EXPULSARÃO DESTE CENÁRIO, ONDE NUNCA DEVERIA TER CHEGADO.
OBAMA O PRESIDENTE CAPAXO, PRATICOU UM ESTELIONATO ELEITORAL CARACTERÍSTICO, DISSE E PROMETEU MUDANÇAS, NÃO MUDOU NADA, NÃO CUMPRIU UMA ÚNICA PROMESSA, E NO REINO DOS JUDEUS, QUE É OS ESTADOS UNIDOS CONTINUA O "STATUS QUO ANTE".
UM DIA OS AMERICANOS VÃO ACORDAR E PERCEBER QUE AS MAIORES VÍTIMAS SÃO ELES PRÓPRIOS, AÍ SIM VIRÃO AS VERDADEIRAS MUDANÇAS, A EXEMPLO DO QUE OCORRE NA VENEZUELA COM O PATRIOTA LATINO AMERICANO "HUGO CHAVEZ", SE DEREM SORTE EM ENCONTRAR ALGUÉM COM O PERFIL DE "HUGO CHAVEZ" OU DE "SALVADOR ALLENDE" OU MESMO DO SAUDOSO AMERICANO ASSASSINADO "JOHN KENEDY".
VEJA REPORTAGEM DA SAIA JUSTA EM QUE OBAMA SE METEU:
.- AFP presidente dos EUA, Barack Obama, telefonou ao primeiro-ministro turco eo presidente do México no sábado para discutir a "deplorável acção" WikiLeaks, dizendo que a divulgação de cabos dos EUA não deve prejudicar as relações bilaterais, disse que a Casa White.
"O presidente lamentou a WikiLeaks acção deplorável e os dois líderes concordaram que (ele) não vai influenciar ou alterar a estreita cooperação entre a Turquia e os Estados Unidos", disse um comunicado da Casa Branca referindo-se à conversa com o primeiro ministro turco Recep Tayyip Erdogan PM.
Obama também contactou o presidente do México, Felipe Calderón, e ambos concordaram que "ações irresponsáveis (WikiLeaks) não deve distrair os dois países importantes na cooperação", acrescentou a Casa Branca.
POSTADO POR VOLTAIRE
OBAMA DEVERIA PENALIZAR OS AUTORES DAS FAÇANHAS DENUNCIADAS.
OBAMA NÃO DEVERIA PENALIZAR QUEM AS DENUNCIOU, NO CASO O WIKILEAKS.
OBAMA COM ESTA ATITUDE, ESTÁ A DAR VERACIDADE ÀS DENUNCIAS E CONFESSANDO A SUA PARTICIPAÇÃO NO ESQUEMA DEPLORÁVEL DA MANEIRA “MAQUIAVÉLICA” DE POLITICAR E AGIR COM SEUS ALIADOS.
OBAMA LEMBRA A MÁXIMA APLICADA EM BRASÍLIA, ONDE um amigo me confidenciou algo sobre um parente próximo, que havia se separado de sua primeira mulher, e se casou novamente, mas com uma menina de 15 anos, mas seus filhos do primeiro casamento continuaram a conviver com ele, mais do que de repente, a nova família se deparou com algo inusitado, um caso de adultério envolvendo a sua jovem esposa, denunciado pela sua própria empregada, o mais surpreendente é que o Ricardão, era seu próprio filho, como resolver este terrível quiprocó? Espetacular e raro, encontraram uma solução para manter as aparências, DEMITIRAM A EMPREGADA. Pior de tudo, ISSO NÃO É UMA PIADA, É UM CASO VERÍDICO ACONTECIDO EM BRASÍLIA, E O ENVOLVIDO MAIOR É UM GOIANO.
OBAMA ESTÁ A IMITAR O GOIANO DE BRASÍLIA, COMO ELE NÃO PODE, A EXEMPLO DO GOIANO, DEMITIR O AUSTRALIANO “ASSANGE”, DIRETOR DO WIKILEAKS, ARMA UMA ARAPUCA SEXUAL, EXECUTADA COM MAESTRIA PELOS JUDEUS E CONSEGUE PRENDE-LO, MAS ISSO NÃO O EXIMIRÁ DE SUAS RESPONSABILIDADES, LOGO AS URNAS O EXPULSARÃO DESTE CENÁRIO, ONDE NUNCA DEVERIA TER CHEGADO.
OBAMA O PRESIDENTE CAPAXO, PRATICOU UM ESTELIONATO ELEITORAL CARACTERÍSTICO, DISSE E PROMETEU MUDANÇAS, NÃO MUDOU NADA, NÃO CUMPRIU UMA ÚNICA PROMESSA, E NO REINO DOS JUDEUS, QUE É OS ESTADOS UNIDOS CONTINUA O "STATUS QUO ANTE".
UM DIA OS AMERICANOS VÃO ACORDAR E PERCEBER QUE AS MAIORES VÍTIMAS SÃO ELES PRÓPRIOS, AÍ SIM VIRÃO AS VERDADEIRAS MUDANÇAS, A EXEMPLO DO QUE OCORRE NA VENEZUELA COM O PATRIOTA LATINO AMERICANO "HUGO CHAVEZ", SE DEREM SORTE EM ENCONTRAR ALGUÉM COM O PERFIL DE "HUGO CHAVEZ" OU DE "SALVADOR ALLENDE" OU MESMO DO SAUDOSO AMERICANO ASSASSINADO "JOHN KENEDY".
VEJA REPORTAGEM DA SAIA JUSTA EM QUE OBAMA SE METEU:
.- AFP presidente dos EUA, Barack Obama, telefonou ao primeiro-ministro turco eo presidente do México no sábado para discutir a "deplorável acção" WikiLeaks, dizendo que a divulgação de cabos dos EUA não deve prejudicar as relações bilaterais, disse que a Casa White.
"O presidente lamentou a WikiLeaks acção deplorável e os dois líderes concordaram que (ele) não vai influenciar ou alterar a estreita cooperação entre a Turquia e os Estados Unidos", disse um comunicado da Casa Branca referindo-se à conversa com o primeiro ministro turco Recep Tayyip Erdogan PM.
Obama também contactou o presidente do México, Felipe Calderón, e ambos concordaram que "ações irresponsáveis (WikiLeaks) não deve distrair os dois países importantes na cooperação", acrescentou a Casa Branca.
POSTADO POR VOLTAIRE
A batalha da WikiLeaks
Reproduzo artigo de Luis Nassif, publicado em seu blog:
A batalha da WikiLeaks – o site que vazou milhares de documentos secretos do Departamento de Estado norte-americano – é um divisor de águas na política mundial. Não fosse esse episódio, seria outr. Desde que surgiu a Internet, aguardava-se o dia em que provocaria o desmoronamento completo do jogo político e diplomático convencionais.
Historicamente, política e diplomacia foram exercitadas com enorme dose de hipocrisia. Há um jogo interno e um teatro para o público. É possível dois parlamentares encenarem brigas homéricas no plenário e saírem juntos para jantar. Ou a diplomacia de dois países demonstrarem relações civilizadas por cima e, por baixo da mesa, trocarem pontapés.
Faz parte do jogo da democracia representativa e das relações internacionais.
***
Na democracia representativa, o poder se exerce de maneira diferente em dois momentos distintos: nas eleições e no pós-eleições.
O verdadeiro poder se estabelece no pós-eleições. Compartilham dele os partidos políticos, grupos estabelecidos nos diversos poderes, grandes fornecedores do Estado, grupos econômicos influentes.
Esse é o jogo subterrâneo, no qual alianças, interesses, esquemas tendem a se estratificar, muitas vezes amarrando o desenvolvimento das democracias.
***
A cada quatro ou cinco anos vêm as eleições. É um dos poucos momentos em que o cidadão se manifesta.
Nas eleições há o teatro político, a denúncia, a radicalização do discurso, a captação das novas tendências da população, até então difusas, a retórica fácil. Convencer o eleitor é peça central do jogo. São esses momentos únicos, que se repetem a cada quatro anos, os responsáveis pela dinamização do país. Não significa que o eleitor sempre acerte. Mas ele sempre provoca as mudanças.
***
Em 1989, farto do jogo político e da paralisia total nas decisões de política econômica, o eleitor votou em Fernando Collor para o trabalho de desmonte da estrutura dos anos 80. Em 1994, considerou que Fernando Henrique Cardoso era o mais capaz para conduzir a estabilização econômica.
Em 2002, julgou que era a hora de se pensar no social. E elegeu Lula.
Em 2010 considerou importante a consolidação do modelo Lula e votou em Dilma.
***
As eleições determinam mudanças nas prioridades públicas, mas, passado o momento, o exercício do poder volta ao leito original, com mudanças lentas de rumo e com o mesmo exercício da hipocrisia.
O WikiLeaks simplesmente abriu as cortinas no intervalo das representações e mostrou o que se passa nos bastidores. Esse jogo será cada vez mais aberto, seja no vazamento de documentos confidenciais, gravações de cenas por celulares, inconfidências que ganham a Internet. E provocarão a desconstrução tanto da diplomacia quanto do jogo político convencionais – através de suas duas pernas centrais, o Executivo/Congresso e a velha mídia.
***
Durante décadas, a velha mídia fez um trabalho sistemático de desconstrução da política, visando impor seu poder sobre os partidos. O WikiLeaks acaba desnudando as duas pontas do modelo e reforçando como nunca o poder do chamado leitor-cidadão.
É o Momento 1 da construção de um novo modelo de governança.
A batalha da WikiLeaks – o site que vazou milhares de documentos secretos do Departamento de Estado norte-americano – é um divisor de águas na política mundial. Não fosse esse episódio, seria outr. Desde que surgiu a Internet, aguardava-se o dia em que provocaria o desmoronamento completo do jogo político e diplomático convencionais.
Historicamente, política e diplomacia foram exercitadas com enorme dose de hipocrisia. Há um jogo interno e um teatro para o público. É possível dois parlamentares encenarem brigas homéricas no plenário e saírem juntos para jantar. Ou a diplomacia de dois países demonstrarem relações civilizadas por cima e, por baixo da mesa, trocarem pontapés.
Faz parte do jogo da democracia representativa e das relações internacionais.
***
Na democracia representativa, o poder se exerce de maneira diferente em dois momentos distintos: nas eleições e no pós-eleições.
O verdadeiro poder se estabelece no pós-eleições. Compartilham dele os partidos políticos, grupos estabelecidos nos diversos poderes, grandes fornecedores do Estado, grupos econômicos influentes.
Esse é o jogo subterrâneo, no qual alianças, interesses, esquemas tendem a se estratificar, muitas vezes amarrando o desenvolvimento das democracias.
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A cada quatro ou cinco anos vêm as eleições. É um dos poucos momentos em que o cidadão se manifesta.
Nas eleições há o teatro político, a denúncia, a radicalização do discurso, a captação das novas tendências da população, até então difusas, a retórica fácil. Convencer o eleitor é peça central do jogo. São esses momentos únicos, que se repetem a cada quatro anos, os responsáveis pela dinamização do país. Não significa que o eleitor sempre acerte. Mas ele sempre provoca as mudanças.
***
Em 1989, farto do jogo político e da paralisia total nas decisões de política econômica, o eleitor votou em Fernando Collor para o trabalho de desmonte da estrutura dos anos 80. Em 1994, considerou que Fernando Henrique Cardoso era o mais capaz para conduzir a estabilização econômica.
Em 2002, julgou que era a hora de se pensar no social. E elegeu Lula.
Em 2010 considerou importante a consolidação do modelo Lula e votou em Dilma.
***
As eleições determinam mudanças nas prioridades públicas, mas, passado o momento, o exercício do poder volta ao leito original, com mudanças lentas de rumo e com o mesmo exercício da hipocrisia.
O WikiLeaks simplesmente abriu as cortinas no intervalo das representações e mostrou o que se passa nos bastidores. Esse jogo será cada vez mais aberto, seja no vazamento de documentos confidenciais, gravações de cenas por celulares, inconfidências que ganham a Internet. E provocarão a desconstrução tanto da diplomacia quanto do jogo político convencionais – através de suas duas pernas centrais, o Executivo/Congresso e a velha mídia.
***
Durante décadas, a velha mídia fez um trabalho sistemático de desconstrução da política, visando impor seu poder sobre os partidos. O WikiLeaks acaba desnudando as duas pontas do modelo e reforçando como nunca o poder do chamado leitor-cidadão.
É o Momento 1 da construção de um novo modelo de governança.
WikiLeaks: EUA com as calças no varal
Reproduzo artigo de Antonio Luiz M. C. Costa, publicado na revista CartaCapital:
O que fazer de 251.287 memorandos diplomáticos? Uma leitura, análise e interpretação razoavelmente aprofundadas seriam um trabalho de anos, capaz de gerar milhares de artigos e teses acadêmicas em história, relações internacionais e ciências políticas.
Em vez de discutir as minúcias das árvores para as quais querem que prestemos atenção, busquemos uma visão geral da floresta. Uma conclusão inevitável é que o Departamento de Estado de fato põe diplomatas a serviço da espionagem, inclusive de seus aliados – e pode ter perdido parte da confiança destes, vista a facilidade- com que seus segredos são vazados.
Outra é que os EUA têm pouca capacidade de interpretação das informações que reúne. As opiniões desabridas de diplomatas de Washington e de seus amigos e informantes sobre líderes mundiais são por vezes divertidas, mas raramente acrescentam algo novo. Suas análises e especulações revelam poucos segredos e também pouca capacidade de ir além do senso comum.
Simon Jenkins, do Guardian, comenta: “A impressão é da superpotência mundial- vagando impotente num mundo onde ninguém se porta como ela pede. Irã, Rússia, Paquistão, Afeganistão, Iêmen, a ONU, todos vivem saindo do roteiro. Washington reage como um urso ferido, com instintos imperiais, mas uma projeção de poder improdutiva. Sua diplomacia mostra-se escrava do deslocamento da política à direita e se apavora com uma bomba que explode no exterior ou com um congressista pró-Israel”.
Nas palavras de um alto funcionário do governo argentino ao Página/12, as mensagens “revelam que uma parte da administração estadunidense se converteu em um Estado policial, com uma análise muito pobre da política internacional. Muitas vezes esse tipo de organismo, como os que fazem inteligência dentro do Departamento de Estado, exageram seu trabalho, apesar de chegarem a conclusões e limites absurdos, para justificar sua existência, pedir mais recursos e aumentar seu poder interno”.
Nos próprios documentos vazados, os diplomatas de Washington tiveram de relatar o desdém de aliados e inimigos por sua inteligência. Em um almoço no Quirguistão, um empresário britânico disse ao príncipe Andrew que os investimentos do Reino Unido e dos EUA no vizinho Cazaquistão eram comparáveis, embora a economia estadunidense seja muito maior.
“Nenhuma surpresa”, disse o príncipe, “os americanos não entendem de geografia, nunca entenderam.” Em uma recepção a senadores dos EUA, o presidente sírio Bashar Assad pondera: “Vocês possuem um gigantesco aparato de informação. Não temos esses recursos, mas somos bem-sucedidos no combate aos extremistas porque contamos com melhores analistas. Vocês gostam de fuzilar terroristas, mas sufocar as redes deles dá melhores resultados”.
Não se deve nem minimizar o conjunto como irrelevante fofoca de comadres ou papo de botequim para desvalorizar o que tem de incômodo, nem tratar as opiniões e alegações dos diplomatas dos EUA como verdade revelada. O material precisa ser criticado como qualquer outra fonte primária. John Kornblum, ex-embaixador dos EUA na Alemanha, contou como teve de escrever pareceres sobre personalidades do país onde atuava aos 23 anos, ao iniciar a carreira. Que avaliação séria do pensamento e dos planos de um líder estrangeiro poderia ter feito quando tão jovem e inexperiente?
Não há por que duvidar da autenticidade do material, mas com quais critérios foi escolhido por quem o vazou para o WikiLeaks? Bastaria um pen drive e um funcionário descontente, talvez tão jovem quanto o soldado de 23 anos acusa-do de vazar documentos sobre a Guerra no Iraque. Depois do atentado de 11 de setembro, as vias de comunicação diplomática foram unificadas na Secret Internet Protocol Router Network (SIPRnet), uma intranet para facilitar o acesso a informações sobre o terrorismo, para a qual 2,5 milhões de pessoas têm senhas. Mas não se pode descartar que o responsável tivesse uma agenda própria e quisesse apoiar ou prejudicar certos interesses.
Idem quanto ao próprio WikiLeaks e os jornais e revistas aos quais confiou seu material. Cada um seleciona ou prioriza à sua maneira. Seria ingenuidade pressupor sua neutralidade e isenção. Todas as publicações são ligadas às correntes principais dos interesses ocidentais: El País (Espanha), Le Monde (França), Der Spiegel (Alemanha) e Guardian (Reino Unido). The New York Times (EUA) não foi contemplado, provavelmente por causa do perfil desfavorável de Julian Assange, fundador do WikiLeaks, que publicou à época do vazamento sobre a guerra no Iraque, mas recebeu o material do Guardian.
O australiano Assange, vale notar, é muito mais próximo de Adam Smith do que de Karl Marx ou Bakunin, como mostrou em entrevista à revista Forbes: “Amo os mercados. Vivi em muitos países, vejo como é vibrante o setor de telecomunicações da Malásia. Nos EUA, tudo é verticalmente integrado e costurado, não há livre mercado. Na Malásia, há um amplo espectro de competidores e isso beneficia a todos”.
Como seus vazamentos se encaixam nisso? “Um mercado perfeito exige informação perfeita. Aprendi de muitos campos filosóficos e econômicos, mas um é o libertarianismo americano, de mercado. No que se refere a mercados, sou um libertarian, mas sei o suficiente de política e história para entender que um mercado livre acaba em monopólio se não for forçado a ser livre. O WikiLeaks foi criado para tornar o capitalismo mais livre e ético.”
É pouco justificada, por outro lado, a desconfiança do sociólogo radical James Petras, que estranhou a ausência de ações secretas dos EUA e de Israel. Mensagens classificadas como top secret não circulam na mesma rede. Embora se diga que 850 mil têm acesso a elas, poderia não ser o caso do responsável pelo vazamento, ou ele poderia não querer se arriscar tanto.
Podemos ver que o rei saudita Abdullah chamou Mahmoud Ahmadinejad de “Hitler” e que um assessor de Sarkozy classificou o Irã de “fascista” e sua diplomacia de “farsa”. Mas não lemos, por exemplo, o que árabes e europeus pensam de Israel e suas- ações em Gaza e na Cisjordânia, ou dos atentados do Mossad no exterior (com certeza em Dubai, provavelmente também no Irã). Por quê? Talvez os diplomatas prefiram contar só o que seus chefes queiram ouvir, mas tais mensagens também poderiam ter sido excluídas por algum dos interesses entre o pen drive e as manchetes.
É muito improvável que o material tenha sido deliberadamente vazado para justificar, digamos, ações militares contra o Teerã, como diz Ahmadinejad. Belicistas e sionistas tentam usar o material dessa maneira, mas é, no mínimo, uma faca de dois gumes. Ler que os EUA ouvem, apoiam e aconselham a oposição iraniana a prejudica junto a seu povo mais que ao governo de Ahmadinejad.
Não surpreende que reis árabes estejam de acordo com Israel em pressionar por uma guerra com o Irã – sabe-se como eles receiam o destino do xá Reza Pahlevi –, mas ver isso escrito em letras de forma pode minar seu prestígio com a população e fortalecer os fundamentalistas dentro de seus próprios países. Goste-se ou não, as pesquisas de opinião mostram que, dos árabes, 80% veem Israel como ameaça e 77% os EUA, mas só 10% o Irã.
Da mesma forma, se a oposição tenta usar contra o governo mensagens referentes ao Brasil, elas têm maior potencial para desmoralizar os amigos de Washington. Alardeou-se que “para EUA, Itamaraty é adversário”. Não é novidade, mas se para Tio Sam o ministro da Defesa, Nelson Jobim, é “um dos líderes mais confiáveis no Brasil”, isso só o faz menos confiável para defender interesses brasileiros e fortalece o chefe da Secretaria de Assuntos Estratégicos, Samuel Pinheiro Guimarães, que Jobim teria descrito ao embaixador Clifford Sobel como alguém que “odeia os EUA” e “cria problemas” entre os dois países.
Também caiu mal no Itamaraty a indiscrição de Jobim sobre um (suposto) câncer de Evo Morales, aparentemente revelando um segredo de Estado da Bolívia para ganhar a confiança de Washington. Também não ficou bem o general Jorge Félix, ministro da Segurança Institucional, ao dar ao embaixador a impressão de que discordava de Brasília e apoiava Washington quanto à Venezuela.
Dizer que o Brasil resistiu às pressões de Washington para impor leis “antiterroristas” e preferiu prender e processar por crimes comuns eventuais suspeitos de ligações com o terrorismo, reforça o prestígio do governo nos movimentos sociais como o MST que poderiam ser criminalizados por tal legislação, por mais que jornais escrevam que “Brasil oculta terrorismo” e “Dilma ‘cassou’ projeto de lei que reforçaria o combate ao terrorismo”.
Esta última afirmação exemplifica bem a lógica circular da inteligência dos EUA. Segundo o relatório em questão, pediu-se ao assessor do Gabinete de Segurança Institucional, Janer Tesch Alvarenga, para confirmar que foi Dilma quem derrubou a proposta, como escrevera o Correio Braziliense. A explicação foi complexa e correta: tratou-se de uma decisão política que atendeu a vários setores do governo, notadamente o ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos.
Para o autor do relatório, Alvarenga “tergiversou” e “não negou”. O memorando preferiu destacar o palpite do major André Luís Woloszyn que, formado no Colégio Interamericano de Defesa dos EUA, falou a língua que a embaixada queria ouvir. Segundo o major, a reportagem do Correio “soava muito crível”. O GSI foi cortina de fumaça para iludir os EUA quanto à disposição desse governo “repleto de militantes esquerdistas” de combater o terrorismo e “a mente brasileira” não se preocupa com extremismo na sua comunidade muçulmana porque “não vai além de seus clichês sobre o paraíso multicultural que é o Brasil. Só mudaria com uma onda de violência como a do PCC”. (Sugestão implícita?)
E assim os EUA, em vez de monitorar o ambiente e tentar compreender o que lhes é estranho, preferem ouvir as próprias criaturas e correr atrás da própria sombra – como também a imprensa conservadora brasileira, ao destacar comunicados da embaixada sobre “corrupção” no governo brasileiro que nada mais fazem que refletir a opinião e os vieses da imprensa lida pelos diplomatas.
Da mesma forma, notas das embaixadas na Ásia Central sobre fraude na eleição no Irã não fazem mais que expressar a opinião da oposição iraniana. Não são necessariamente mais acuradas que a informação – provavelmente da mesma fonte – que em agosto de 2009 dava o líder supremo aiatolá Khatami como doente terminal de leucemia, com poucos meses de vida (14 meses depois, ele continua ativo e recebendo dignitários estrangeiros).
O maior estrago do vazamento pode ter sido feito nas relações com Ancara, aliada tradicional da Otan e de onde parte o maior número de mensagens destinadas a Washington. O chanceler Ahmet Davutoglu, que negociou com o Irã ao lado do colega brasileiro Celso Amorim, é chamado de sicofanta e de perigoso neo-otomanista.
O primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan é acusado de tentar criar um Estado islâmico, citando-se o embaixador de Israel- na Turquia para quem Erdogan é “um fundamentalista que nos odeia religiosamente”. E o que é pior do ponto de vista político, se diz em um dos relatórios que ele seria proprietário de oito contas secretas na Suíça, o que ele nega peremptoriamente, mas a oposição tenta capitalizar.
Se os aliados dos EUA na Europa e no Oriente Médio rangeram os dentes ao tomar conhecimento dos documentos vazados, seus rivais e desafetos na América Latina tiveram motivos para sorrir.
Enquanto a maior parte da imprensa dos EUA e do Brasil insistia em falar de “deposição constitucional” de Manuel Zelaya, a embaixada dos EUA em Honduras não tinha receio de dar nome aos bois, referir-se ao golpe ilegal como tal e tachar de ilegítimo o regime de Roberto Micheletti. Evo Morales e Hugo Chávez estão vingados: suas afirmações de que as embaixadas dos EUA são centros de espionagem, pelas quais foram muitas vezes ironizados, estão comprovadas por escrito.
Uma mensagem de Hillary Clinton ordena a seu pessoal na ONU buscar dados biométricos, senhas de e-mail e números de cartões de crédito e de viagens de diplomatas no Conselho de Segurança – inclusive os do Brasil e do Reino Unido – e do próprio secretário-geral Ban Ki-moon. Segundo a BBC foi um choque ao menos para o embaixador britânico, que se imaginava protegido pela “relação especial” com Washington. Informações semelhantes são pedidas sobre candidatos à Presidência do Paraguai e líderes africanos.
É evidente a tentativa de violar segredos até de aliados – ou de conseguir dados pessoais úteis para chantagem. Partiu de Hillary uma ordem para investigar “como Cristina Kirchner lidava com seus nervos e ansiedades” e se tomava medicamentos. Também se interessava por quanto a situação gastrointestinal de Néstor o incomodava e por seus remédios, mas não pelos problemas cardíacos que depois o mataram.
Enquanto os EUA bisbilhotam o mundo, grande parte dos governos e da mídia condena a bisbilhotice do WikiLeaks ou tenta desqualificá-lo como irrelevante. O britânico Guardian defendeu o vazamento dedicou-se a um trabalho sério de análise e acompanhamento das repercussões, mas é exceção.
Comparou-o aos famosos “Papéis do Pentágono”, de 1971: na ocasião, o analista militar e coautor Daniel Ellsberg vazou 14 mil páginas de relatórios sobre a Guerra do Vietnã que discutiam ações secretas que incluíam bombardeios de países neutros e ataques diretos ao Vietnã do Norte, oficialmente negados.
As revelações foram publicadas pelo New York Times e Washington Post, que contestaram na Justiça a tentativa de Nixon de proibi-los e venceram. Ellsberg foi processado por traição e absolvido, enquanto os agentes da Casa Branca foram punidos por arrombar o consultório de seu psiquiatra em busca de dados comprometedores sobre sua saúde mental.
Hoje, o presidenciável republicano Mike Huckabee, ex-governador do Arkansas, pede pena de morte por traição a quem quer que tenha vazado os documentos ao WikiLeaks. Apesar da cobrança de republicanos como Sarah Palin, não há como enquadrá-lo como “organização terrorista” e Tio Sam recorreu ao jeitinho condenado pelo major Woloszyn: pôs a Interpol atrás de Assange sob a acusação, provavelmente forjada, de estupro na Suécia. Depois de dificultar doações ao site, pressionou a Amazon a expulsá-lo de seus servidores, o que ocorreu na quarta-feira 1º de dezembro.
Para Thomas Flanagan, assessor do primeiro-ministro canadense Stephen Harper, não basta: Barack Obama deveria oferecer uma recompensa a quem matar o australiano, ou “usar um avião sem piloto para acabar com ele”. O Ocidente de hoje é mais autoritário e conservador que o de há 40 anos e também mais arrogante e truculento: questionado sobre o impacto negativo nas relações dos EUA, o porta-voz do Pentágono deu de ombros: “O mundo não se relaciona conosco por gostar ou confiar em nós, mas por não ter outro remédio. Somos o último, o único poder indispensável”.
O que fazer de 251.287 memorandos diplomáticos? Uma leitura, análise e interpretação razoavelmente aprofundadas seriam um trabalho de anos, capaz de gerar milhares de artigos e teses acadêmicas em história, relações internacionais e ciências políticas.
Em vez de discutir as minúcias das árvores para as quais querem que prestemos atenção, busquemos uma visão geral da floresta. Uma conclusão inevitável é que o Departamento de Estado de fato põe diplomatas a serviço da espionagem, inclusive de seus aliados – e pode ter perdido parte da confiança destes, vista a facilidade- com que seus segredos são vazados.
Outra é que os EUA têm pouca capacidade de interpretação das informações que reúne. As opiniões desabridas de diplomatas de Washington e de seus amigos e informantes sobre líderes mundiais são por vezes divertidas, mas raramente acrescentam algo novo. Suas análises e especulações revelam poucos segredos e também pouca capacidade de ir além do senso comum.
Simon Jenkins, do Guardian, comenta: “A impressão é da superpotência mundial- vagando impotente num mundo onde ninguém se porta como ela pede. Irã, Rússia, Paquistão, Afeganistão, Iêmen, a ONU, todos vivem saindo do roteiro. Washington reage como um urso ferido, com instintos imperiais, mas uma projeção de poder improdutiva. Sua diplomacia mostra-se escrava do deslocamento da política à direita e se apavora com uma bomba que explode no exterior ou com um congressista pró-Israel”.
Nas palavras de um alto funcionário do governo argentino ao Página/12, as mensagens “revelam que uma parte da administração estadunidense se converteu em um Estado policial, com uma análise muito pobre da política internacional. Muitas vezes esse tipo de organismo, como os que fazem inteligência dentro do Departamento de Estado, exageram seu trabalho, apesar de chegarem a conclusões e limites absurdos, para justificar sua existência, pedir mais recursos e aumentar seu poder interno”.
Nos próprios documentos vazados, os diplomatas de Washington tiveram de relatar o desdém de aliados e inimigos por sua inteligência. Em um almoço no Quirguistão, um empresário britânico disse ao príncipe Andrew que os investimentos do Reino Unido e dos EUA no vizinho Cazaquistão eram comparáveis, embora a economia estadunidense seja muito maior.
“Nenhuma surpresa”, disse o príncipe, “os americanos não entendem de geografia, nunca entenderam.” Em uma recepção a senadores dos EUA, o presidente sírio Bashar Assad pondera: “Vocês possuem um gigantesco aparato de informação. Não temos esses recursos, mas somos bem-sucedidos no combate aos extremistas porque contamos com melhores analistas. Vocês gostam de fuzilar terroristas, mas sufocar as redes deles dá melhores resultados”.
Não se deve nem minimizar o conjunto como irrelevante fofoca de comadres ou papo de botequim para desvalorizar o que tem de incômodo, nem tratar as opiniões e alegações dos diplomatas dos EUA como verdade revelada. O material precisa ser criticado como qualquer outra fonte primária. John Kornblum, ex-embaixador dos EUA na Alemanha, contou como teve de escrever pareceres sobre personalidades do país onde atuava aos 23 anos, ao iniciar a carreira. Que avaliação séria do pensamento e dos planos de um líder estrangeiro poderia ter feito quando tão jovem e inexperiente?
Não há por que duvidar da autenticidade do material, mas com quais critérios foi escolhido por quem o vazou para o WikiLeaks? Bastaria um pen drive e um funcionário descontente, talvez tão jovem quanto o soldado de 23 anos acusa-do de vazar documentos sobre a Guerra no Iraque. Depois do atentado de 11 de setembro, as vias de comunicação diplomática foram unificadas na Secret Internet Protocol Router Network (SIPRnet), uma intranet para facilitar o acesso a informações sobre o terrorismo, para a qual 2,5 milhões de pessoas têm senhas. Mas não se pode descartar que o responsável tivesse uma agenda própria e quisesse apoiar ou prejudicar certos interesses.
Idem quanto ao próprio WikiLeaks e os jornais e revistas aos quais confiou seu material. Cada um seleciona ou prioriza à sua maneira. Seria ingenuidade pressupor sua neutralidade e isenção. Todas as publicações são ligadas às correntes principais dos interesses ocidentais: El País (Espanha), Le Monde (França), Der Spiegel (Alemanha) e Guardian (Reino Unido). The New York Times (EUA) não foi contemplado, provavelmente por causa do perfil desfavorável de Julian Assange, fundador do WikiLeaks, que publicou à época do vazamento sobre a guerra no Iraque, mas recebeu o material do Guardian.
O australiano Assange, vale notar, é muito mais próximo de Adam Smith do que de Karl Marx ou Bakunin, como mostrou em entrevista à revista Forbes: “Amo os mercados. Vivi em muitos países, vejo como é vibrante o setor de telecomunicações da Malásia. Nos EUA, tudo é verticalmente integrado e costurado, não há livre mercado. Na Malásia, há um amplo espectro de competidores e isso beneficia a todos”.
Como seus vazamentos se encaixam nisso? “Um mercado perfeito exige informação perfeita. Aprendi de muitos campos filosóficos e econômicos, mas um é o libertarianismo americano, de mercado. No que se refere a mercados, sou um libertarian, mas sei o suficiente de política e história para entender que um mercado livre acaba em monopólio se não for forçado a ser livre. O WikiLeaks foi criado para tornar o capitalismo mais livre e ético.”
É pouco justificada, por outro lado, a desconfiança do sociólogo radical James Petras, que estranhou a ausência de ações secretas dos EUA e de Israel. Mensagens classificadas como top secret não circulam na mesma rede. Embora se diga que 850 mil têm acesso a elas, poderia não ser o caso do responsável pelo vazamento, ou ele poderia não querer se arriscar tanto.
Podemos ver que o rei saudita Abdullah chamou Mahmoud Ahmadinejad de “Hitler” e que um assessor de Sarkozy classificou o Irã de “fascista” e sua diplomacia de “farsa”. Mas não lemos, por exemplo, o que árabes e europeus pensam de Israel e suas- ações em Gaza e na Cisjordânia, ou dos atentados do Mossad no exterior (com certeza em Dubai, provavelmente também no Irã). Por quê? Talvez os diplomatas prefiram contar só o que seus chefes queiram ouvir, mas tais mensagens também poderiam ter sido excluídas por algum dos interesses entre o pen drive e as manchetes.
É muito improvável que o material tenha sido deliberadamente vazado para justificar, digamos, ações militares contra o Teerã, como diz Ahmadinejad. Belicistas e sionistas tentam usar o material dessa maneira, mas é, no mínimo, uma faca de dois gumes. Ler que os EUA ouvem, apoiam e aconselham a oposição iraniana a prejudica junto a seu povo mais que ao governo de Ahmadinejad.
Não surpreende que reis árabes estejam de acordo com Israel em pressionar por uma guerra com o Irã – sabe-se como eles receiam o destino do xá Reza Pahlevi –, mas ver isso escrito em letras de forma pode minar seu prestígio com a população e fortalecer os fundamentalistas dentro de seus próprios países. Goste-se ou não, as pesquisas de opinião mostram que, dos árabes, 80% veem Israel como ameaça e 77% os EUA, mas só 10% o Irã.
Da mesma forma, se a oposição tenta usar contra o governo mensagens referentes ao Brasil, elas têm maior potencial para desmoralizar os amigos de Washington. Alardeou-se que “para EUA, Itamaraty é adversário”. Não é novidade, mas se para Tio Sam o ministro da Defesa, Nelson Jobim, é “um dos líderes mais confiáveis no Brasil”, isso só o faz menos confiável para defender interesses brasileiros e fortalece o chefe da Secretaria de Assuntos Estratégicos, Samuel Pinheiro Guimarães, que Jobim teria descrito ao embaixador Clifford Sobel como alguém que “odeia os EUA” e “cria problemas” entre os dois países.
Também caiu mal no Itamaraty a indiscrição de Jobim sobre um (suposto) câncer de Evo Morales, aparentemente revelando um segredo de Estado da Bolívia para ganhar a confiança de Washington. Também não ficou bem o general Jorge Félix, ministro da Segurança Institucional, ao dar ao embaixador a impressão de que discordava de Brasília e apoiava Washington quanto à Venezuela.
Dizer que o Brasil resistiu às pressões de Washington para impor leis “antiterroristas” e preferiu prender e processar por crimes comuns eventuais suspeitos de ligações com o terrorismo, reforça o prestígio do governo nos movimentos sociais como o MST que poderiam ser criminalizados por tal legislação, por mais que jornais escrevam que “Brasil oculta terrorismo” e “Dilma ‘cassou’ projeto de lei que reforçaria o combate ao terrorismo”.
Esta última afirmação exemplifica bem a lógica circular da inteligência dos EUA. Segundo o relatório em questão, pediu-se ao assessor do Gabinete de Segurança Institucional, Janer Tesch Alvarenga, para confirmar que foi Dilma quem derrubou a proposta, como escrevera o Correio Braziliense. A explicação foi complexa e correta: tratou-se de uma decisão política que atendeu a vários setores do governo, notadamente o ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos.
Para o autor do relatório, Alvarenga “tergiversou” e “não negou”. O memorando preferiu destacar o palpite do major André Luís Woloszyn que, formado no Colégio Interamericano de Defesa dos EUA, falou a língua que a embaixada queria ouvir. Segundo o major, a reportagem do Correio “soava muito crível”. O GSI foi cortina de fumaça para iludir os EUA quanto à disposição desse governo “repleto de militantes esquerdistas” de combater o terrorismo e “a mente brasileira” não se preocupa com extremismo na sua comunidade muçulmana porque “não vai além de seus clichês sobre o paraíso multicultural que é o Brasil. Só mudaria com uma onda de violência como a do PCC”. (Sugestão implícita?)
E assim os EUA, em vez de monitorar o ambiente e tentar compreender o que lhes é estranho, preferem ouvir as próprias criaturas e correr atrás da própria sombra – como também a imprensa conservadora brasileira, ao destacar comunicados da embaixada sobre “corrupção” no governo brasileiro que nada mais fazem que refletir a opinião e os vieses da imprensa lida pelos diplomatas.
Da mesma forma, notas das embaixadas na Ásia Central sobre fraude na eleição no Irã não fazem mais que expressar a opinião da oposição iraniana. Não são necessariamente mais acuradas que a informação – provavelmente da mesma fonte – que em agosto de 2009 dava o líder supremo aiatolá Khatami como doente terminal de leucemia, com poucos meses de vida (14 meses depois, ele continua ativo e recebendo dignitários estrangeiros).
O maior estrago do vazamento pode ter sido feito nas relações com Ancara, aliada tradicional da Otan e de onde parte o maior número de mensagens destinadas a Washington. O chanceler Ahmet Davutoglu, que negociou com o Irã ao lado do colega brasileiro Celso Amorim, é chamado de sicofanta e de perigoso neo-otomanista.
O primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan é acusado de tentar criar um Estado islâmico, citando-se o embaixador de Israel- na Turquia para quem Erdogan é “um fundamentalista que nos odeia religiosamente”. E o que é pior do ponto de vista político, se diz em um dos relatórios que ele seria proprietário de oito contas secretas na Suíça, o que ele nega peremptoriamente, mas a oposição tenta capitalizar.
Se os aliados dos EUA na Europa e no Oriente Médio rangeram os dentes ao tomar conhecimento dos documentos vazados, seus rivais e desafetos na América Latina tiveram motivos para sorrir.
Enquanto a maior parte da imprensa dos EUA e do Brasil insistia em falar de “deposição constitucional” de Manuel Zelaya, a embaixada dos EUA em Honduras não tinha receio de dar nome aos bois, referir-se ao golpe ilegal como tal e tachar de ilegítimo o regime de Roberto Micheletti. Evo Morales e Hugo Chávez estão vingados: suas afirmações de que as embaixadas dos EUA são centros de espionagem, pelas quais foram muitas vezes ironizados, estão comprovadas por escrito.
Uma mensagem de Hillary Clinton ordena a seu pessoal na ONU buscar dados biométricos, senhas de e-mail e números de cartões de crédito e de viagens de diplomatas no Conselho de Segurança – inclusive os do Brasil e do Reino Unido – e do próprio secretário-geral Ban Ki-moon. Segundo a BBC foi um choque ao menos para o embaixador britânico, que se imaginava protegido pela “relação especial” com Washington. Informações semelhantes são pedidas sobre candidatos à Presidência do Paraguai e líderes africanos.
É evidente a tentativa de violar segredos até de aliados – ou de conseguir dados pessoais úteis para chantagem. Partiu de Hillary uma ordem para investigar “como Cristina Kirchner lidava com seus nervos e ansiedades” e se tomava medicamentos. Também se interessava por quanto a situação gastrointestinal de Néstor o incomodava e por seus remédios, mas não pelos problemas cardíacos que depois o mataram.
Enquanto os EUA bisbilhotam o mundo, grande parte dos governos e da mídia condena a bisbilhotice do WikiLeaks ou tenta desqualificá-lo como irrelevante. O britânico Guardian defendeu o vazamento dedicou-se a um trabalho sério de análise e acompanhamento das repercussões, mas é exceção.
Comparou-o aos famosos “Papéis do Pentágono”, de 1971: na ocasião, o analista militar e coautor Daniel Ellsberg vazou 14 mil páginas de relatórios sobre a Guerra do Vietnã que discutiam ações secretas que incluíam bombardeios de países neutros e ataques diretos ao Vietnã do Norte, oficialmente negados.
As revelações foram publicadas pelo New York Times e Washington Post, que contestaram na Justiça a tentativa de Nixon de proibi-los e venceram. Ellsberg foi processado por traição e absolvido, enquanto os agentes da Casa Branca foram punidos por arrombar o consultório de seu psiquiatra em busca de dados comprometedores sobre sua saúde mental.
Hoje, o presidenciável republicano Mike Huckabee, ex-governador do Arkansas, pede pena de morte por traição a quem quer que tenha vazado os documentos ao WikiLeaks. Apesar da cobrança de republicanos como Sarah Palin, não há como enquadrá-lo como “organização terrorista” e Tio Sam recorreu ao jeitinho condenado pelo major Woloszyn: pôs a Interpol atrás de Assange sob a acusação, provavelmente forjada, de estupro na Suécia. Depois de dificultar doações ao site, pressionou a Amazon a expulsá-lo de seus servidores, o que ocorreu na quarta-feira 1º de dezembro.
Para Thomas Flanagan, assessor do primeiro-ministro canadense Stephen Harper, não basta: Barack Obama deveria oferecer uma recompensa a quem matar o australiano, ou “usar um avião sem piloto para acabar com ele”. O Ocidente de hoje é mais autoritário e conservador que o de há 40 anos e também mais arrogante e truculento: questionado sobre o impacto negativo nas relações dos EUA, o porta-voz do Pentágono deu de ombros: “O mundo não se relaciona conosco por gostar ou confiar em nós, mas por não ter outro remédio. Somos o último, o único poder indispensável”.
WikiLeaks expõe diplomacia e críticas à postura do Vaticano
dezembro 11th, 2010 | Autor: Daniel Pearl editor geral
Por Philip Pullella – CIDADE DO VATICANO (Reuters) – O Vaticano pode ser o menor Estado do mundo, mas até a sua diplomacia foi escancarada pelos vazamentos no WikiLeaks. As divulgações vão desde abusos sexuais e erros nas relações públicas até a presença de cardeais “tecnofóbicos.”
Telegramas enviados da embaixada dos Estados Unidos no Vaticano ao Departamento de Estado descrevem o papa Bento 16 como isolado em algumas situações, enquanto seus auxiliares tentam protegê-lo de notícias ruins. Os documentos também dizem que o maior assessor papal é visto como um homem com pouca credibilidade entre diplomatas.
Os telegramas foram publicados pelo jornal The Guardian, uma de várias empresas de comunicação que receberam acesso aos documentos que vazaram das embaixadas dos EUA em todo o mundo.
Um longo telegrama em fevereiro de 2009, cheio de linguagens diplomáticas, fala sobre fortes críticas às estruturas de comunicação interna e externa do Vaticano, que é responsabilizado por algumas “escorregadas” públicas do papa Bento 16.
“A operação de comunicação na Santa Sé está sofrendo com ‘mensagens confusas’, em parte como resultado da tecnofobia e ignorância de cardeais sobre as comunicações no século 21.
Apenas um importante assessor papal tem um Blackberry e poucos possuem contas de e-mail. Isso levou a asneiras de relações públicas em assuntos sensíveis como o Holocausto,” escreveu um diplomata norte-americano.
Um telegrama chama o círculo de assessores do papa de homens “ítalocêntricos” que não se sentem bem com a tecnologia da informação e com a “competição selvagem das comunicações.”
O braço direito do papa, o Secretário de Estado, cardeal Tarcisio Bertone, é retratado como um “homem do sim,” sem experiência diplomática ou habilidades linguísticas, e o telegrama sugere que o papa é protegido de notícias ruins.
“Há também a questão de quem, se alguém, leva visões discordantes à atenção do papa,” diz o documento.
O porta-voz do Vaticano, padre Federico Lombardi (autoridade elogiada por saber como usar um Blackberry), disse neste sábado que os telegramas refletem a percepção de seus autores e não são “expressões da Santa Sé propriamente dita.”
Um documento vazado diz que a “falta de compartilhamento de informações” entre as instituições do Vaticano é a culpada pelo erro no discurso do papa em Regensburg, em 2006, que os muçulmanos entenderam como um ato de igualar o Islã à violência, e a reintegração de um bispo que nega a existência do Holocausto.
Judeus e muitas outras pessoas ficaram enraivecidas em 2009 quando o papa cancelou a excomunhão do bispo tradicionalista Richard Williamson. O Vaticano disse não saber que ele havia negado a extensão total do Holocausto.
Até o departamento do Vaticano que cuida das relações com os judeus descobriu as intenções do papa apenas por meio da imprensa. O pontífice depois reconheceu em um livro que “nenhum de nós foi à Internet para descobrir com qual tipo de pessoas estávamos lidando.”
Um telegrama datado de 26 de fevereiro desde ano mostra que o Vaticano impediu a cooperação com investigadores sobre abusos sexuais praticados pelo clero na Irlanda. O telegrama diz: “O Vaticano acredita que o governo irlandês falhou ao respeitar e proteger a soberania do Vaticano durante as investigações.” O documento diz que o Vaticano ficou ofendido e enraivecido pelos pedidos de investigadores irlandeses que queriam conversar com a Santa Sé
Por Philip Pullella – CIDADE DO VATICANO (Reuters) – O Vaticano pode ser o menor Estado do mundo, mas até a sua diplomacia foi escancarada pelos vazamentos no WikiLeaks. As divulgações vão desde abusos sexuais e erros nas relações públicas até a presença de cardeais “tecnofóbicos.”
Telegramas enviados da embaixada dos Estados Unidos no Vaticano ao Departamento de Estado descrevem o papa Bento 16 como isolado em algumas situações, enquanto seus auxiliares tentam protegê-lo de notícias ruins. Os documentos também dizem que o maior assessor papal é visto como um homem com pouca credibilidade entre diplomatas.
Os telegramas foram publicados pelo jornal The Guardian, uma de várias empresas de comunicação que receberam acesso aos documentos que vazaram das embaixadas dos EUA em todo o mundo.
Um longo telegrama em fevereiro de 2009, cheio de linguagens diplomáticas, fala sobre fortes críticas às estruturas de comunicação interna e externa do Vaticano, que é responsabilizado por algumas “escorregadas” públicas do papa Bento 16.
“A operação de comunicação na Santa Sé está sofrendo com ‘mensagens confusas’, em parte como resultado da tecnofobia e ignorância de cardeais sobre as comunicações no século 21.
Apenas um importante assessor papal tem um Blackberry e poucos possuem contas de e-mail. Isso levou a asneiras de relações públicas em assuntos sensíveis como o Holocausto,” escreveu um diplomata norte-americano.
Um telegrama chama o círculo de assessores do papa de homens “ítalocêntricos” que não se sentem bem com a tecnologia da informação e com a “competição selvagem das comunicações.”
O braço direito do papa, o Secretário de Estado, cardeal Tarcisio Bertone, é retratado como um “homem do sim,” sem experiência diplomática ou habilidades linguísticas, e o telegrama sugere que o papa é protegido de notícias ruins.
“Há também a questão de quem, se alguém, leva visões discordantes à atenção do papa,” diz o documento.
O porta-voz do Vaticano, padre Federico Lombardi (autoridade elogiada por saber como usar um Blackberry), disse neste sábado que os telegramas refletem a percepção de seus autores e não são “expressões da Santa Sé propriamente dita.”
Um documento vazado diz que a “falta de compartilhamento de informações” entre as instituições do Vaticano é a culpada pelo erro no discurso do papa em Regensburg, em 2006, que os muçulmanos entenderam como um ato de igualar o Islã à violência, e a reintegração de um bispo que nega a existência do Holocausto.
Judeus e muitas outras pessoas ficaram enraivecidas em 2009 quando o papa cancelou a excomunhão do bispo tradicionalista Richard Williamson. O Vaticano disse não saber que ele havia negado a extensão total do Holocausto.
Até o departamento do Vaticano que cuida das relações com os judeus descobriu as intenções do papa apenas por meio da imprensa. O pontífice depois reconheceu em um livro que “nenhum de nós foi à Internet para descobrir com qual tipo de pessoas estávamos lidando.”
Um telegrama datado de 26 de fevereiro desde ano mostra que o Vaticano impediu a cooperação com investigadores sobre abusos sexuais praticados pelo clero na Irlanda. O telegrama diz: “O Vaticano acredita que o governo irlandês falhou ao respeitar e proteger a soberania do Vaticano durante as investigações.” O documento diz que o Vaticano ficou ofendido e enraivecido pelos pedidos de investigadores irlandeses que queriam conversar com a Santa Sé
Obrigado, Lula
dezembro 11th, 2010 | Autor: Terror do Nordeste
Frei Beto
Nunca antes na história deste país um metalúrgico havia ocupado a presidência da República. Quantos temores e terrores a cada vez que você se apresentava como candidato! Diziam que o PT, a ferro e fogo, implantaria o socialismo no Brasil.
Quanta esperança refletida na euforia que contaminou a Esplanada dos Ministérios no dia de sua posse! Decorridos oito anos, eis que a aprovação de seu governo alcança o admirável índice de 84% que o consideram ótimo e bom. Apenas 3% o reprovam.
O Brasil mudou para melhor. Cerca de 20 milhões de pessoas, graças ao Bolsa Família e outros programas sociais, saíram da miséria, e 30 milhões ingressaram na classe média. Ainda temos outros 30 milhões sobrevivendo sob o espectro da fome e quem sabe o Fome Zero, com seu caráter emancipatório, a tivesse erradicado se o seu governo não o trocasse pelo Bolsa Família, de caráter compensatório, e que até hoje não encontrou a porta de saída para as famílias beneficiárias.
Você resgatou o papel do Estado como indutor do desenvolvimento e, através dos programas sociais e da Previdência, promoveu a distribuição de renda que aqueceu o mercado interno de consumo. O BNDES tornou as grandes empresas brasileiras competitivas no mercado internacional. Tomara que no governo Dilma seja possível destinar recursos também a empreedimentos de pequeno e médio porte e favorecer nossas pesquisas em ciência e tecnologia.
Enquanto os países metropolitanos, afetados pela crise financeira, enxugam a liquidez do mercado e travam o aumento de salários, você ampliou o acesso ao crédito (R$ 1 trilhão disponíveis), aumentou o salário mínimo acima da inflação, manteve sob controle os preços da cesta básica e desonerou eletrodomésticos e carros. Hoje, 72% dos domicílios brasileiros possuem geladeira, televisor, fogão, máquina de lavar, embora 52% ainda careçam de saneamento básico.
Seu governo multiplicou o emprego formal, sobretudo no Nordeste, cuja perfil social sofre substancial mudança para melhor. Hoje, numa população de 190 milhões, 105 milhões são trabalhadores, dos quais 59,6% possuem carteira assinada. É verdade que, a muitos, falta melhor qualificação profissional. Contudo, avançou-se: 43,1% completaram o ensino médio e 11,1% o ensino superior.
Na política externa o Brasil afirmou-se como soberano e independente, livrando-se da órbita usamericana, rechaçando a Alca proposta pela Casa Branca, apoiando a Unasul e empenhando-se na unidade latino-americana e caribenha. Graças à sua vontade política, nosso país mira com simpatia a ascensão de novos governantes democráticos-populares na América Latina; condena o bloqueio dos EUA a Cuba e defende a autodeterminação deste país; investe em países da África; estreita relações com o mundo árabe; e denuncia a hipocrisia de se querer impedir o acesso do Irã ao urânio enriquecido, enquanto países vizinhos a ele, como Israel, dispõem de artefatos nucleares.
Seu governo, Lula, incutiu autoestima no povo brasileiro e, hoje, é admirado em todo o mundo. Poderia ter sido melhor se houvesse realizado reformas estruturais, como a agrária, a política e a tributária; determinado a abertura dos arquivos da ditadura em poder das Forças Armadas; duplicado o investimento em educação, saúde e cultura.
Nunca antes na história deste país um governo respaldou sua Polícia Federal para levar à cadeia dois governadores; prender políticos e empresários corruptos; combater com rigor o narcotráfico. Pena que o Plano Nacional dos Direitos Humanos 3 – quase um plágio dos 1 e 2 do governo FHC – tenha sido escanteado por preconceitos e covardia de ministros que o aprovaram previamente e não tiveram a honradez de defendê-lo quando escutaram protestos de vozes conservadoras.
Espero que o governo Dilma complemente o que faltou ao seu: a federalização dos crimes contra os direitos humanos; uma agenda mais agressiva em defesa da preservação ambiental, em especial da Amazônia; a melhoria do nosso sistema de saúde, tão deficiente que obriga 40 milhões de brasileiros a dependerem de planos de empresas privadas; a reforma das redes de ensino público municipais e estaduais.
Seu governo ousou criar, no ensino superior, o sistema de cotas; o ProUni e o Enem; a ampliação do número de escolas técnicas; maior atenção às universidades federais. Mas é preciso que o governo Dilma cumpra o preceito constitucional de investir 8% do PIB em educação.
Obrigado, Lula, por jamais criminalizar movimentos sociais; preservar áreas indígenas como Raposa Serra do Sol; trazer Luz para Todos. Sim, sei que você não fez mais do que a obrigação. Para isso foi eleito. Mas considerando os demais governantes de nossa história republicana, tão reféns da elite e com nojo do “cheiro de povo”, como um deles confessou, há que reconhecer os avanços e méritos de sua administração.
Deus permita que, o quanto antes, você consiga desencarnar-se da presidência e voltar a ser um cidadão militante em prol do Brasil e de um mundo melhor.
* Escritor, autor de “Calendário do Poder” (Rocco), entre outros livros
Fonte:Sul 21
Frei Beto
Nunca antes na história deste país um metalúrgico havia ocupado a presidência da República. Quantos temores e terrores a cada vez que você se apresentava como candidato! Diziam que o PT, a ferro e fogo, implantaria o socialismo no Brasil.
Quanta esperança refletida na euforia que contaminou a Esplanada dos Ministérios no dia de sua posse! Decorridos oito anos, eis que a aprovação de seu governo alcança o admirável índice de 84% que o consideram ótimo e bom. Apenas 3% o reprovam.
O Brasil mudou para melhor. Cerca de 20 milhões de pessoas, graças ao Bolsa Família e outros programas sociais, saíram da miséria, e 30 milhões ingressaram na classe média. Ainda temos outros 30 milhões sobrevivendo sob o espectro da fome e quem sabe o Fome Zero, com seu caráter emancipatório, a tivesse erradicado se o seu governo não o trocasse pelo Bolsa Família, de caráter compensatório, e que até hoje não encontrou a porta de saída para as famílias beneficiárias.
Você resgatou o papel do Estado como indutor do desenvolvimento e, através dos programas sociais e da Previdência, promoveu a distribuição de renda que aqueceu o mercado interno de consumo. O BNDES tornou as grandes empresas brasileiras competitivas no mercado internacional. Tomara que no governo Dilma seja possível destinar recursos também a empreedimentos de pequeno e médio porte e favorecer nossas pesquisas em ciência e tecnologia.
Enquanto os países metropolitanos, afetados pela crise financeira, enxugam a liquidez do mercado e travam o aumento de salários, você ampliou o acesso ao crédito (R$ 1 trilhão disponíveis), aumentou o salário mínimo acima da inflação, manteve sob controle os preços da cesta básica e desonerou eletrodomésticos e carros. Hoje, 72% dos domicílios brasileiros possuem geladeira, televisor, fogão, máquina de lavar, embora 52% ainda careçam de saneamento básico.
Seu governo multiplicou o emprego formal, sobretudo no Nordeste, cuja perfil social sofre substancial mudança para melhor. Hoje, numa população de 190 milhões, 105 milhões são trabalhadores, dos quais 59,6% possuem carteira assinada. É verdade que, a muitos, falta melhor qualificação profissional. Contudo, avançou-se: 43,1% completaram o ensino médio e 11,1% o ensino superior.
Na política externa o Brasil afirmou-se como soberano e independente, livrando-se da órbita usamericana, rechaçando a Alca proposta pela Casa Branca, apoiando a Unasul e empenhando-se na unidade latino-americana e caribenha. Graças à sua vontade política, nosso país mira com simpatia a ascensão de novos governantes democráticos-populares na América Latina; condena o bloqueio dos EUA a Cuba e defende a autodeterminação deste país; investe em países da África; estreita relações com o mundo árabe; e denuncia a hipocrisia de se querer impedir o acesso do Irã ao urânio enriquecido, enquanto países vizinhos a ele, como Israel, dispõem de artefatos nucleares.
Seu governo, Lula, incutiu autoestima no povo brasileiro e, hoje, é admirado em todo o mundo. Poderia ter sido melhor se houvesse realizado reformas estruturais, como a agrária, a política e a tributária; determinado a abertura dos arquivos da ditadura em poder das Forças Armadas; duplicado o investimento em educação, saúde e cultura.
Nunca antes na história deste país um governo respaldou sua Polícia Federal para levar à cadeia dois governadores; prender políticos e empresários corruptos; combater com rigor o narcotráfico. Pena que o Plano Nacional dos Direitos Humanos 3 – quase um plágio dos 1 e 2 do governo FHC – tenha sido escanteado por preconceitos e covardia de ministros que o aprovaram previamente e não tiveram a honradez de defendê-lo quando escutaram protestos de vozes conservadoras.
Espero que o governo Dilma complemente o que faltou ao seu: a federalização dos crimes contra os direitos humanos; uma agenda mais agressiva em defesa da preservação ambiental, em especial da Amazônia; a melhoria do nosso sistema de saúde, tão deficiente que obriga 40 milhões de brasileiros a dependerem de planos de empresas privadas; a reforma das redes de ensino público municipais e estaduais.
Seu governo ousou criar, no ensino superior, o sistema de cotas; o ProUni e o Enem; a ampliação do número de escolas técnicas; maior atenção às universidades federais. Mas é preciso que o governo Dilma cumpra o preceito constitucional de investir 8% do PIB em educação.
Obrigado, Lula, por jamais criminalizar movimentos sociais; preservar áreas indígenas como Raposa Serra do Sol; trazer Luz para Todos. Sim, sei que você não fez mais do que a obrigação. Para isso foi eleito. Mas considerando os demais governantes de nossa história republicana, tão reféns da elite e com nojo do “cheiro de povo”, como um deles confessou, há que reconhecer os avanços e méritos de sua administração.
Deus permita que, o quanto antes, você consiga desencarnar-se da presidência e voltar a ser um cidadão militante em prol do Brasil e de um mundo melhor.
* Escritor, autor de “Calendário do Poder” (Rocco), entre outros livros
Fonte:Sul 21
”Temos de parar de pensar em semideuses como gestores”
dezembro 12th, 2010 | Autor: Jussara Seixas
Debruçado sobre o Livro da Transição, o futuro ministro da Justiça, José Eduardo Martins Cardozo, prega o fim das disputas entre a Polícia Federal e o Exército, além de um pacto entre o Executivo, Legislativo e Judiciário para derrotar o crime organizado e o narcotráfico. “O crime organizado não sobrevive sem a corrupção de autoridades estatais”, diz ele.
Dida Sampaio/AE
Visão. ‘Eu não culparia juízes pela morosidade da Justiça. Culpo o sistema, que precisa ser corrigido’, diz o petista
Para Cardozo, no entanto, o Exército deve entrar em áreas de conflito apenas em “situações excepcionais”. Na tentativa de evitar polêmica com o ministro da Defesa, Nelson Jobim – defensor da presença ostensiva das Forças Armadas nos morros do Rio -, ele garante que as divergências serão arbitradas pela presidente eleita, Dilma Rousseff. “Temos de parar de pensar em semideuses como gestores”, insiste.
Em uma hora e meia de entrevista ao Estado, com o celular tocando sem piedade, Cardozo elogiou o trabalho da Polícia Federal, mas disse não ter simpatia por operações com ares de espetáculo, que podem provocar “linchamentos sociais”. Não foi só: criticou a legalização dos bingos, que, no seu diagnóstico, permite a lavagem de dinheiro.
Secretário-geral do PT, mentor do Código de Ética do partido e relator do projeto da Ficha Limpa, Cardozo observou que a lei não poderia ter efeito retroativo. Do grupo Mensagem ao Partido, que se opõe ao ex-chefe da Casa Civil José Dirceu, ele afirmou, ainda, que o réu do escândalo do mensalão foi cassado “sem provas” pela Câmara.
Integrante do time de coordenadores da campanha de Dilma – batizado por ela de “três porquinhos” -, Cardozo revelou que se identifica mais com o personagem Cícero, na fábula infantil. “Às vezes, construo casas de palha”, admitiu, rindo.
Qual será sua prioridade no Ministério da Justiça? A partir das diretrizes traçadas pela presidente eleita, a segurança pública e o combate ao crime organizado serão o eixo prioritário do governo, ao lado de Educação e Saúde.
O ministro Nelson Jobim defende a presença ostensiva das Forças Armadas no combate ao crime organizado e ao narcotráfico, não só nas fronteiras, mas também no auxílio a governos estaduais. O sr. concorda? A segurança pública e o combate ao crime organizado exigem um somatório de forças. Do ponto de vista repressivo, acho que em situações excepcionais, como no Rio, é perfeitamente possível ter o envolvimento das Forças Armadas. A Polícia Federal e o Exército não podem atuar como órgãos dissociados.
Mas hoje vivem às turras. Como resolver isso? Chegou a hora de buscarmos ações para eliminar essa disputa, que é estéril. A questão é de Estado e assim deve ser tratada. É sobre isso que quero dialogar não só com o ministro Jobim, mas com governadores, prefeitos secretários de Segurança, Ministério Público, Judiciário…
Em que consiste o pacto nacional de segurança que o sr. propõe? As competências na questão da segurança pública são estaduais. Mas é preciso uma articulação envolvendo os três Poderes e todas as unidades da Federação em políticas preventivas e repressivas. No Rio, houve competente ação do governo, mas o apoio da população foi fundamental. O crime organizado tem de ser derrotado também pela opinião pública. Temos de perder a mania de pensar em semideuses como gestores. As pessoas precisam perder a vaidade e perceber que têm de somar para resolver problemas, superando divergências ideológicas e políticas.
O sr. está falando do ministro Jobim ou do governador Sérgio Cabral? Estou falando de todos nós.
Muita gente diz que o sr. vai acabar trombando com o ministro Jobim… Meu Deus!!! (risos) O Jobim é uma pessoa pela qual eu tenho carinho e admiração. Podemos ter a opinião que desejarmos, mas uma pessoa decide. E ela se chama Dilma Rousseff.
Quanto tempo o Exército deve permanecer no Rio? O necessário. Não gosto de exercício de futurologia.
A Polícia Federal é, muitas vezes, alvo de críticas por cometer abusos. Como o sr. vai administrá-la? O Estado tem o dever de investigar delitos e puni-los, mas todos devem ser tratados com seus direitos. A espetacularização das ações da PF pode provocar linchamentos sociais inaceitáveis. Se desvios assim ocorrerem, agirei com rigor.
Um dos principais instrumentos da PF é o Sistema Guardião, máquina de grampos telefônicos. O sr. concorda com esse método de ação? A interceptação telefônica só pode ocorrer nos casos que a lei autoriza, sob determinação judicial. Toda vez que houver interceptação fora do que a lei determina, os responsáveis têm de ser punidos.
Como o sr. vai combater a corrupção e o crime do colarinho branco? O crime organizado não sobrevive sem a corrupção de autoridades estatais, de todos os níveis, de todos os poderes, que muitas vezes guardam conexão com o crime do colarinho branco. Dificilmente um crime se organiza em larga dimensão se não houver a conivência de parte do aparelho do Estado. Então, o enfrentamento do crime organizado passa pelo enfrentamento da corrupção. Eu não culparia juízes pela morosidade da Justiça, que gera sensação de impunidade. Culpo o sistema, que precisa ser corrigido.
A Câmara pôs em pauta o polêmico projeto de legalização dos bingos. O sr. é favorável? Eu, como deputado, me manifestei contra. Em última instância, traz mais malefícios do que benefícios e permite a lavagem de dinheiro. O presidente Lula deve manter ou extraditar o italiano Cesare Battisti? Externei da tribuna da Câmara minha opinião (pela concessão de refúgio a Battisti). Nesse momento, seria deselegante falar sobre isso.
Ao relatar o projeto de lei da Ficha Limpa, o sr. recebeu muita pressão? A lei ensejou discussões de interpretação e ouvi muitas reclamações. De qualquer forma, pela primeira vez se discutiu critérios éticos para que as pessoas pudessem ou não ser eleitas. Na minha percepção, a lei não poderia ter eficácia retroativa e não deveria atingir políticos que renunciassem antes (ao mandato). Não foi a decisão do Judiciário. Mas não sou dono da verdade.
Numa entrevista à revista Veja, em 2008, o sr. chegou a dizer que o mensalão existiu, mas depois alegou que foi mal interpretado. O sr. recuou por interferência do Planalto? Eu não recuei nenhum milímetro. Não disse isso. Sempre questionei a palavra mensalão. Foi um rótulo que teve efeito midiático. Deputados do PT não receberiam mensalidade para votar em projetos do governo. O que houve foi uma situação ilegal de despesas não contabilizadas. A acusação de desvio de recursos públicos nunca foi provada.
O sr. é favorável à anistia para o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, cassado pela Câmara? O julgamento da Câmara em relação a José Dirceu foi político. Não existiam provas efetivas de que ele tivesse cometido os atos pelos quais foi acusado. Foi uma condenação indevida. Há um processo em curso no Supremo Tribunal Federal. Acho que, só depois do julgamento, essa discussão da anistia deverá ser colocada ou não.
O sr. não se candidatou a deputado, alegando não se sentir confortável em entrar numa campanha na qual o dinheiro decidia a eleição. Já sabia que poderia ser ministro? Muito antes de ser convidado para a coordenação da campanha de Dilma, apresentei publicamente minhas razões para não disputar a eleição. Certa vez, o deputado Ibsen Pinheiro disse o seguinte: “Eu continuo encantado com o Parlamento; o que não gosto é de ser candidato.” Faço minhas as palavras dele.
O problema é captar recursos? São vários problemas, mas financiamento público é fundamental. Imaginar que numa campanha nunca exista dinheiro desviado dos cofres públicos é ser ingênuo. O atual sistema gera uma relação complicada entre quem doa e quem recebe.
Debruçado sobre o Livro da Transição, o futuro ministro da Justiça, José Eduardo Martins Cardozo, prega o fim das disputas entre a Polícia Federal e o Exército, além de um pacto entre o Executivo, Legislativo e Judiciário para derrotar o crime organizado e o narcotráfico. “O crime organizado não sobrevive sem a corrupção de autoridades estatais”, diz ele.
Dida Sampaio/AE
Visão. ‘Eu não culparia juízes pela morosidade da Justiça. Culpo o sistema, que precisa ser corrigido’, diz o petista
Para Cardozo, no entanto, o Exército deve entrar em áreas de conflito apenas em “situações excepcionais”. Na tentativa de evitar polêmica com o ministro da Defesa, Nelson Jobim – defensor da presença ostensiva das Forças Armadas nos morros do Rio -, ele garante que as divergências serão arbitradas pela presidente eleita, Dilma Rousseff. “Temos de parar de pensar em semideuses como gestores”, insiste.
Em uma hora e meia de entrevista ao Estado, com o celular tocando sem piedade, Cardozo elogiou o trabalho da Polícia Federal, mas disse não ter simpatia por operações com ares de espetáculo, que podem provocar “linchamentos sociais”. Não foi só: criticou a legalização dos bingos, que, no seu diagnóstico, permite a lavagem de dinheiro.
Secretário-geral do PT, mentor do Código de Ética do partido e relator do projeto da Ficha Limpa, Cardozo observou que a lei não poderia ter efeito retroativo. Do grupo Mensagem ao Partido, que se opõe ao ex-chefe da Casa Civil José Dirceu, ele afirmou, ainda, que o réu do escândalo do mensalão foi cassado “sem provas” pela Câmara.
Integrante do time de coordenadores da campanha de Dilma – batizado por ela de “três porquinhos” -, Cardozo revelou que se identifica mais com o personagem Cícero, na fábula infantil. “Às vezes, construo casas de palha”, admitiu, rindo.
Qual será sua prioridade no Ministério da Justiça? A partir das diretrizes traçadas pela presidente eleita, a segurança pública e o combate ao crime organizado serão o eixo prioritário do governo, ao lado de Educação e Saúde.
O ministro Nelson Jobim defende a presença ostensiva das Forças Armadas no combate ao crime organizado e ao narcotráfico, não só nas fronteiras, mas também no auxílio a governos estaduais. O sr. concorda? A segurança pública e o combate ao crime organizado exigem um somatório de forças. Do ponto de vista repressivo, acho que em situações excepcionais, como no Rio, é perfeitamente possível ter o envolvimento das Forças Armadas. A Polícia Federal e o Exército não podem atuar como órgãos dissociados.
Mas hoje vivem às turras. Como resolver isso? Chegou a hora de buscarmos ações para eliminar essa disputa, que é estéril. A questão é de Estado e assim deve ser tratada. É sobre isso que quero dialogar não só com o ministro Jobim, mas com governadores, prefeitos secretários de Segurança, Ministério Público, Judiciário…
Em que consiste o pacto nacional de segurança que o sr. propõe? As competências na questão da segurança pública são estaduais. Mas é preciso uma articulação envolvendo os três Poderes e todas as unidades da Federação em políticas preventivas e repressivas. No Rio, houve competente ação do governo, mas o apoio da população foi fundamental. O crime organizado tem de ser derrotado também pela opinião pública. Temos de perder a mania de pensar em semideuses como gestores. As pessoas precisam perder a vaidade e perceber que têm de somar para resolver problemas, superando divergências ideológicas e políticas.
O sr. está falando do ministro Jobim ou do governador Sérgio Cabral? Estou falando de todos nós.
Muita gente diz que o sr. vai acabar trombando com o ministro Jobim… Meu Deus!!! (risos) O Jobim é uma pessoa pela qual eu tenho carinho e admiração. Podemos ter a opinião que desejarmos, mas uma pessoa decide. E ela se chama Dilma Rousseff.
Quanto tempo o Exército deve permanecer no Rio? O necessário. Não gosto de exercício de futurologia.
A Polícia Federal é, muitas vezes, alvo de críticas por cometer abusos. Como o sr. vai administrá-la? O Estado tem o dever de investigar delitos e puni-los, mas todos devem ser tratados com seus direitos. A espetacularização das ações da PF pode provocar linchamentos sociais inaceitáveis. Se desvios assim ocorrerem, agirei com rigor.
Um dos principais instrumentos da PF é o Sistema Guardião, máquina de grampos telefônicos. O sr. concorda com esse método de ação? A interceptação telefônica só pode ocorrer nos casos que a lei autoriza, sob determinação judicial. Toda vez que houver interceptação fora do que a lei determina, os responsáveis têm de ser punidos.
Como o sr. vai combater a corrupção e o crime do colarinho branco? O crime organizado não sobrevive sem a corrupção de autoridades estatais, de todos os níveis, de todos os poderes, que muitas vezes guardam conexão com o crime do colarinho branco. Dificilmente um crime se organiza em larga dimensão se não houver a conivência de parte do aparelho do Estado. Então, o enfrentamento do crime organizado passa pelo enfrentamento da corrupção. Eu não culparia juízes pela morosidade da Justiça, que gera sensação de impunidade. Culpo o sistema, que precisa ser corrigido.
A Câmara pôs em pauta o polêmico projeto de legalização dos bingos. O sr. é favorável? Eu, como deputado, me manifestei contra. Em última instância, traz mais malefícios do que benefícios e permite a lavagem de dinheiro. O presidente Lula deve manter ou extraditar o italiano Cesare Battisti? Externei da tribuna da Câmara minha opinião (pela concessão de refúgio a Battisti). Nesse momento, seria deselegante falar sobre isso.
Ao relatar o projeto de lei da Ficha Limpa, o sr. recebeu muita pressão? A lei ensejou discussões de interpretação e ouvi muitas reclamações. De qualquer forma, pela primeira vez se discutiu critérios éticos para que as pessoas pudessem ou não ser eleitas. Na minha percepção, a lei não poderia ter eficácia retroativa e não deveria atingir políticos que renunciassem antes (ao mandato). Não foi a decisão do Judiciário. Mas não sou dono da verdade.
Numa entrevista à revista Veja, em 2008, o sr. chegou a dizer que o mensalão existiu, mas depois alegou que foi mal interpretado. O sr. recuou por interferência do Planalto? Eu não recuei nenhum milímetro. Não disse isso. Sempre questionei a palavra mensalão. Foi um rótulo que teve efeito midiático. Deputados do PT não receberiam mensalidade para votar em projetos do governo. O que houve foi uma situação ilegal de despesas não contabilizadas. A acusação de desvio de recursos públicos nunca foi provada.
O sr. é favorável à anistia para o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, cassado pela Câmara? O julgamento da Câmara em relação a José Dirceu foi político. Não existiam provas efetivas de que ele tivesse cometido os atos pelos quais foi acusado. Foi uma condenação indevida. Há um processo em curso no Supremo Tribunal Federal. Acho que, só depois do julgamento, essa discussão da anistia deverá ser colocada ou não.
O sr. não se candidatou a deputado, alegando não se sentir confortável em entrar numa campanha na qual o dinheiro decidia a eleição. Já sabia que poderia ser ministro? Muito antes de ser convidado para a coordenação da campanha de Dilma, apresentei publicamente minhas razões para não disputar a eleição. Certa vez, o deputado Ibsen Pinheiro disse o seguinte: “Eu continuo encantado com o Parlamento; o que não gosto é de ser candidato.” Faço minhas as palavras dele.
O problema é captar recursos? São vários problemas, mas financiamento público é fundamental. Imaginar que numa campanha nunca exista dinheiro desviado dos cofres públicos é ser ingênuo. O atual sistema gera uma relação complicada entre quem doa e quem recebe.
Nova ministra de Direitos Humanos defende “direito à verdade”
dezembro 12th, 2010 | Autor: Jussara Seixas
Maria do Rosário, que falou ao iG, herdará polêmica sobre comissão da verdade, prevista no Plano Nacional de Direitos Humanos
Escolhida como a nova ministra de Direitos Humanos, a deputada federal Maria do Rosário (PT-RS)prometeu em entrevista ao iG trabalhar para garantir no Plano Nacional de Direitos Humanos (PNDH-3) o direito à verdade e memória em relação aos arquivos do período da ditadura militar no Brasil. “Este é um compromisso de trabalho que a secretaria tem e eu terei para o próximo período referenciado na própria presidenta Dilma, a sua história de vida”, afirmou.
iG:Mas sobre o programa? Qual a opinião da senhora? Como a senhora vê a discussão do aborto que tomou um período da campanha eleitoral neste ano?
Acho que devemos trabalhar o PNDH-3 como um todo. Não sou movida pela ideia de puxar uma parte e analisar. Outra parte do programa e analisar. Esta foi uma abordagem da campanha eleitoral, mas do ponto de vista dos Direitos Humanos não ajudou. Portanto, não vou me posicionar sobre um ou outro ponto do PNDH 3, mas sobre o conjunto de Direitos Humanos no Brasil.
Nova ministra de Direitos Humanos, Maria do Rosário é deputada pelo PT gaúcho
Rosário falou sobre as polêmicas do PNDH-3, como a descriminalização do aborto e a criação de uma comissão da verdade, mas diz que não se posiciona sobre “um ou outro ponto” e sim sobre o conjunto do projeto. “Acho que é equivocado pensar em um dispositivo, um aspecto do programa. Precisamos trabalhar as necessidades do Direito humano como um todo no Brasil”, afirmou.
O 3º Programa Nacional de Direitos Humanos foi criado por decreto do presidente e publicado em 21 de dezembro de 2009, mas sofreu alterações após reação da sociedade e entidades sociais. A nova redação do PNDH-3 altera o trecho que falava sobre a descriminalização do aborto e a autonomia das mulheres para decidir sobre o seu corpo. No novo texto, o aborto é apresentado como um problema de saúde pública, com a garantia de acesso aos serviços de saúde.
O documento, de 180 páginas, é um protocolo de intenções do governo, e não tem força de lei. Para tirar as principais propostas do papel, o Executivo ainda precisa submeter os textos à aprovação do Congresso.
A única mulher gaúcha da equipe de ministros da presidenta eleita Dilma Rousseff. Dos dez nomes confirmados, a maioria dos integrantes é de São Paulo. À exceção de Rosário, foge do “paulistério” também Alexandre Tombini, novo presidente do Banco Central. Tombini é do Rio Grande do Sul, onde Dilma construiu sua trajetória política. Mas Maria do Rosário descarta o rótulo de “privilegiada” por ser a única gaúcha em meio aos paulistas. “Não vou entrar neste mérito. Dilma compõe equipe de trabalho com o sentimento de cumprir este projeto pelo qual ela foi eleita”, diz.
Confira os principais trechos da entrevista:
iG: Quais serão as prioridades da senhora na pasta?
Maria do Rosário: Devemos falar sempre no plural quando falamos em direitos humanos. Isto significa que há vários temas de trabalho e que deverão integrar a secretaria. A pasta é responsável pelo direito à criança, comunidades indígenas, promoção da cidadania. Estes temas todos se integram, a questão dos idosos é também uma questão desta secretaria. O Brasil vive um período diferenciado por uma série de fatores e que deve ser reconhecido cada vez mais o número de pessoas idosas. Portanto, perceber esta mudança demográfica e atender com muita atenção as diferentes populações. Particularmente, todas as pessoas sabem que a Constituição Federal determina prioridade para as crianças e adolescentes brasileiros e que é também nesta área onde bate muito forte o meu coração.
iG: Qual é a opinião da senhora sobre o Plano Nacional de Direitos de Humanos, que sofreu mudanças após pressão da sociedade em cima de pontos polêmicos, como o aborto?
O plano sofreu modificações, há um decreto que regulamenta e nós vamos avaliar, agora na transição, qual o momento de implementação do PNDH-3. Vamos ver esta questão numa reunião, na próxima segunda-feira, com o atual ministro Paulo Vannucchi.
iG: A senhora prefere não se posicionar sobre o aborto?
É que acredito ser uma visão equivocada pensar em um dispositivo, um aspecto, do programa. Precisamos trabalhar as necessidades dos Direitos Humanos como um todo no Brasil.
iG: Qual será a posição e atuação da senhora em relação à comissão de verdade? A senhora se compromete com a divulgação de arquivos da época da ditadura militar?
O movimento do direito e verdade à memória é um movimento que vários países do mundo já vivenciaram de modo muito importante para resgatar a sua História. Acredito que o Brasil também tenha que vivenciar de forma mais profunda. Há elementos em curso para que o Brasil produza um resultado que assegure no plano de Direitos Humanos o direito à verdade e memória. Este é um compromisso de trabalho que a secretaria tem e eu terei para o próximo período referenciado na própria presidenta Dilma, a sua história de vida.
iG: Como a senhora avalia o trabalho de Paulo Vanucchi, atual titular da pasta?
Ele avançou muito, sem dúvida. Sou entusiasta do trabalho dele e ele colocou o ministério em outro patamar.
iG: Dilma declarou que o apedrejamento contra Sakineh era uma coisa bárbara. Qual a opinião da senhora?
Eu concordo com Dilma. Na verdade, ao fazer seu pronunciamento sobre esta mulher, a presidenta se posiciona em sintonia com todas as mulheres do mundo e dá exemplo de que, como chefe do Estado brasileiro, ela será uma defensora em todos os momentos dos direitos humanos no Brasil. É uma situação de violência que mostra como a humanidade ainda precisa avançar para que a data de hoje e a declaração de 1948 seja vivenciada por todas as pessoas ao redor do mundo.
iG: A senhora é a única gaúcha confirmada no ministério de Dilma, até agora. É um privilégio?
Não vou entrar neste mérito,não. Dilma compõe equipe de trabalho com o sentimento de cumprir este projeto pelo qual ela foi eleita.
iG: A senhora já disputou a eleição municipal em Porto Alegre, em 2008. Tem planos para a prefeitura de 2012?
Cada situação é diferente da outra, mas não há dúvidas que a minha prioridade é responder aos desafios que a agenda de Direitos Humanos e a presidenta Dilma me colocou.
Maria do Rosário, que falou ao iG, herdará polêmica sobre comissão da verdade, prevista no Plano Nacional de Direitos Humanos
Escolhida como a nova ministra de Direitos Humanos, a deputada federal Maria do Rosário (PT-RS)prometeu em entrevista ao iG trabalhar para garantir no Plano Nacional de Direitos Humanos (PNDH-3) o direito à verdade e memória em relação aos arquivos do período da ditadura militar no Brasil. “Este é um compromisso de trabalho que a secretaria tem e eu terei para o próximo período referenciado na própria presidenta Dilma, a sua história de vida”, afirmou.
iG:Mas sobre o programa? Qual a opinião da senhora? Como a senhora vê a discussão do aborto que tomou um período da campanha eleitoral neste ano?
Acho que devemos trabalhar o PNDH-3 como um todo. Não sou movida pela ideia de puxar uma parte e analisar. Outra parte do programa e analisar. Esta foi uma abordagem da campanha eleitoral, mas do ponto de vista dos Direitos Humanos não ajudou. Portanto, não vou me posicionar sobre um ou outro ponto do PNDH 3, mas sobre o conjunto de Direitos Humanos no Brasil.
Nova ministra de Direitos Humanos, Maria do Rosário é deputada pelo PT gaúcho
Rosário falou sobre as polêmicas do PNDH-3, como a descriminalização do aborto e a criação de uma comissão da verdade, mas diz que não se posiciona sobre “um ou outro ponto” e sim sobre o conjunto do projeto. “Acho que é equivocado pensar em um dispositivo, um aspecto do programa. Precisamos trabalhar as necessidades do Direito humano como um todo no Brasil”, afirmou.
O 3º Programa Nacional de Direitos Humanos foi criado por decreto do presidente e publicado em 21 de dezembro de 2009, mas sofreu alterações após reação da sociedade e entidades sociais. A nova redação do PNDH-3 altera o trecho que falava sobre a descriminalização do aborto e a autonomia das mulheres para decidir sobre o seu corpo. No novo texto, o aborto é apresentado como um problema de saúde pública, com a garantia de acesso aos serviços de saúde.
O documento, de 180 páginas, é um protocolo de intenções do governo, e não tem força de lei. Para tirar as principais propostas do papel, o Executivo ainda precisa submeter os textos à aprovação do Congresso.
A única mulher gaúcha da equipe de ministros da presidenta eleita Dilma Rousseff. Dos dez nomes confirmados, a maioria dos integrantes é de São Paulo. À exceção de Rosário, foge do “paulistério” também Alexandre Tombini, novo presidente do Banco Central. Tombini é do Rio Grande do Sul, onde Dilma construiu sua trajetória política. Mas Maria do Rosário descarta o rótulo de “privilegiada” por ser a única gaúcha em meio aos paulistas. “Não vou entrar neste mérito. Dilma compõe equipe de trabalho com o sentimento de cumprir este projeto pelo qual ela foi eleita”, diz.
Confira os principais trechos da entrevista:
iG: Quais serão as prioridades da senhora na pasta?
Maria do Rosário: Devemos falar sempre no plural quando falamos em direitos humanos. Isto significa que há vários temas de trabalho e que deverão integrar a secretaria. A pasta é responsável pelo direito à criança, comunidades indígenas, promoção da cidadania. Estes temas todos se integram, a questão dos idosos é também uma questão desta secretaria. O Brasil vive um período diferenciado por uma série de fatores e que deve ser reconhecido cada vez mais o número de pessoas idosas. Portanto, perceber esta mudança demográfica e atender com muita atenção as diferentes populações. Particularmente, todas as pessoas sabem que a Constituição Federal determina prioridade para as crianças e adolescentes brasileiros e que é também nesta área onde bate muito forte o meu coração.
iG: Qual é a opinião da senhora sobre o Plano Nacional de Direitos de Humanos, que sofreu mudanças após pressão da sociedade em cima de pontos polêmicos, como o aborto?
O plano sofreu modificações, há um decreto que regulamenta e nós vamos avaliar, agora na transição, qual o momento de implementação do PNDH-3. Vamos ver esta questão numa reunião, na próxima segunda-feira, com o atual ministro Paulo Vannucchi.
iG: A senhora prefere não se posicionar sobre o aborto?
É que acredito ser uma visão equivocada pensar em um dispositivo, um aspecto, do programa. Precisamos trabalhar as necessidades dos Direitos Humanos como um todo no Brasil.
iG: Qual será a posição e atuação da senhora em relação à comissão de verdade? A senhora se compromete com a divulgação de arquivos da época da ditadura militar?
O movimento do direito e verdade à memória é um movimento que vários países do mundo já vivenciaram de modo muito importante para resgatar a sua História. Acredito que o Brasil também tenha que vivenciar de forma mais profunda. Há elementos em curso para que o Brasil produza um resultado que assegure no plano de Direitos Humanos o direito à verdade e memória. Este é um compromisso de trabalho que a secretaria tem e eu terei para o próximo período referenciado na própria presidenta Dilma, a sua história de vida.
iG: Como a senhora avalia o trabalho de Paulo Vanucchi, atual titular da pasta?
Ele avançou muito, sem dúvida. Sou entusiasta do trabalho dele e ele colocou o ministério em outro patamar.
iG: Dilma declarou que o apedrejamento contra Sakineh era uma coisa bárbara. Qual a opinião da senhora?
Eu concordo com Dilma. Na verdade, ao fazer seu pronunciamento sobre esta mulher, a presidenta se posiciona em sintonia com todas as mulheres do mundo e dá exemplo de que, como chefe do Estado brasileiro, ela será uma defensora em todos os momentos dos direitos humanos no Brasil. É uma situação de violência que mostra como a humanidade ainda precisa avançar para que a data de hoje e a declaração de 1948 seja vivenciada por todas as pessoas ao redor do mundo.
iG: A senhora é a única gaúcha confirmada no ministério de Dilma, até agora. É um privilégio?
Não vou entrar neste mérito,não. Dilma compõe equipe de trabalho com o sentimento de cumprir este projeto pelo qual ela foi eleita.
iG: A senhora já disputou a eleição municipal em Porto Alegre, em 2008. Tem planos para a prefeitura de 2012?
Cada situação é diferente da outra, mas não há dúvidas que a minha prioridade é responder aos desafios que a agenda de Direitos Humanos e a presidenta Dilma me colocou.
Dilma, a vitória da geração que tinha um sonho
Lula e Dilma são o fruto de uma geração que sonhou com um Brasil democrático e socialmente justo
A geração nascida no final dos anos de 40 e início dos anos 50 viveu os acontecimentos políticos e culturais das décadas de sessenta, setenta e oitenta do século passado com muita intensidade. Claro que nem todos, dessa geração, participaram da vida política e cultural do país, muitos não estavam nem aí para o que estava acontecendo, estavam alheios aos fatos, mas, quem participou viveu momentos de muita inquietação, de uma experiência que marcou muito a nossa visão de mundo.
Foi uma geração com uma parte significativa de homens e mulheres engajados nas lutas políticas e culturais do país. Geração que se identificava não só pela idade, mas, e, principalmente, pelas idéias, tendo como objetivo a busca de um mundo melhor. Para isso se concretizar o caminho era exatamente o engajamento nos movimentos políticos e culturais que naquele período pipocavam em todos os recantos do país.
No início dos anos sessenta o mundo vivia os primeiros momentos da Revolução Cubana, os avanços da Revolução Chinesa, a conquista do espaço sideral pelos cosmonautas soviéticos, a luta contra a guerra do Vietnã, contra o colonialismo europeu na África e Ásia e a luta em defesa da autodeterminação dos povos.
No Brasil vivíamos o governo de João Goulart (1961/1964), os avanços democráticos com as mobilizações de massa: operários e camponeses se organizando. Era um novo país que estava sendo construído. Nesse período: os movimentos culturais, políticos, filosóficos e religiosos surgiam em todos os continentes.
As ideias de Bertrand Russel, Sartre, Che, Fidel, Marcuse, Gramsci, Mao Tsé-Tung, Garaudy e a teologia da libertação, através do Concilio Vaticano II sob a benção do Papa João XXIII, empolgava a nossa geração. Era um momento de muita ebulição política que despertava a participação efetiva nas lutas por um mundo plenamente democrático.
Tudo isso foi interrompido bruscamente pelo golpe militar de 1964. Golpe que impôs a sociedade brasileira um regime que acabava com as liberdades democráticas, colocando na ilegalidade os movimentos dos trabalhadores e os partidos progressistas. Essa mesma onda antidemocrática se espalha por toda América Latina, impondo governos fiéis aos interesses de Washington. Foi uma época obscurantista.
Através do Ato Institucional no Nº 5 (1968) e o Decreto Lei 477 (1969), o governo militar fecha o regime e inicia uma violenta repressão aos movimentos oposicionistas, políticos e culturais, levando com isso parte dessa geração para luta armada, para luta clandestina, esse era um dos caminhos de enfrentamento ao horror de um regime que não respeitava os direitos fundamentais do cidadão.
Essa geração foi vitoriosa, mesmo sofrendo toda repressão, em um processo lento e gradual as forças progressista foram avançando até derrotar as forças do atraso.
A presidenta eleita, Dilma Rousseff, é fruto dessa geração, ela nasceu em 14 de dezembro de 1947. Quando do golpe militar de 1964 ela estava com 17 anos, freqüentava o ginásio em Belo Horizonte. Como muitos jovens daquela época, Dilma participava do movimento estudantil, isso era comum, principalmente nos Colégios Estaduais.
Com o endurecimento do regime em 1968 ela, como muitos outros da sua geração, tiveram que lutar na clandestinidade, era a luta subterrânea contra a ditadura militar. Dilma foi presa, torturada e condenada a três anos de reclusão pelo crime de pensar um Brasil diferente. Aqui, muitos jovens engajados nas lutas políticas e nos movimentos culturais também foram presos e torturados, alguns foram assassinados. Era a busca da concretização do ideário socialista: um mundo sem fome, com justiça social, sem preconceitos, com oportunidades iguais para todos. Um sonho possível.
No final do século 20 e início do século 21 a geração que foi a luta nos anos sessenta, setenta e oitenta chega ao poder. Os personagens desse embate se tornam protagonistas de um novo cenário político, uns mantendo a sua utopia, a sua coerência, outros mudando de lado. É essa geração que assume o poder e muda a cara do país.
Luiz Inácio Lula da Silva, líder metalúrgico do ABC Paulista, militante da luta sindical, pertencente a essa geração, preso diversas vezes, torna-se Presidente da República. Lula faz um governo transformador, tirando milhões de brasileiros da miséria e da pobreza, projeta o país no cenário internacional. O Brasil passa a ser uma nação respeitada e ele um líder mundial. Tendo no seu núcleo político a esquerda dos anos de chumbo, aquela que resistiu ao regime militar, mantendo a coerência das idéias.
Dilma Rousseff, mulher de classe média, militante de esquerda, presa política nos anos 70, filha de imigrante búlgaro, se torna a primeira mulher presidenta do Brasil. Lula e Dilma, prova da justeza da nossa causa, fruto de uma geração que sonhou com um Brasil de todos os brasileiros, um país independente, próspero e justo, tornam o sonho de uma geração em realidade, um Brasil democrático e socialmente justo.
Nessa luta muitos tombaram, foram barbaramente assassinatos, muitos, até hoje continuam “desaparecidos”, mas o caminho era esse, como dizia o velho camarada Apolônio de Carvalho, apesar de tudo “vale à pena sonhar” e valeu a pena esse sonho. Hoje, o Brasil está dando certo, prova de que o sonho valeu à pena.
*Antonio Capistrano é ex-reitor da UERN
Postado por Blog do Celso Jardim
A geração nascida no final dos anos de 40 e início dos anos 50 viveu os acontecimentos políticos e culturais das décadas de sessenta, setenta e oitenta do século passado com muita intensidade. Claro que nem todos, dessa geração, participaram da vida política e cultural do país, muitos não estavam nem aí para o que estava acontecendo, estavam alheios aos fatos, mas, quem participou viveu momentos de muita inquietação, de uma experiência que marcou muito a nossa visão de mundo.
Foi uma geração com uma parte significativa de homens e mulheres engajados nas lutas políticas e culturais do país. Geração que se identificava não só pela idade, mas, e, principalmente, pelas idéias, tendo como objetivo a busca de um mundo melhor. Para isso se concretizar o caminho era exatamente o engajamento nos movimentos políticos e culturais que naquele período pipocavam em todos os recantos do país.
No início dos anos sessenta o mundo vivia os primeiros momentos da Revolução Cubana, os avanços da Revolução Chinesa, a conquista do espaço sideral pelos cosmonautas soviéticos, a luta contra a guerra do Vietnã, contra o colonialismo europeu na África e Ásia e a luta em defesa da autodeterminação dos povos.
No Brasil vivíamos o governo de João Goulart (1961/1964), os avanços democráticos com as mobilizações de massa: operários e camponeses se organizando. Era um novo país que estava sendo construído. Nesse período: os movimentos culturais, políticos, filosóficos e religiosos surgiam em todos os continentes.
As ideias de Bertrand Russel, Sartre, Che, Fidel, Marcuse, Gramsci, Mao Tsé-Tung, Garaudy e a teologia da libertação, através do Concilio Vaticano II sob a benção do Papa João XXIII, empolgava a nossa geração. Era um momento de muita ebulição política que despertava a participação efetiva nas lutas por um mundo plenamente democrático.
Tudo isso foi interrompido bruscamente pelo golpe militar de 1964. Golpe que impôs a sociedade brasileira um regime que acabava com as liberdades democráticas, colocando na ilegalidade os movimentos dos trabalhadores e os partidos progressistas. Essa mesma onda antidemocrática se espalha por toda América Latina, impondo governos fiéis aos interesses de Washington. Foi uma época obscurantista.
Através do Ato Institucional no Nº 5 (1968) e o Decreto Lei 477 (1969), o governo militar fecha o regime e inicia uma violenta repressão aos movimentos oposicionistas, políticos e culturais, levando com isso parte dessa geração para luta armada, para luta clandestina, esse era um dos caminhos de enfrentamento ao horror de um regime que não respeitava os direitos fundamentais do cidadão.
Essa geração foi vitoriosa, mesmo sofrendo toda repressão, em um processo lento e gradual as forças progressista foram avançando até derrotar as forças do atraso.
A presidenta eleita, Dilma Rousseff, é fruto dessa geração, ela nasceu em 14 de dezembro de 1947. Quando do golpe militar de 1964 ela estava com 17 anos, freqüentava o ginásio em Belo Horizonte. Como muitos jovens daquela época, Dilma participava do movimento estudantil, isso era comum, principalmente nos Colégios Estaduais.
Com o endurecimento do regime em 1968 ela, como muitos outros da sua geração, tiveram que lutar na clandestinidade, era a luta subterrânea contra a ditadura militar. Dilma foi presa, torturada e condenada a três anos de reclusão pelo crime de pensar um Brasil diferente. Aqui, muitos jovens engajados nas lutas políticas e nos movimentos culturais também foram presos e torturados, alguns foram assassinados. Era a busca da concretização do ideário socialista: um mundo sem fome, com justiça social, sem preconceitos, com oportunidades iguais para todos. Um sonho possível.
No final do século 20 e início do século 21 a geração que foi a luta nos anos sessenta, setenta e oitenta chega ao poder. Os personagens desse embate se tornam protagonistas de um novo cenário político, uns mantendo a sua utopia, a sua coerência, outros mudando de lado. É essa geração que assume o poder e muda a cara do país.
Luiz Inácio Lula da Silva, líder metalúrgico do ABC Paulista, militante da luta sindical, pertencente a essa geração, preso diversas vezes, torna-se Presidente da República. Lula faz um governo transformador, tirando milhões de brasileiros da miséria e da pobreza, projeta o país no cenário internacional. O Brasil passa a ser uma nação respeitada e ele um líder mundial. Tendo no seu núcleo político a esquerda dos anos de chumbo, aquela que resistiu ao regime militar, mantendo a coerência das idéias.
Dilma Rousseff, mulher de classe média, militante de esquerda, presa política nos anos 70, filha de imigrante búlgaro, se torna a primeira mulher presidenta do Brasil. Lula e Dilma, prova da justeza da nossa causa, fruto de uma geração que sonhou com um Brasil de todos os brasileiros, um país independente, próspero e justo, tornam o sonho de uma geração em realidade, um Brasil democrático e socialmente justo.
Nessa luta muitos tombaram, foram barbaramente assassinatos, muitos, até hoje continuam “desaparecidos”, mas o caminho era esse, como dizia o velho camarada Apolônio de Carvalho, apesar de tudo “vale à pena sonhar” e valeu a pena esse sonho. Hoje, o Brasil está dando certo, prova de que o sonho valeu à pena.
*Antonio Capistrano é ex-reitor da UERN
Postado por Blog do Celso Jardim
sábado, 11 de dezembro de 2010
Uma revolução começou — e será digitalizada
Por Heether Brooke*, do The Guardian
A diplomacia sempre incluiu jantares com as elites dominantes, acertos de bastidores e encontros clandestinos. Agora, na era digital, os relatos de todas estas festas e diálogos aristocráticos pode ser reunido numa enorme base de dados. Uma vez recolhidos em formato digital, é muito fácil compartilhá-los.
Na verdade, é para isso que a base de dados Siprnet, de onde os segredos diplomáticos norte- americanos são vazados, foi criada. A comissão governamental criada nos EUA para avaliar a segurança nacional após o 11 de Setembro fez uma descoberta notável: não era o compartilhamento de informações que ameaçava os EUA, mas o não-compartilhamento. A falta de cooperação entre agências governamentais e a retenção de informações por burocratas desperdiçaram muitas oportunidade para bloquear os ataques contra as Torres Gêmeas. Em resposta, a comissão ordenou uma restruturação dos serviços do governo e da inteligência, para que se adaptassem à própria web. A nova prática era de colaboração e compartilhamento de informações. Mas, ao contrário de milhões de membros do governo e empresas terceirizadas, o público não tinha acesso à Siprnet.Porém, os dados têm o hábito de se espalhar. Eles escorregam entre a segurança militar e também podem vazar pelo Wikileaks, o meio pelo qual eu obtive as informações. Eles violaram até os prazos de fechamento do Guardian e de outros jornais envolvidos na divulgação da história, quando um cópia clandestina do semanário alemão Der Spiegel acidentalmente chegou às bancas em Basle, na Suíça, domingo passado. Alguém a comprou, entendeu o que ela continha e começou a escanear as páginas, traduzindo-as do alemão para o inglês e postando no Twitter. Parece que os dados digitalizados não respeitam autoridade alguma, esteja ela no Pentágono, no Wikilieaks ou num editor de jornais.
Cada um de nós já viveu, pessoalmente, as enormes mudanças que vêm com a digitalização. Fatos ou informação que considerávamos efêmeros e privados agora são permanetes, públicos e agregáveis. Se o volume dos atuais vazamentos parece grande, pense nos 500 milhões de usuários do Facebook, ou nos milhões de registros mantidos pelo Google. Os governos mantêm nossos dados pessoais em enormes bases. Era caro obter e distribuir informação. Agora, é caro retê-la.
Mas quando os devassa de dados atinge o público, os governantes parecem não se importar muito. Nossa privacidade é disponível. Não surpreende que a reação aos novos vazamentos seja, agora, diferente. O que transformou, num sentido revolucionário, a dinâmica do poder não é a escala das revelações – mas o fato de que indivíduos podem tornar pública uma cópia de documentos do Estado. Em papel, estes vazamentos equivalem, segundo estimativas do Guardian, a 213.969 paginas A4, que teriam, empilhadas, a altura de 43 quilômetros. Algo impossível de vazar com segurança, na era do papel.
Para alguns, a novidade significa uma crise. Para outros, uma oportunidade. A tecnologia está rompendo as barreiras tradicionais de classe, poder, riqueza e geografia – e substituindo-as por um ethos de colaboração e transparência.
Um ex-embaixador dos Estados Unidos na Rússia, James Collins, disse à CNN que a revelação dos registros pelo Wikileaks “impedirá que as coisas seja feitas de forma normal e civilizada”. Muito frequentemente, “normal” e “civilizado” significa, na linguagem diplomática, fazer vistas grossas para injustiças sociais flagrantes, corrupção e abuso de poder. Depois de ler centenas de documentos, constato que muito dos “danos” que eles provocam é revelação embaraçosa e constrangedora de verdades inconvenientes. Em nome da segurança de uma base militar num dado país, nossos líderes aceitam um ditador brutal que oprime seu povo. Isso pode ser conveniente a curto prazo para os políticos, mas as consequências a longo prazo para os cidadãos do planeta podem ser catastróficas.
Os vazamentos não são o problema, apenas o sintoma. Revelam a desconexão entre aquilo que as pessoas desejam e precisam e o que realmente fazem. Quanto maior o segredo, mais prováveis os vazamentos. O caminho para superá-los é assegurar um mecanismos robustos para acesso público a informação relevante.
Graças à internet, esperamos um nível muito maior de conhecimento e participação, em muitos aspectos de nossas vidas. Mas os políticos resistem resolutamente aos novos tempos. Vêem-se como tutores de um público infantil – que não merece nem a verdade, nem o poder real que o conhecimento oferece.
Muito da revolta governamental sobre os vazamentos não tem a ver com o conteúdo do que é revelado, mas com a audácia de quem rompe o que eram fortalezas invioláveis da autoridade. No passado, confiávamos nas autoridades. Se um governante nos dissesse que algo poderia prejudicar a segurança nacional, tomávamos a afirmação como verdade. Agora,os dados crus por trás desta crença estão se tornando públicos. O que percebemos de vazamentos sobre as despesas de parlamentares, ou a cumplicidade de governos com a tortura, é que quando os políticos falam sobre uma ameaça à “segurança nacional”, referem-se frequentemente à defesa de sua própria posição ameaçada.
Estamos num momento crucial, em que alguns visionários, na vanguarda de uma era digital, enfrentam quem tenta, desesperadamente, controlar o que sabemos. O Wikileaks é o front de guerrilha, num movimento global por maior transparência e participação. Projetos como o Ushahidi usam redes sociais para criar mapas onde os cidadãos podem relatar violências e desafiar a versão oficial dos fatos. Há ativistas empenhados em liberar dados oficiais, para que as pessoas possam ver, por exemplo, os orçamentos públicos em detalhe.
Por ironia, o Departamento de Estado dos EUA foi um dos grandes incentivadores da inovação técnica, como meio para levar a democracia a países como o Irã e a China. O presidente Obama exortou regimes repressores a deixar de censurar a internet. No entanto, uma lei que tramita no Congresso permite ao Procurador-Geral em Washington criar uma “lista suja” de websites. É possível acreditar numa democracia forte apenas para assuntos externos?
Os governantes costumavam controlar os cidadãos por meio do fluxo restrito de informações. Agora, está se tornando impossível vigiar o que a sociedade lê, vê e ouve. A tecnologia permite desafiar coletivamente a autoridade. Os poderosos vigiaram por muito tempo as sociedades, para controlá-las. Agora, os cidadãos estão lançando um olhar coletivo sobre o poder.
É uma revolução, e todas as revoluções geram medos e incertezas. Caminhamos para um Novo Iluminismo da Informação? Ou a revanche daqueles quer querem manter controle a qualquer custo nos levará a um novo totalitarismo? O que ocorrer nos próximos cinco anos definirá o futuro da democracia no próximo século. Por isso, seria ótimo que os nossos líderes respondessem aos desafios de hoje com um olhar sobre o futuro.
–*Heether Brooke é jornalista, escritora e ativista pelo Direito à Informação. Nascida nos Estados Unidos, vive em Londres e colabora com o The Guardian
by: outraspalavras.net
A diplomacia sempre incluiu jantares com as elites dominantes, acertos de bastidores e encontros clandestinos. Agora, na era digital, os relatos de todas estas festas e diálogos aristocráticos pode ser reunido numa enorme base de dados. Uma vez recolhidos em formato digital, é muito fácil compartilhá-los.
Na verdade, é para isso que a base de dados Siprnet, de onde os segredos diplomáticos norte- americanos são vazados, foi criada. A comissão governamental criada nos EUA para avaliar a segurança nacional após o 11 de Setembro fez uma descoberta notável: não era o compartilhamento de informações que ameaçava os EUA, mas o não-compartilhamento. A falta de cooperação entre agências governamentais e a retenção de informações por burocratas desperdiçaram muitas oportunidade para bloquear os ataques contra as Torres Gêmeas. Em resposta, a comissão ordenou uma restruturação dos serviços do governo e da inteligência, para que se adaptassem à própria web. A nova prática era de colaboração e compartilhamento de informações. Mas, ao contrário de milhões de membros do governo e empresas terceirizadas, o público não tinha acesso à Siprnet.Porém, os dados têm o hábito de se espalhar. Eles escorregam entre a segurança militar e também podem vazar pelo Wikileaks, o meio pelo qual eu obtive as informações. Eles violaram até os prazos de fechamento do Guardian e de outros jornais envolvidos na divulgação da história, quando um cópia clandestina do semanário alemão Der Spiegel acidentalmente chegou às bancas em Basle, na Suíça, domingo passado. Alguém a comprou, entendeu o que ela continha e começou a escanear as páginas, traduzindo-as do alemão para o inglês e postando no Twitter. Parece que os dados digitalizados não respeitam autoridade alguma, esteja ela no Pentágono, no Wikilieaks ou num editor de jornais.
Cada um de nós já viveu, pessoalmente, as enormes mudanças que vêm com a digitalização. Fatos ou informação que considerávamos efêmeros e privados agora são permanetes, públicos e agregáveis. Se o volume dos atuais vazamentos parece grande, pense nos 500 milhões de usuários do Facebook, ou nos milhões de registros mantidos pelo Google. Os governos mantêm nossos dados pessoais em enormes bases. Era caro obter e distribuir informação. Agora, é caro retê-la.
Mas quando os devassa de dados atinge o público, os governantes parecem não se importar muito. Nossa privacidade é disponível. Não surpreende que a reação aos novos vazamentos seja, agora, diferente. O que transformou, num sentido revolucionário, a dinâmica do poder não é a escala das revelações – mas o fato de que indivíduos podem tornar pública uma cópia de documentos do Estado. Em papel, estes vazamentos equivalem, segundo estimativas do Guardian, a 213.969 paginas A4, que teriam, empilhadas, a altura de 43 quilômetros. Algo impossível de vazar com segurança, na era do papel.
Para alguns, a novidade significa uma crise. Para outros, uma oportunidade. A tecnologia está rompendo as barreiras tradicionais de classe, poder, riqueza e geografia – e substituindo-as por um ethos de colaboração e transparência.
Um ex-embaixador dos Estados Unidos na Rússia, James Collins, disse à CNN que a revelação dos registros pelo Wikileaks “impedirá que as coisas seja feitas de forma normal e civilizada”. Muito frequentemente, “normal” e “civilizado” significa, na linguagem diplomática, fazer vistas grossas para injustiças sociais flagrantes, corrupção e abuso de poder. Depois de ler centenas de documentos, constato que muito dos “danos” que eles provocam é revelação embaraçosa e constrangedora de verdades inconvenientes. Em nome da segurança de uma base militar num dado país, nossos líderes aceitam um ditador brutal que oprime seu povo. Isso pode ser conveniente a curto prazo para os políticos, mas as consequências a longo prazo para os cidadãos do planeta podem ser catastróficas.
Os vazamentos não são o problema, apenas o sintoma. Revelam a desconexão entre aquilo que as pessoas desejam e precisam e o que realmente fazem. Quanto maior o segredo, mais prováveis os vazamentos. O caminho para superá-los é assegurar um mecanismos robustos para acesso público a informação relevante.
Graças à internet, esperamos um nível muito maior de conhecimento e participação, em muitos aspectos de nossas vidas. Mas os políticos resistem resolutamente aos novos tempos. Vêem-se como tutores de um público infantil – que não merece nem a verdade, nem o poder real que o conhecimento oferece.
Muito da revolta governamental sobre os vazamentos não tem a ver com o conteúdo do que é revelado, mas com a audácia de quem rompe o que eram fortalezas invioláveis da autoridade. No passado, confiávamos nas autoridades. Se um governante nos dissesse que algo poderia prejudicar a segurança nacional, tomávamos a afirmação como verdade. Agora,os dados crus por trás desta crença estão se tornando públicos. O que percebemos de vazamentos sobre as despesas de parlamentares, ou a cumplicidade de governos com a tortura, é que quando os políticos falam sobre uma ameaça à “segurança nacional”, referem-se frequentemente à defesa de sua própria posição ameaçada.
Estamos num momento crucial, em que alguns visionários, na vanguarda de uma era digital, enfrentam quem tenta, desesperadamente, controlar o que sabemos. O Wikileaks é o front de guerrilha, num movimento global por maior transparência e participação. Projetos como o Ushahidi usam redes sociais para criar mapas onde os cidadãos podem relatar violências e desafiar a versão oficial dos fatos. Há ativistas empenhados em liberar dados oficiais, para que as pessoas possam ver, por exemplo, os orçamentos públicos em detalhe.
Por ironia, o Departamento de Estado dos EUA foi um dos grandes incentivadores da inovação técnica, como meio para levar a democracia a países como o Irã e a China. O presidente Obama exortou regimes repressores a deixar de censurar a internet. No entanto, uma lei que tramita no Congresso permite ao Procurador-Geral em Washington criar uma “lista suja” de websites. É possível acreditar numa democracia forte apenas para assuntos externos?
Os governantes costumavam controlar os cidadãos por meio do fluxo restrito de informações. Agora, está se tornando impossível vigiar o que a sociedade lê, vê e ouve. A tecnologia permite desafiar coletivamente a autoridade. Os poderosos vigiaram por muito tempo as sociedades, para controlá-las. Agora, os cidadãos estão lançando um olhar coletivo sobre o poder.
É uma revolução, e todas as revoluções geram medos e incertezas. Caminhamos para um Novo Iluminismo da Informação? Ou a revanche daqueles quer querem manter controle a qualquer custo nos levará a um novo totalitarismo? O que ocorrer nos próximos cinco anos definirá o futuro da democracia no próximo século. Por isso, seria ótimo que os nossos líderes respondessem aos desafios de hoje com um olhar sobre o futuro.
–*Heether Brooke é jornalista, escritora e ativista pelo Direito à Informação. Nascida nos Estados Unidos, vive em Londres e colabora com o The Guardian
by: outraspalavras.net
Falar a VERDADE virou CRIME na sociedade atual, pior: terrorismo!?! Um império em guerra contra a verdade e a liberdade de imprensa
Autoridades estadunidenses não escondem o alívio e a alegria com a prisão do fundador do Wikileaks, o australiano Julian Assange, ocorrida terça-feira (7) em Londres. “É uma boa notícia”, comemorou o secretário de Defesa dos EUA, Roberts Gates, em visita ao Afeganistão, palco de mais uma guerra insana desencadeada pelo império com o apoio das potências europeias.
Por Umberto Martins
O ódio despertado na maior potência capitalista do planeta pelas verdades inconvenientes reveladas pelo Wikileaks lembra o macartismo dos anos 1950, ao mesmo tempo em que sinaliza o avanço político das forças conservadores e de extrema-direita no país. A ex-governadora do Alasca e candidata a vice-presidente pelo Partido Republicano nas últimas eleições presidenciais, Sarah Palin, comparou Assange a Obama Bin Laden. Colunistas como Jonah Goldberg, da National Review, entre outros, apelam ao assassinato puro e simples do jornalista. “Por que Assange não foi estrangulado no seu quarto de hotel anos atrás?”, indagou em artigo reproduzido recentemente numa rede de jornais.por: http://www.vermelho.org.br/
Conheça um pouco a história de Julian Assange (da Wikileaks)
Criei-me numa cidade rural em Queensland onde as pessoas falavam dos seus pensamentos diretamente. Elas desconfiavam do governo como de algo que podia ser corrompido se não fosse vigiado cuidadosamente. Os dias negros de corrupção no governo de Queensland, antes do inquérito Fitzgerald, testemunham o que acontece quando políticos amordaçam os media que informam a verdade.
Estas coisas ficaram em mim. Wikileaks foi criado em torno destes valores centrais. A ideia, concebida na Austrália, era utilizar tecnologias da internet de novas maneiras a fim de relatar a verdade.
Wikileaks cunhou um novo tipo de jornalismo: jornalismo científico. Trabalhamos com outros media para levar notícias às pessoas, assim como para provar que são verdadeiras. O jornalismo científico permite-lhe ler um artigo e então clicar online para ver o documento original em que se baseia. Esse é o modo como pode julgar por si próprio: Será verdadeiro este artigo? Será que o jornalista informou com rigor?
Sociedades democráticas precisam de meios de comunicação fortes e Wikileaks faz parte desses media. Os media ajudam a manter o governo honesto. Wikileaks revelou algumas verdades duras acerca das guerras do Iraque e Afeganistão, e desvendou notícias acerca da corrupção corporativa.
Há quem diga que sou anti-guerra: para que conste, não sou. Por vezes os países precisam ir à guerra e há guerras justas. Mas não há nada mais errado do que um governo mentir ao seu povo acerca daquelas guerras, pedindo então a estes mesmos cidadãos para porem as suas vidas e os seus impostos ao serviço daquelas mentiras. Se uma guerra é justificada, então digam a verdade e o povo decidirá se a apoia.
Se já leu algum dos registros da guerra do Afeganistão ou do Iraque, algum dos telegramas da embaixada dos EUA ou algumas das histórias acerca das coisas que Wikileaks informou, considere quão importante é para todos os media ter capacidade para relatar estas coisas livremente.
Wikileaks não é o único divulgador dos telegramas de embaixadas dos EUA. Outros media, incluindo The Guardian britânico, The New York Times, El Pais na Espanha e Der Spiegel na Alemanha publicaram os mesmos telegramas.
Mas é o Wikileaks, como coordenador destes outros grupos, que tem enfrentado os ataques e acusações mais brutais do governo dos EUA e dos seus acólitos. Fui acusado de traição, embora eu seja australiano e não cidadão dos EUA. Houve dúzias de apelos graves nos EUA para eu ser "removido" pelas forças especiais estadunidenses. Sarah Palin diz que eu deveria ser "perseguido e capturado como Osama bin Laden", um projeto de republicano no Senado dos EUA procura declarar-me uma "ameaça transnacional" e desfazer-se de mim em conformidade. Um conselheiro do gabinete do primeiro-ministro do Canadá apelou na televisão nacional ao meu assassinato. Um blogueiro americano apelou para que o meu filho de 20 anos, aqui na Austrália, fosse sequestrado e espancado por nenhuma outra razão senão a de atingir-me.
E os australianos deveriam observar com nenhum orgulho o deplorável estímulo a estes sentimentos por parte de Julia Gillard e seu governo. Os poderes do governo australiano parecem estar à plena disposição dos EUA quer para cancelar meu passaporte australiano ou espionar e perseguir apoiadores do Wikileaks. O procurador-geral australiano está fazendo de tudo o que pode para ajudar uma investigação estadunidense destinada claramente a enquadrar cidadãos australianos e despachá-los para os EUA.
O primeiro-ministro Gillard e a secretária de Estado Hillary Clinton não tiveram uma palavra de crítica para com as outras organizações de media. Isto acontece porque The Guardian, The New York Times e Der Spiegel são antigos e grandes, ao passo que Wikileaks ainda é jovem e pequeno.
Nós somos os perdedores. O governo Gillard está tentando matar o mensageiro porque não quer que a verdade seja revelada, incluindo informação acerca do seu próprio comportamento diplomático e político.
Terá havido alguma resposta do governo australiano às numerosas ameaças públicas de violência contra mim e outros colaboradores do Wikileaks? Alguém poderia pensar que um primeiro-ministro australiano defendesse os seus cidadãos contra tais coisas, mas houve apenas afirmações de ilegalidade completamente não fundamentadas. O primeiro-ministro e especialmente o procurador-geral pretendem cumprir seus deveres com dignidade e acima da perturbação. Fique tranquilo, aqueles dois pretendem salvar as suas próprias peles. Eles não conseguirão.
Todas as vezes que Wikileaks publica a verdade acerca de abusos cometidos por agências dos EUA, políticos australianos cantam um coro comprovadamente falso com o Departamento de Estado: "Você arriscará vidas! Segurança nacional! Você põe tropas em perigo!" Mas a seguir dizem que não há nada de importante no que Wikileaks publica. Não pode ser ambas as coisas, uma ou outra. Qual é?
Nenhuma delas. Wikileaks tem um histórico de quatro anos de publicação. Durante esse tempo mudamos governos, mas nem uma única pessoa, que se saiba, foi prejudicada. Mas os EUA, com a conivência do governo australiano, mataram milhares de pessoas só nestes últimos meses.
O secretário da Defesa dos EUA, Robert Gates, admitiu numa carta ao congresso estadunidense que nenhumas fontes de inteligência ou métodos sensíveis haviam sido comprometidos pela revelação dos registros de guerra afegãos. O Pentágono declarou que não havia evidência de que as informações do Wikileaks tivessem levado qualquer pessoa a ser prejudicada no Afeganistão. A Otan em Cabul disse à CNN que não podia encontrar uma única pessoa que precisasse de proteger. O Departamento da Defesa australiano disse o mesmo. Nenhuma tropa ou fonte australiana foi prejudicada por qualquer coisa que tivéssemos publicado.
Mas as nossas publicações estavam longe de serem não importantes. Os telegramas diplomáticos dos EUA revelam alguns fatos estarrecedores:
Os EUA pediram aos seus diplomatas para roubar material humano pessoal e informação de responsáveis da ONU e de grupos de direitos humanos, incluindo DNA, impressões digitais, escanerização de íris, números de cartão de crédito, passwords de internet e fotos de identificação, violando tratados internacionais. Presumivelmente, diplomatas australianos na ONU também podem ser atacados.
O rei Abdula da Arábia Saudita pediu que os EUA atacassem o Irã.
Responsáveis na Jordânia e no Bahrain querem que o programa nuclear do Irã seja travado por quaisquer meios disponíveis.
O inquérito do Iraque na Grã-Bretanha foi viciado para proteger "US interests".
A Suécia é um membro encoberto da Otan e a partilha da inteligência dos EUA é resguardada do parlamento.
Os EUA estão agindo de forma agressiva para conseguir que outros países recebam detidos libertados da Baia de Guantánamo. Barack Obama só concordou em encontrar-se com o presidente esloveno se a Eslovênia recebesse um prisioneiro. Ao nosso vizinho do Pacífico, Kiribati, foram oferecidos milhões de dólares para aceitar detidos.
Na sua memorável decisão no caso dos Pentagon Papers, o Supremo Tribunal dos EUA declarou: "só uma imprensa livre e sem restrições pode efetivamente revelar fraude no governo". Hoje, a tempestade vertiginosa em torno do Wikileaks reforça a necessidade de defender o direito de todos os media revelarem a verdade.
* Julian Assange é fundador e editor-chefe do Wikileaks
Fonte: http://www.theaustralian.com.au/
Por Umberto Martins
O ódio despertado na maior potência capitalista do planeta pelas verdades inconvenientes reveladas pelo Wikileaks lembra o macartismo dos anos 1950, ao mesmo tempo em que sinaliza o avanço político das forças conservadores e de extrema-direita no país. A ex-governadora do Alasca e candidata a vice-presidente pelo Partido Republicano nas últimas eleições presidenciais, Sarah Palin, comparou Assange a Obama Bin Laden. Colunistas como Jonah Goldberg, da National Review, entre outros, apelam ao assassinato puro e simples do jornalista. “Por que Assange não foi estrangulado no seu quarto de hotel anos atrás?”, indagou em artigo reproduzido recentemente numa rede de jornais.por: http://www.vermelho.org.br/
Conheça um pouco a história de Julian Assange (da Wikileaks)
Criei-me numa cidade rural em Queensland onde as pessoas falavam dos seus pensamentos diretamente. Elas desconfiavam do governo como de algo que podia ser corrompido se não fosse vigiado cuidadosamente. Os dias negros de corrupção no governo de Queensland, antes do inquérito Fitzgerald, testemunham o que acontece quando políticos amordaçam os media que informam a verdade.
Estas coisas ficaram em mim. Wikileaks foi criado em torno destes valores centrais. A ideia, concebida na Austrália, era utilizar tecnologias da internet de novas maneiras a fim de relatar a verdade.
Wikileaks cunhou um novo tipo de jornalismo: jornalismo científico. Trabalhamos com outros media para levar notícias às pessoas, assim como para provar que são verdadeiras. O jornalismo científico permite-lhe ler um artigo e então clicar online para ver o documento original em que se baseia. Esse é o modo como pode julgar por si próprio: Será verdadeiro este artigo? Será que o jornalista informou com rigor?
Sociedades democráticas precisam de meios de comunicação fortes e Wikileaks faz parte desses media. Os media ajudam a manter o governo honesto. Wikileaks revelou algumas verdades duras acerca das guerras do Iraque e Afeganistão, e desvendou notícias acerca da corrupção corporativa.
Há quem diga que sou anti-guerra: para que conste, não sou. Por vezes os países precisam ir à guerra e há guerras justas. Mas não há nada mais errado do que um governo mentir ao seu povo acerca daquelas guerras, pedindo então a estes mesmos cidadãos para porem as suas vidas e os seus impostos ao serviço daquelas mentiras. Se uma guerra é justificada, então digam a verdade e o povo decidirá se a apoia.
Se já leu algum dos registros da guerra do Afeganistão ou do Iraque, algum dos telegramas da embaixada dos EUA ou algumas das histórias acerca das coisas que Wikileaks informou, considere quão importante é para todos os media ter capacidade para relatar estas coisas livremente.
Wikileaks não é o único divulgador dos telegramas de embaixadas dos EUA. Outros media, incluindo The Guardian britânico, The New York Times, El Pais na Espanha e Der Spiegel na Alemanha publicaram os mesmos telegramas.
Mas é o Wikileaks, como coordenador destes outros grupos, que tem enfrentado os ataques e acusações mais brutais do governo dos EUA e dos seus acólitos. Fui acusado de traição, embora eu seja australiano e não cidadão dos EUA. Houve dúzias de apelos graves nos EUA para eu ser "removido" pelas forças especiais estadunidenses. Sarah Palin diz que eu deveria ser "perseguido e capturado como Osama bin Laden", um projeto de republicano no Senado dos EUA procura declarar-me uma "ameaça transnacional" e desfazer-se de mim em conformidade. Um conselheiro do gabinete do primeiro-ministro do Canadá apelou na televisão nacional ao meu assassinato. Um blogueiro americano apelou para que o meu filho de 20 anos, aqui na Austrália, fosse sequestrado e espancado por nenhuma outra razão senão a de atingir-me.
E os australianos deveriam observar com nenhum orgulho o deplorável estímulo a estes sentimentos por parte de Julia Gillard e seu governo. Os poderes do governo australiano parecem estar à plena disposição dos EUA quer para cancelar meu passaporte australiano ou espionar e perseguir apoiadores do Wikileaks. O procurador-geral australiano está fazendo de tudo o que pode para ajudar uma investigação estadunidense destinada claramente a enquadrar cidadãos australianos e despachá-los para os EUA.
O primeiro-ministro Gillard e a secretária de Estado Hillary Clinton não tiveram uma palavra de crítica para com as outras organizações de media. Isto acontece porque The Guardian, The New York Times e Der Spiegel são antigos e grandes, ao passo que Wikileaks ainda é jovem e pequeno.
Nós somos os perdedores. O governo Gillard está tentando matar o mensageiro porque não quer que a verdade seja revelada, incluindo informação acerca do seu próprio comportamento diplomático e político.
Terá havido alguma resposta do governo australiano às numerosas ameaças públicas de violência contra mim e outros colaboradores do Wikileaks? Alguém poderia pensar que um primeiro-ministro australiano defendesse os seus cidadãos contra tais coisas, mas houve apenas afirmações de ilegalidade completamente não fundamentadas. O primeiro-ministro e especialmente o procurador-geral pretendem cumprir seus deveres com dignidade e acima da perturbação. Fique tranquilo, aqueles dois pretendem salvar as suas próprias peles. Eles não conseguirão.
Todas as vezes que Wikileaks publica a verdade acerca de abusos cometidos por agências dos EUA, políticos australianos cantam um coro comprovadamente falso com o Departamento de Estado: "Você arriscará vidas! Segurança nacional! Você põe tropas em perigo!" Mas a seguir dizem que não há nada de importante no que Wikileaks publica. Não pode ser ambas as coisas, uma ou outra. Qual é?
Nenhuma delas. Wikileaks tem um histórico de quatro anos de publicação. Durante esse tempo mudamos governos, mas nem uma única pessoa, que se saiba, foi prejudicada. Mas os EUA, com a conivência do governo australiano, mataram milhares de pessoas só nestes últimos meses.
O secretário da Defesa dos EUA, Robert Gates, admitiu numa carta ao congresso estadunidense que nenhumas fontes de inteligência ou métodos sensíveis haviam sido comprometidos pela revelação dos registros de guerra afegãos. O Pentágono declarou que não havia evidência de que as informações do Wikileaks tivessem levado qualquer pessoa a ser prejudicada no Afeganistão. A Otan em Cabul disse à CNN que não podia encontrar uma única pessoa que precisasse de proteger. O Departamento da Defesa australiano disse o mesmo. Nenhuma tropa ou fonte australiana foi prejudicada por qualquer coisa que tivéssemos publicado.
Mas as nossas publicações estavam longe de serem não importantes. Os telegramas diplomáticos dos EUA revelam alguns fatos estarrecedores:
Os EUA pediram aos seus diplomatas para roubar material humano pessoal e informação de responsáveis da ONU e de grupos de direitos humanos, incluindo DNA, impressões digitais, escanerização de íris, números de cartão de crédito, passwords de internet e fotos de identificação, violando tratados internacionais. Presumivelmente, diplomatas australianos na ONU também podem ser atacados.
O rei Abdula da Arábia Saudita pediu que os EUA atacassem o Irã.
Responsáveis na Jordânia e no Bahrain querem que o programa nuclear do Irã seja travado por quaisquer meios disponíveis.
O inquérito do Iraque na Grã-Bretanha foi viciado para proteger "US interests".
A Suécia é um membro encoberto da Otan e a partilha da inteligência dos EUA é resguardada do parlamento.
Os EUA estão agindo de forma agressiva para conseguir que outros países recebam detidos libertados da Baia de Guantánamo. Barack Obama só concordou em encontrar-se com o presidente esloveno se a Eslovênia recebesse um prisioneiro. Ao nosso vizinho do Pacífico, Kiribati, foram oferecidos milhões de dólares para aceitar detidos.
Na sua memorável decisão no caso dos Pentagon Papers, o Supremo Tribunal dos EUA declarou: "só uma imprensa livre e sem restrições pode efetivamente revelar fraude no governo". Hoje, a tempestade vertiginosa em torno do Wikileaks reforça a necessidade de defender o direito de todos os media revelarem a verdade.
* Julian Assange é fundador e editor-chefe do Wikileaks
Fonte: http://www.theaustralian.com.au/
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