Caros amigos. Não compreendi e muito menos entendi a intenção do Ex-reitor e professor Wilmar Marçal ao escrever um texto criticando a postura dos estudantes da USP. O texto que foi publicado em um jornal no dia de ontem 09/11 faz uma reflexão do movimento estudantil e duras criticas aos universitários atuais.
Pois bem, eu até entendo que muitos não concordem com a ocupação da USP e que compartilhem com a postura da policia ao usar ¨da força física necessária¨, para a reintegração de posse.
Eu particularmente fico do lado dos estudantes e condeno veementemente os abusos cometidos por parte da policia, pois acho que toda forma de manifestação precisa e deve ser respeitada, pois vivemos num estado democrático de direitos e ninguém deve ser agredido por expressar este direito, pois bem, é uma questão de opinião.
A ocupação da USP é um fato muito fresco e vem despertando muitas duvidas, pois envolve temas como ¨descriminalização do uso da maconha¨, ideologias políticas e o descontentamento com a estrutura universitária atual. Também chama a atenção sobre o sucateamento em que vive o ensino publico no nosso pais.
É evidente, que muitas pessoas, seguimentos e organizações, sejam elas do movimento estudantil ou não, querem debater sobre isso. É natural, que esses mesmos grupos, procurem instrumentos adequados para fazer este debate. Isto sempre aconteceu e acontece até os dias de hoje. Sejam quais forem os meios, é preciso haver o debate e nem todos (como também é natural) serão unânimes nisso.
Eu até entendo que exista ¨falsas leituras sobre a democracia, preconceitos de alguns colegas cientistas sociais sobre o ensino de sociologia e também que haja falsas leituras sobre o curso de ciências sociais¨. Parafraseando algumas palavras de uma ex-professora de minha graduação.
Mais creio que foi um desrespeito (e porque não dizer um tanto quanto preconceituosas) as criticas feitas por parte do Sr. Wilmar Marçal.
Só para enumerar alguns pontos: é uma inverdade quando o nobre professor diz que alunos ¨adentram nos cursos considerados fáceis por pouca procura, sobretudo nas Ciências Humanas vivem uma graduação, depois uma pós-graduação e mais adiante outra graduação¨.
Ora primeiro ponto: nenhuma graduação é melhor ou mais difícil que o outra, todos nós sabemos, que isso depende das condições e disposição de cada aluno para faze-la, e não é porque o curso tem pouca procura que ele seja fácil.
Dentro das ciências sociais no meu tempo de graduação por exemplo, tive disciplinas como, sociologia, Antropologia, Ciências Políticas, filosofia, economia, geografia, estatística, entre tantas outras. Matérias estas de extrema complexidade, para qualquer aluno, independente se estejam interessado ou não.
Não é porque a graduação tenha pouca procura, que ela necessariamente seja menos complexa ou menos importante que as outras graduações. Quanto a permanência de alunos na universidade seja na pós-graduação ou fazendo outra graduação, até onde eu sei isso é permitido pela lei, e se é permitido pela lei, ele automaticamente tem direito as benesses que a universidade publica proporciona, independente do curso em que ele esteja.
Se o senhor Wilmar discorda, é necessário que ele utilize dos meios legais dentro da universidade, para debater e não atiçar o ódio e o preconceito da sociedade contra ¨certos grupos da universidade¨ de forma superficial e sem debate prévio sobre o assunto.
Outra afirmação que me chamou a atenção foi a de que os estudantes:
(...)¨Fazem festas para comemorar o nada e o inútil, fumam maconha por quase todo o campus e deixam o cabelo e barba crescerem para homogeneizar o fenótipo de guerrilheiros. Desafiam as leis, alegando perseguição da polícia e exigindo liberdade à contravenção. Em nada produzem ao País. Não são capazes de criar algo que melhore a vida do homem. Não possuem capacidade e até mesmo vontade para inovar com qualquer tecnologia ou aprendizado. São hematófagos, mal cheirosos e arrogantes. Em média possuem 30 anos de idade, homens e mulheres, o que certamente nos leva a questionar quem são, de fato, esses encapuzados? (,,,)
Vamos por partes:
1- Até onde se sabe, as festas dos alunos na universidade (as famosas corvejadas) estão terminantemente proibidas, desde a gestão da senhora Lygia Pupatto, portanto se os alunos fazem algum tipo de festa para ¨comemorar o nada e o inútil¨ eles o fazem fora do ambiente do campus, ou seja, já entramos num campo privado, ou seja, eles tem direito de fazer festas onde eles quiserem, desde que não atrapalhem o ambiente alheio, assim sendo o senhor enquanto professor da universidade Estadual de Londrina, não tem condições de opinar ou criticar a onde os alunos fazem festa e o que eles fazem na festa. Pois se trata de um ambiente privado. Assim devo concluir que sua opinião é de caráter subjetivo e não tem relevância suficiente para criminalisar este tipo de ato.
2- quanto ao uso de maconha no campus é algo que precisa ser melhor discutido, dentro da própria universidade de forma civilizada, e espero que os fatos ocorridos na USP não se repitam na UEL, e desde já lanço o desafio ao senhor de começar este debate, já que o tal ato de fumar maconha o incomoda tanto. Já no que tange a aparência, dos alunos mencionadas pelo senhor, devo dizer que isso pode ser caracterizado como uma forma de preconceito e rotulo, não se pode julgar uma pessoa, simplesmente porque tenha barba ou cabelo grande.
E mesmo assim qual é o fundamento moral e jurídico que o senhor tem para criticar a aparência dos alunos. Já que a constituição federal em seu capitulo V Parágrafo X diz:
(...) são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação; (...)
Ou seja, o senhor acaba de desrespeitar um direito fundamental do homem, que é o de apresentar da maneira que ele desejar.
3- Quanto ao fato de os alunos de ciências humanas não produzirem nada, creio que o senhor realmente tenha uma profunda carência de informações sobre o curso. Temos intelectuais brilhantes que ajudaram e ajudam o nosso país em muitos aspectos.
Só para citar alguns exemplos: o professor Florestan Fernandes (que inclusive foi deputado constituinte), o professor e Ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (que também participou da constituinte), a professora de Filosofia e ex-secretaria de cultura de São Paulo Marilena Chauí, o professor e critico Literário Antonio Candido, entre tantos outros.
Alem é claro dos brilhantes intelectuais da sua própria universidade, que creio eu o senhor como ex-reitor conhece ou deveria conhecer.
4- Quanto aos termos ¨hematófagos¨ , ¨mal-cheirosos¨ e ¨arrogantes¨ utilizados pelo senhor em seu artigo, só demonstra claramente a intolerância e o desrespeito que o senhor tem em relação as outras pessoas, indignas de um professor universitário, manchando assim o nome de uma instituição publica que é a nossa UEL, e de um alguém que vem pretendendo ocupar um cargo publico em nosso parlamento.
Concluo dizendo que, no que tange aos fatos ocorridos na USP esta semana, o senhor tem todo o direito de criticar e debater, mais só no que tange as questões legais, mais é inadmissível usar tais fatos, para estigmatizar ou desqualificar, pessoas, coletivos e principalmente classes profissionais. Isso demonstra uma profunda falta de ética e anti-profissionalismo.
Almir Escatambulo
Cientista Social e Secretario Geral do CDH de Londrina