A Associação Nacional da Educação está convocando um dia nacional de ação nos Estados Unidos, para 4 de abril, contra as políticas privatizantes de governos estaduais e locais conservadores que estão retirando direitos de professores, bombeiros e outras categorias de servidores públicos. Os professores e os funcionários públicos foram escolhidos como alvos preferenciais, porque são os grupos menos organizados de toda a vasta oposição à agenda das grandes corporações e da imprensa-empresa. Foram selecionados como alvos preferenciais porque ainda guardam os últimos vestígios de uma América conscientizada e politizada. O artigo é de Amy Dean.
Michigan? Ohio? Indiana? Ante os inaceitáveis ataques do governador Republicano Scott Walker contra os trabalhadores do setor público em Wisconsin, muitos norte-americanos perguntam-se qual será o próximo estado dos EUA a ser atacado. Mas, se se examinam esses ataques por governos locais ultraconservadores, como batalhas separadas, corre-se o risco de não ver o todo.
Quem examina o quadro geral vê que os mais recentes golpes da extrema direita dos EUA no plano estadual são parte de uma estratégia coordenada. Somados, os vários ataques contra os cidadãos norte-americanos no plano estadual compõem um movimento nacional.
A estratégia dos governadores conservadores é atribuir toda a responsabilidade pelos complexos problemas econômicos em que os EUA estão mergulhados a três bodes expiatórios: aos professores, aos imigrantes ou aos funcionários públicos.
A mesma tática ‘dos bodes expiatórios’ aparece e reaparece sempre, por uma razão: garante aos políticos e à imprensa-empresa uma saída fácil. Em vez de ter de enfrentar a substância real de suas respectivas agendas, os políticos conservadores e a imprensa-empresa podem contar história simples, sempre com vilão simples – e o vilão nunca é nem os políticos conservadores, nem a imprensa-empresa nem suas respectivas agendas.
Num momento em que os EUA enfrentam dificuldades tão terríveis, políticos e imprensa-empresa escolhem um determinado grupo para culpar por todas as dificuldades.
Apesar de essa estratégia ser sempre a mesma em todos os estados governados por políticos conservadores, ela é hoje mais ridícula do que nunca. Os problemas econômicos que os EUA enfrentam hoje são terrivelmente complexos. Vivemos em economia global, na qual as fronteiras nacionais que, antes, protegiam a indústria norte-americana já não existem; e os mercados são afetados por decisões econômicas e políticas que se tomam em todo o planeta. Pois mesmo assim, os conservadores norte-americanos insistem em suas soluções simplórias: a culpa por todas as desgraças que assolam os EUA é dos professores, dos imigrantes e dos funcionários públicos.
Escondida por trás dessa premissa absurda, a direita organizou seu ataque. Tentam, em todas as câmaras legislativas estaduais aprovar um conjunto de leis que nada têm com gerar empregos ou fortalecer a economia dos EUA. Em todos os casos, são leis que visam a minar a capacidade dos grupos sociais para organizarem-se coletivamente e influenciar politicamente o resultado das eleições.
Os professores e os funcionários públicos foram escolhidos como alvos preferenciais, porque são os grupos menos organizados de toda a vasta oposição à agenda das grandes corporações e da imprensa-empresa. Foram selecionados como alvos preferenciais porque ainda guardam os últimos vestígios de uma América conscientizada e politizada.
Observadas de longe, as leis que estão sendo votadas em vários estados parecem variadas e diferentes. Mas se se as examinam mais de perto, vê-se que todas são iniciativas de grupos conservadores e podem ser classificadas em três grandes grupos. Essa estratégia de três braços é a estratégia nacional dos grupos conservadores e é por isso que o que parece história estadual é, de fato, nos EUA, uma estratégia nacional.
Primeiro, ao acusar os professores de “trabalhar pouco” e de terem “salários inaceitavelmente altos”, os conservadores trabalham para desmantelar a educação pública. Se se eliminam os direitos de os professores negociarem com o Estado como sindicato e de participar da organização das escolas – como fizeram em Wisconsin –, estamos ante o primeiro passo rumo ao fim da educação pública: limparam o caminho para andarem rumo à educação totalmente privatizada e desmontaram a oposição à privatização total da educação nos EUA.
O esforço, dos conservadores na Flórida, de por fim à estabilidade dos professores é parte desse mesmo processo. Assim também, a legislação que está para ser aprovada na Pennsylvania que criará um programa de gastos que tira ainda mais recursos da educação pública. Como se não bastasse, todos esses movimentos surgem no momento em que se implementam nacionalmente “orçamentos de austeridade” para as escolas públicas. Esses movimentos estão em andamento em vários estados dos EUA – inclusive no Kansas, onde o governador Republicano Sam Brownback está retirando mais de 50 milhões de dólares do orçamento público para educação.
Em segundo lugar, em nome de ‘equilibrar’ os orçamentos estaduais, os governadores conservadores procuram minar a capacidade de o setor público prover serviços sociais essenciais. Já há décadas, sucessivos governos conservadores tentam matar de fome o Estado, numa política que chamam de “matar a besta que nos devora”. Atacam os servidores públicos, de modo a entregar os serviços públicos a empresas privadas, para que sejam administrados como empresa e gerem lucros.
John Kasich, governador republicano de Ohio, quer aprovar um orçamento que privatizará todas as prisões. Em Michigan, o governador quer privatizar todos os serviços de apoio às escolas públicas. Na Georgia, a câmara estadual de deputados quer criar uma comissão que examinará todas as agências estaduais, para determinar quais já estariam ‘no ponto’ de ser privatizadas. Em cada um desses casos, o primeiro passo é enfraquecer a representação política e legal dos servidores públicos e fortalecer a posição econômico-financeira e legal das grandes empresas potencialmente compradoras.
Além disso, os conservadores trabalham também para calar a voz política dos imigrantes nos EUA. Apesar de não haver qualquer prova de que algum dia tenha havido votos ilegais de cidadãos irregulares nos EUA, os Republicanos de New Hampshire já apresentaram e trabalham para aprovar uma lei que está sendo chamada de “lei do eleitor nativo” [ing. “Voter I.D. Bill”]. A lei visa a criar novas barreiras à manifestação política dos cidadãos pelo voto e desestimular eleitores registrados a que compareçam a eleições. Infelizmente, a mesma lei já está sendo discutida em várias câmaras estaduais, entre as quais Colorado, Kansas, Massachusetts, Missouri, Tennessee e outros[2].
Cada um desses três braços do ataque dos Republicanos contra a democracia nos EUA é pensado para paralisar um determinado bode expiatório. Nenhuma dessas leis tem qualquer coisa a ver com os verdadeiros gravíssimos problemas contra os quais se debatem os cidadãos nos EUA.
É perfeitamente evidente e claro que essas propostas de lei nada fazem para resolver os verdadeiros problemas. Mas a situação é ainda mais grave, se se presta atenção ao impressionante silêncio do outro lado – silêncio dos políticos, dos líderes políticos, dos governantes eleitos para mudar os EUA e da imprensa-empresa, que têm o dever de se manifestar contra a política de atacar os bodes expiatórios selecionados e não atacar as causas reais dos problemas reais que atormentam os EUA.
A paisagem política nos EUA é desesperante: um lado simplificou drasticamente o sofrimento pelo qual os cidadãos dos EUA estão passando, para implantar sua agenda criminosa. O outro lado lado não sabe, sequer, o que dizer ou o que apresentar como contra-argumento.
Assim sendo, temos de agir nós mesmos, os cidadãos.
Todos os norte-americanos preocupados, desgostosos, ofendidos, que se sintam traídos e revoltados, temos de nos levantar. Por todo o país, também, felizmente, já brotam campanhas de cidadãos: de “De pé, Ohio” [ing. “Stand Up Ohio”; ver “Manifestação por mais empregos e comunidades mais fortes em Akron, Ohio”, 15/3/2011, em ] a “Esse não é o meu Wiscosin!”.
Cada um de nós tem de unir-se a essas campanhas no plano local, de cada comunidade, ou a campanhas nacionais – como “Unidos somos fortes. Estamos em todos os lugares” [ing. “We are one. We are everywhere.”], que está convocando um dia nacional de ação, para o próximo 4 de abril, uma segunda-feira.
Não importa que grupo os conservadores estejam atacando em cada estado dos EUA. Não importa o que façam para mascarar sua verdadeira agenda. Não podemos permitir que continue a privatização de direitos e bens que foram construídos por todos e que são patrimônio de todos.
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